Há muito enterrou-se a máxima de que séries teens precisavam de uma boa dose de paciência e vontade para se relevar falhas. Com produções do gênero cada vez mais afiadas e de qualidade cinematográfica, esperar que uma série adolescente seja ruim (só porque ela é teen) virou coisa do passado. A atualização do gênero, contudo, parece não ter sido estudada para a segunda temporada de Outer Banks, da Netflix.
O primeiro ano da produção até que empolgou. E muito! Temas como amizade, diferenças sociais e justiça aliviaram os romances chatinhos e um roteiro que ainda tentava se encontrar. Sendo um dos grandes hits de popularidade de 2020, a expectativa para a próxima temporada era alta.
Tentando seguir o objetivo de pegar o ouro perdido e agora de livrar o nome de John B. (Chase Stokes), Outer Banks começa o segundo ano cometendo um erro de principiante: dividir o elenco. Justamente uma das coisas mais legais da série.
A química entre Chase Stokes, Rudy Pankow, Jonathan Daviss, Madison Bailey e Madelyn Cline, nos papeis de John B., J.J., Pope, Kiara e Sarah, respectivamente, sempre foi um dos destaques da produção e a falta da dinâmica entre eles nos primeiros episódios desta segunda temporada foi algo que realmente fez falta — tanto que o reencontro se torna um importante clímax da temporada.
Depois de juntos, contudo, os cinco amigos — agora seis, com a chegada de Cleo (Carlacia Grant) — não têm muita paz. São tantos problemas, de tantas formas e versões, que Outer Banks se torna um verdadeiro purgatório para os coitados.
Nessa equação entra outro elemento complexo, a ação. O que a segunda temporada de Outer Banks fez no fim das contas foi tentar dar mais ritmo para a história com uma generosa dose de ação. Quem é fã de série, entretanto, já sabe: o gênero pode ser uma armadilha caso abuse.
E a produção cai em cheio nesta armadilha. É tanta correria, fuga, briga, ameaça, tiro, sangue e explosão, que em vez de ritmo, a série ganha uma boa dose de cansaço. Em alguns momentos (como na fuga de John B. e Sarah depois de a garota, há poucos minutos, ter “morrido”) fica difícil para o público entender simplesmente qual a razão daquela correria e desespero todo.
Por falar em morte, o roteiro deste segundo ano realmente bebeu na inspiração da ressurreição. É tanto morre-não-morre que, em alguns momentos, dá vontade de rir. Primeiro foi Sarah. Depois foi Ward (Charles Esten) que se explodiu, #sqn. E, por fim, como uma cereja podre no topo do bolo, a temporada acaba com a “surpresa” de que até Big John (Charles Halford) — cuja ossada foi mostrada na primeira temporada — está vivo.
Essas ressurreições são um péssimo recurso, que tira toda credibilidade que a história tenta emplacar, afinal, no próximo capítulo, os personagens que morreram podem simplesmente… estar vivos.
Pontos positivos
Mas calma. Nem tudo foi perdido nesta segunda temporada de Outer Banks. O roteiro acerta em cheio com dois personagens: Pope (principalmente) e Kiara. No caso do garoto, chega a ser revigorante o quanto ele toma o protagonismo da reta final da temporada. Tanto na vertente histórica da população negra norte-americana, como no posicionamento frente a John B. e J.J. Pope, agora, não é mais apenas o “amigo”.
No caso da garota, esse trabalho é mais sutil, porém ainda digno de frisar. A relação de Kiara com os pais dá um importantíssimo tom de realidade para a história ao lembrar que a vida de adolescentes não é só ficar fugindo da polícia e se metendo em tiroteios.
Por fim, a popularidade de Outer Banks parece ter afetado a qualidade que a produção tinha apresentado na temporada de estreia, mas vale lembrar que o novo ano ainda é digno de uma maratona, mesmo que para rir dos personagens que ressuscitam.
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