Ricos de amor e Todas as mulheres do mundo retratam paixões em meio a narrativas leves

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Sucesso entre o público no streaming, as comédias românticas são opção em meio à pandemia. No Brasil, o estilo vem forte com Ricos de amor e Todas as mulheres do mundo

Por Adriana Izel e Vinicius Nader

As comédias românticas tiveram seu auge nos anos 2000 no mundo cinematográfico. Nos últimos anos, o gênero voltou a se destacar, graças à abertura que teve no streaming. A Netflix foi uma das responsáveis pelo novo período de efervescência do estilo. Num momento de incertezas devido à pandemia do novo coronavírus, com o excesso de notícias ruins e o espectador mais tempo em casa, as tramas românticas se tornaram opção do público para desanuviar. Coincidência ou não, duas produções brasileiras do gênero estrearam no on-demand com essa proposta: Ricos de amor, na Netflix, e Todas as mulheres do mundo, no Globoplay.

Ricos de amor estrear agora é fundamental por causa disso. As pessoas estão vivendo um momento muito difícil, complicado e pesado. Esse é um filme com leveza e muito humor, que vai trazer isso para as pessoas de casa. A cultura serve para fazer pensar e entreter. Esse filme funciona das duas formas. Mesmo nesse momento em que a arte está sendo sucateada e descredibilizada pelo governo, ela se mostra fundamental para a sobrevivência. A gente vê a sociedade pedindo e consumindo, esse é o retrato da importância e um recado para reafirmamos como a arte é fundamental para alimentar a alma”, analisa Danilo Mesquista, protagonista de Ricos de amor.

Dirigido por Bruno Garotti (Cinderela pop e Tudo por um popstar), o filme da Netflix estreou na última quinta-feira na plataforma trazendo uma história que mistura romance, humor e traz uma mensagem de discutir posições de privilégio. A trama acompanha o jovem Teto (Danilo Mesquita), filho de Teodoro (Ernani Moraes), dono de uma fábrica de tomates no interior do Rio de Janeiro. O personagem vive uma vida regada a festas e mulheres, tudo bancado pelo pai.

Esse panorama muda quando Teto conhece Paula (Giovanna Lancellotti), uma dedicada estudante de medicina que passa uma despedida de solteira numa festa na região. Primeiramente, para conquistar a moça, ele acata um pedido do pai de ter mais responsabilidade e arranjar um cargo na fábrica da família. Como a jovem mora na capital, Teto decide participar de uma seleção da empresa no Rio de Janeiro. O problema é que o garoto mente para Paula no primeiro encontro, então, ele precisa assumir a identidade do melhor amigo, Igor (Jaffar Bambirra), filho da empregada da família.

Credito: Mariana Vianna/Netflix/Divulgação. Cultura. Cena do filme Ricos da amor da Netflix.

Igor é oposto de Teto, um menino do interior, inocente e ainda virgem. Assim como o “príncipe do tomate” tem que se adaptar a uma realidade mais simples e de trabalho no Rio de Janeiro para conquistar Paula, Igor vai se beneficiando do momento de privilégio, ao mesmo tempo que se apaixona também por Alana (Fernanda Paes Leme), a responsável pela seleção na fábrica.

“Desde o início para mim foi até um pouco desafiador, porque o Igor é muito jovem, inocente e do campo. Eu tive que buscar um Jaffar assim. E ele tem uma crescente durante o filme. Começa como esse menino do campo, virgem, que vive a sombra do Teto. Depois, ele acaba sendo o Teto, conhecendo uma mulher mais velha e se apaixonando. Ele tem esse lado de comédia, com a relação com a Alana vai para esse lugar”, comenta Jaffar Bambirra.

“Ela é durona sem perder a ternura. Ela tem esse lado meio maluquinha que a gente quis expressar. Alana tem um tempero e uma temperatura diferentes. Ela tem um lado sério e profissional, porque é uma mulher no mercado de trabalho num mundo empresarial, mas tem esse lado do humor. Foi algo divertido e leve no filme”, lembra Fernanda Paes Leme.

Ricos de amor explora o romance entre os casais Teto e Paula, e Igor e Alana com bastante humor. Mas também abre espaço para debates de assuntos atuais de forma leve. “(O filme) Fala muito do lugar de privilégio do Teto e o quão equivocado ele é, justamente por exercer esse lugar, por ser um cara que não tem nenhum acesso à vida real. Ele não sabe o que é a vida real, tanto que quando ele se conecta, a vida dele muda. Então fala de privilégios, discute meritocracia e racismo. Tem também a questão do poder do médico que assedia a estagiária porque sabe que ela está num lugar mais vulnerável, tem essa covardia também. É um filme leve, mas que trata de muitas questões que são importantes de entender, prestar a atenção e discutir também”, completa Mesquita.

Duas perguntas // Danilo Mesquita, Fernanda Paes Leme e Jaffar Bambirra de Ricos de amor

Como foi o convite de vocês para integrar o elenco do filme?
Fernanda Paes Leme: Eu já tinha trabalhado com o Bruno, que é o diretor do filme. Fiz Cinderela pop com ele. Então, o meu convite foi um pouco diferente. Todos já estavam no filme. Tinham feito a primeira leitura e estavam na dúvida de quem ia fazer a Alana.  Se ia ser uma pessoa um pouco mais velha. Se eu poderia fazer o filme, já que meu nome tinha surgido. Quando eles fizeram a leitura e falaram do meu nome, o elenco também bateu: “Tem que ser a Fepa. É a cara da Fepa fazer esse personagem”. E o Bruno estava um pouco inseguro, porque a Patricia de Cinderela pop é uma vilã. A Alana no primeiros tratamentos tinha um “quê” de vilã. Mas tudo mudou, ele deixou a Alana bem mais leve. E eu topei.

Jaffar Bambirra: Na verdade, eu fiz um teste para o filme. Estava acabando de gravar um outro trabalho e fui convidado para fazer o teste com o Dan (Danilo Mesquita) e quando a gente se viu, a gente teve uma conexão muito boa. Depois de um tempo fui receber o convite do Bruno para gente fazer esse filme junto. E foi uma delícia assim. Foi ótimo. Sou muito agradecido.

A comédia romântica é um gênero de sucesso na Netflix e Ricos de amor tem tudo para ser um filme a integrar a lista dos preferidos do público desse gênero. O que acha que são os pontos de sucesso dessa produção brasileira?
Danilo Mesquita: O que eu acho muito legal do Ricos de amor, que você falou que tem esse potencial de ser um dos preferidos da galera no Brasil no gênero. O Brasil consome muito esse gênero, sempre consumiu e agora tem produzido muito, então estar fazendo parte disso é muito legal. Ricos de amor tem tudo para cativar as pessoas porque é uma comédia romântica brasileira mesmo, fala da gente, se passa no interior do Rio, depois se passa no Rio de Janeiro. Passa pela nossa cultura do interior. Depois vai pro Rio tem a coisa do funk, do passinho, da cultura da cidade. Tem as músicas brasileiras. É uma comédia romântica que traz pro Brasil, que fala da nossa história, das nossas coisas e aborda todas as questões também nossas. Aproxima as pessoas. É muito legal ver comédias românticas de outros lugares, mas quando traz pro seu país a tendência é que as pessoas se identifiquem mais.

Apaixonado

Crédito: João Miguel Junior/Divulgação

Pitadas de drama e humor e muito romance. A receita da série Todas as mulheres do mundo, do Globoplay, segue à risca o caminho das comédias românticas. Na história escrita por Jorge Furtado e Janaína Fischer a partir de argumento de Domingos de Oliveira e Maria Ribeiro, o arquiteto e poeta Paulo (Emilio Dantas) é daqueles homens que se apaixonam perdidamente por cada mulher que conhece, tornando-a musa inspiradora de suas criações.

Isso muda quando, numa festa de Natal em casa, ele conhece a dançarina Maria Alice (Sophie Charlotte). A primeira reação é cair de amores por ela, naturalmente. O que muda aqui é que, desta vez, o sentimento não passa. Mas Maria Alice é noiva e tem outros planos — mesmo apaixonados, ela vai para Berlim, onde conseguiu uma bolsa de estudos, e os dois mantêm uma amizade virtual.

Sem Maria Alice por perto, Paulo afoga as mágoas nos melhores amigos, Cabral (Matheus Nachtergaele) e Laura (Martha Nowill), e em encontros com outras mulheres, sempre em busca de um grande amor — sim, Paulo é romântico, à sua maneira, mas é. Só que Maria Alice não sai da cabeça dele e o arquiteto não vai desistir desse reencontro.

Todas as mulheres do mundo tem um texto redondinho e participações especiais de tirar o chapéu, como Maria Ribeiro, Fernanda Torres, Lília Cabral e Felipe Camargo, entre tantas outras. A trilha sonora, basicamente com cantoras (a série é uma homenagem a elas, sobretudo), também chama a atenção na produção do Globoplay que teve o primeiro capítulo exibido na TV aberta e já tem os outros nove disponibilizados no catálogo do serviço on-demand.

Mais do que um romance água com açúcar, daqueles que a gente adora ver, Todas as mulheres do mundo traz envoltos em leveza temas como machismo, poesia, amizade e, como não poderia deixar de ser, amor. O desfecho, lírico e imprevisível, faz pensar ainda mais se o amor vale a pena.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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