Desbancando produções de peso como Hacks e The flight attendant, a série da Apple TV+, Ted Lasso foi coroada como a melhor série de comédia pela edição 2021 do Emmy. O título, claro, tem grande peso, e de uma forma pouco comum, soma-se a popularidade da produção: a receita perfeita de um grande hit.
Tudo isso, contudo, está agora relacionado ao passado, à primeira temporada da série. O grande desafio de Ted Lasso neste momento é se manter “no topo” com um segundo ano tão digno quanto a fase de estreia. Felizmente, em 12 novos episódios, o feito foi alcançado.
Em parâmetros gerais, Ted Lasso ainda guarda muito do estilo “Sessão da Tarde” que o Próximo Capítulo já tinha destrinchado no review da estreia da série. São piadinhas de família, uma comédia mais amigável, nada agressiva, ou excessivamente adulto (no estilo do que a maioria das outras comédias ganhadoras de prêmios, especialmente o Emmy, apostam).
A receita, contudo, não cozinha algo infantil, ou supérfluo (pelo menos não na maioria dos episódios). Ted Lasso tem uma tema principal, um objetivo claro: a ode ao otimismo.
Quem se encarrega de dar vida a esse trabalho é o protagonista Ted Lasso (Jason Sudeikis). A novidade agora (e até uma surpresa) é que na segunda temporada, todo o otimismo do treinador de um time de futebol britânico é encarado como uma dicotomia perante as vulnerabilidades do homem.
Sofrendo de crises de pânico, Lasso tem de enfrentar o doloroso passado, que vai além do divorcio que vive atualmente. O pai do homem cometeu suicido durante a adolescência, e mesmo anos depois, o treinador não conseguiu superar a tristeza do trauma — mesmo, ironicamente, personificando a felicidade e autoestima.
O lugar de cada personagem
Quem ajuda a desenterrar (e enterrar novamente) o passado de Lasso é uma nova personagem: a Dra. Sharon (Sarah Niles). A mulher chega logo no começo da segunda temporada como a nova terapeuta do time, e não cede aos “encantos” do treinador. Sharon tem uma visão clara: Lasso só evolui se encarar as vulnerabilidades.
Além da personagem estreante, Ted Lasso também brilha neste segundo ano ao saber dar o destaque correto para outras figuras do time, que vão além de serem simples “coadjuvantes”. Em Beard after hours, o nono episódio desta temporada, Ted — e quase todo o elenco — saem de cena para que os problemas do Coach Beard (Brendan Hunt) pudessem ser explorados.
Sam Obisanya (Toheeb Jimoh) é outro que sai das sombras de ser “apenas um jogador” para ganhar bem mais destaque na série, e com razão, já que como o novo par romântico de Rebecca (Hannah Waddingham) abre novas portas para a mulher, que se mostra mais do que “a vingativa” que prometeu ser na temporada de estreia de Ted Lasso — mais ou menos o que ocorreu com o “machão” Roy Kent (Brett Goldstein), que agora ganhou uma família e mais camadas.
Por fim, talvez o personagem que mais mudou tenha sido Nathan (Nick Mohammed). Até então indefeso e apenas um aprendiz, agora o homem se tornou uma figura até então inédita em Ted Lasso: o grande vilão. De certa forma, essa mudança até foi explicada (tanto nas cenas de Nathan com o pai, quanto nas cenas em que ele tem de lidar com bullying on-line).
Todavia, o título de vilão do personagem acabou soando como um pouco forçado, um pouco… duvidoso.
De qualquer forma, o novo Nathan não é nada que tenha atrapalhado o feito claro da segunda temporada de Ted Lasso: apresentar uma história estruturada, com um tom cômico próprio, e que definitivamente merece mais prêmios ano que vem.
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