The Boys parte de um princípio sarcástico para retratar mundo dos super-heróis

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The Boys está disponível na Amazon Prime Video. Confira crítica!

Bilhões em bilheterias, milhares de telespectadores em cada estreia, os maiores astros de Hollywood. Os blockbusters de filmes de super-heróis ganharam uma repercussão que, tantas outras fatias do audiovisual mundial, só sonham. Em um momento em que a indústria do entretenimento tem uma aposta de sucesso tão certa, a chegada de uma produção que critica um ponto de vista defendida por esses enredos, como The Boys, é mais do que bem-vinda.

The Boys é a mais nova produção da Amazon — em parceria com os estúdios Sony — para o streaming do Prime Video. Com grandes nomes por trás da empreitada (como Seth Rogen, Eric Kripke e Evan Goldberg), a história é uma versão da realidade atual em que os super-heróis nada mais são do que charlatões criminosos e desonestos que usam os poderes para ganhar dinheiro e fama em um esquema de marketing que não respeita a vida de ninguém.

O enredo parte do tímido e introvertido Hughie (Jack Quaid, filho de um dos maiores casais de Hollywood, Dennis Quaid e Meg Ryan). O personagem é apaixonado pela namorada Robin (Jessica Salgueiro) e sonha com um futuro em paz ao lado da amada. Entretanto, tudo acaba quando a garota é “atropelada” pelo super-herói A-Train (Jessie T. Usher) e se torna um balão de sangue explodido na cara da Hughie.

Na imprensa, a história contada por A-Train é emocionante: a garota tropeçou na pista e levou uma trombada fatal com o homem super-rápido. Mas Hughie sabe que isso não é verdade, é que A-Train matou Robin sem um pingo de remorso e nem se deu ao trabalho de prestar ajuda. Como se a vida da garota fosse só um “inseto no para-brisa” (como o próprio A-Train admite posteriormente).

A partir disso é a vez de Butcher (Karl Urban) entrar em cena. O cara com ar de valentão é uma espécie de mercenário que sabe muito bem do que esses super-heróis são capazes e está disposto a derrubar, agora ao lado de Hughie, os Seven (o maior grupo de super-heróis do mundo).

Os Seven

O grupo à lá Liga da Justiça nada mais é do que um conglomerado empresarial chamado Vought International, que acima de tudo, é voraz por dinheiro. A ideia do negócio é simples: os governos, ou a sociedade organizada, pagam (muito caro) pelos serviços dos super-heróis, que por sua vez, mantém a paz e a segurança. Com uma soma de filmes, propagandas e merchandising, os lucros da Vought beiram a estratosfera e só podem ser freados pelas personalidades inócuas dos próprios super-heróis.

A-Train, o super-rápido, é um jovem mimado e sem a noção do certo e do errado, que só quer se divertir e ter dinheiro. Queen Maeve (Dominique McElligott), que tem super-força, é fria e sem grandes emoções, além da busca pela excelência no trabalho. Black Noir (Nathan Mitchell) sabe muito de luta, enquanto é o mais capitalista e ambicioso. Translucent (Alex Hassell) pode ficar invisível, e usa tal poder para ficar no banheiro feminino. Deep (Chace Crawford, o eterno ex-Gossip girl) é o Deus das Águas, assim como um machista e assediador sexual. A cereja no topo do bolo, contudo, é Homelander (Antony Starr), o líder faz todo o estilo Super-Homem, mas na verdade é um assassino impiedoso, que é obcecado por Madelyn (Elisabeth Shue), uma CEO da Vought.

A sétima integrante do grupo, entretanto, é bem diferente dos mau-caráteres originais. Starlight (Erin Moriarty) é uma jovem do interior que acabou de entrar para o grupo e descobre a contragosto que o sonho de ajudar as pessoas do mundo por meio dos Seven é uma grande mentira publicitária.

A odisseia de Hughie

Uma das grandes propostas da série é apresentar um “amadurecimento” da força do protagonista. Hughie nunca buscou nada na vida, mas depois da morte do único amor, o mocinho entrará em um grupo disfuncional, os The Boys (que só é mais explorado a partir do segundo episódio), que poderia ser encarada como super-vilões, mas que na verdade só quer salvar o mundo dos super-heróis loucos por dinheiro e fama.

O enredo de The Boys não é preguiçoso e abre espaço para vários personagens apresentarem as camadas que os fazem tão interessantes. Tem espaço para surpresas, leves risadas, é acima de tudo: cenas absurdamente violentas, mas necessárias.

Esse é um detalhe importante: muito sangue, mortes horríveis e cenas de ação fazem parte da base da produção (para maiores de 18 anos), que tem aquela atmosfera ao melhor estilo de Quentin Tarantino. Mas também não é nada gratuito, pelo contrário: até as cenas mais pesadas fazem parte de um mosaico, que, pelo menos nos primeiros episódios, é muito bem construído.

Vale citar a grande aura de The Boys: o sarcasmo perante a figura quase intocável do super-herói e o quanto tal “figura” é usada exclusivamente para o lucro — e não tanto para o bem — ou a fantasia — da população. Com certeza uma série que merece atenção e recompensa o público com um satisfatório conteúdo.

Ronayre Nunes

Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). No Correio Braziliense desde 2016. Entusiasta de entretenimento e ciências.

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