A comunicação é a grande chave da sociedade atualmente. Vivemos uma era em que queremos falar sobre tudo e de todos. Mas quantos de nós estamos dispostos a ouvir? E não só a ouvir o outro. Quando paramos para nos ouvir, para nos conhecermos melhor, para entender primeiro e respeitar depois as necessidades dos nossos próprios corpos e almas?
Como quem não quer nada, a série nacional Lov3 chega nesta sexta-feira ao catálogo da Amazon Prime Video para discutir, principalmente, essas questões. Mas a produção, que tem roteiro de Felipe Braga e Rita Moraes e direção de Mariana Youssef, Gustavo Bonafé e Felipe Braga, está longe de ser uma sessão de terapia maçante ou uma série daquelas “cabeça”, convidativas a uma esticada no sofá da sala.
Lov3 segue o caminho estranho e delicioso da leveza para nos conduzir a essas discussões. Somos de cara apresentados à família em torno da qual gira a ação: os pais em pé de guerra e da separação depois de 30 anos, Baby (Cris Couto, ótima em cena) e Fausto (Donizeti Mazonas), e os filhos, Ana (Elen Clarice) e os gêmeos Sofia (Bella Camero) e Beto (João Oliveira). À primeira vista, nos chama a atenção a falta de conexão entre eles. Estão todos juntos, mas separados, não há liga. O público pensa que saca de cara as relações problemáticas ali entre Baby e Ana, entre Sofia e Beto ou na solidão de Fausto, por exemplo.
Mas nada é tão na cara assim em Lov3. A série é de sutilezas, esclarecidas aos poucos em texto, gestos, olhares, num ritmo às vezes corrido demais, talvez para fisgar a audiência jovem. Isso fica longe de comprometer o alcance da complexidade da questão, diga-se. Aos poucos, vamos percebendo as semelhanças. Estão todos em busca de um caminho próprio e morrem de medo de perceber o óbvio: esses rios vão desembocar no mesmo mar.
Esse caminho próprio, muitas vezes, passa por uma crise de identidade que pode levar Sofia a querer ser o quarto elemento de um trisal, Ana a rediscutir o formato de sua relação e abrir o casamento com Artur (Drayson Menezzes) e Beto a sair do mundo de pegação dos aplicativos de relacionamentos gays e encarar um namoro.
No início, o foco está no outro, aos poucos, ele se volta ao trio. A entrega de Elen Clarice, Bella Camero e João Oliveira é notável não só pela quantidade de cenas de sexo (bem dirigidas, por sinal), mas pela transformação dos personagens durante a série. Nem sempre é fácil que, em seis episódios, consigamos perceber isso. É interessante também notar que Lov3 não traz um final fechado para os personagens (segunda temporada à vista?), o que deixa claro que a vida é cíclica e tudo bem que seja assim.
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