Por Adriana Izel e Vinicius Nader
A vida e a trajetória de pessoas públicas despertam a atenção e a curiosidade de muita gente. Por isso não é de se estranhar tantas séries documentais ou de ficção que se valem desse filão para nos apresentar uma faceta diferente do ídolo ou mesmo para reunir ali uma espécie de biografia. Uma estrela da televisão tem a vida recontada, astros da música relembram a carreira, o caminho de um ícone pop aparece revisitado e líderes mundiais são tema de uma divertida comédia. Vários são os modos como essas histórias chegam às telas.
Na quinta-feira, a Globo começa a exibir Hebe, minissérie em 10 capítulos escrita por Carolina Kotscho e estrelada por Andrea Beltrão e pela boa revelação Valentina Herzage, que se revezam no papel da pioneira da televisão brasileira. A série está no catálogo do Globoplay na íntegra, mas, só agora, chega completa à tevê aberta, universo dominado por Hebe por muitas décadas.
“Estou feliz de, finalmente, lançar Hebe na tevê aberta, na janela dela. É curioso como a história foi se transformando pra gente ao longo do processo. Comecei a pesquisa em 2014. A gente traz essa Hebe dos anos 1980, com a tomada de consciência e poder de responsabilidade de ter um controle na mão. Tem todo o brilho e a alegria, mas tem uma reflexão bonita e importante de se fazer agora. Trazemos uma Hebe com todas as contradições e explosões”, afirma Carolina Kostcho, autora da série.
Em cena, a série traz a trajetória de Hebe, desde a infância pobre, quando a menina sonhadora queria ajudar a família, sem deixar para trás a paixão pela música, até a morte, já consagrada como uma das maiores estrelas da televisão brasileira, se não a maior. Para gerações que não conheceram a força da apresentadora, a atração mostra o quanto Hebe foi transgressora e esteve à frente do tempo dela. “É uma obra que não para de falar com o cotidiano, com o Brasil de hoje. Tem outra coisa muito interessante, que é olhar para uma mulher que nasceu em 1930 e viveu sendo muito à frente do seu tempo, o tempo inteiro”, comenta o diretor Maurício Farias.
Andrea Beltrão brilha em cena como Hebe na fase adulta. A atriz apoia-se em detalhes que superam a falta de semelhança física — conseguimos em vários momentos ver a apresentadora ali. Atriz minuciosa, Andrea conta que usou nas gravações uma medalha da própria Hebe, encontrada durante prova de figurino, além do último perfume comprado pela homenageada.
“A escolha das atrizes não passou pela semelhança física, nem com a Hebe, nem entre nós duas. Isso foi bom, porque, durante o trabalho, nos trouxe liberdade de construção dessa Hebe que a gente chegou (no filme e na série). Eu vi muito a Hebe com a minha avó, sou de 1963. Conhecia bastante dela e adorava ver. Mas não conhecia a vida pessoal dela. Ela foi uma mulher muito interessante e muito forte”, afirma a atriz.
Unindo gerações
Mesmo sem ter o tempo de carreira de Hebe, a dupla Sandy & Junior pode afirmar que já passou por várias gerações de fãs — desde os que cresceram com os cantores aos que foram os conhecendo durante os 30 anos de música. Essa trajetória é contada em Sandy & Junior — A história, série documental em sete episódios que estão disponíveis no Globoplay.
No programa, tem muita música, claro. E histórias da dupla também — muitas das quais excessivamente exploradas pela mídia, mas que os fãs nunca se cansam. O diferencial de Sandy & Junior — A história está nos detalhes agora revelados sobre, por exemplo, a turnê de despedida da dupla, em 2007; ou sobre a transição da carreira deles de uma dupla infantil para uma juvenil.
A série também traz os bastidores dos shows, sempre grandiosos e com ares de superprodução, e depoimentos de nomes que vão do rei Roberto Carlos à italiana Laura Pausini, passando por Ivete Sangalo e Toquinho — a dupla coleciona parcerias e admiradores em vários estilos da música nacional e internacional. Até os boatos e as polêmicas que os irmãos enfrentaram ganham um dos capítulos, assim como a questionável aventura pela dramaturgia.
Astrologia
O astrólogo Walter Mercado popularizou o bordão que serve como título do documentário lançado recentemente pela Netflix: Ligue djá: O lendário Walter Mercado, dirigido por Cristina Constantini. Segundo o filme, o famoso astrólogo porto-riquenho de roupas exuberantes e portunhol carregado alcançava uma audiência diária 120 milhões de pessoas por meio de ligações, nas quais dava conselhos e lia o mapa astral do público.
A figura de Walter Mercado, exuberante e sempre vestido como se fosse um Cauby Peixoto dos astros, e sua figura marcante são bem exploradas em Ligue djá. Mas é no que não é tão badalado que moram os pormenores do bom documentário. Estão lá: a ligação dele com a espiritualidade; o desejo de estudar farmácia, logo posto de lado pela paixão pela carreira de ator de novelas; o modo como a astrologia (quase que por acaso) entrou na vida dele; o que estava por trás da briga de seis anos com o ex-empresário Bill Bakula, que o enganou; a ligação dele com a família; a sexualidade velada, sempre meio andrógina, que o levou ao posto de ícone LGBTQIA+; e a relação com Willie Acosta, no filme, retratado como um amigo bem próximo.
Ficção
Nem sempre as figuras públicas estão em obras de verve documental. Às vezes, eles aparecem em ficção e nos divertem quando o posto que eles ocupam são usados para a comédia. É o caso do curta-metragem que Paolo Sorrentino (vencedor do Oscar por A grande beleza) dirige na antologia Feito em casa, na Netflix. Ali, o italiano faz um encontro entre o papa Francisco e a rainha Elizabeth II. Mas não é um encontro qualquer: os dois estão apaixonados e comentam a relação deles e a pandemia de covid-19 com muito humor. Podia ser a história de amor de duas pessoas maduras nos tempos de hoje, rodeado de incertezas. Mas é exemplo claro de quando a figura pública traz um molho a mais à história e permite referências, no caso, cômicas.
Em tempos em que reality shows, como o Big brother Brasil, criam subcelebridades das quais falamos durante o ano todo e sites noticiosos se rendem a fofocas de quase famosos, produções sérias mostram o quanto a vida de figuras públicas pode ser explorada com respeito e delicadeza e, ainda, matar a curiosidade e aplacar as saudades do público.
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