Sense8 está longe de ser uma unanimidade. Desde que a série estreou em 2015 na Netflix ela dividiu opiniões, mas a um modo bem “8 ou 80”: ou você ama, ou você odeia. Sou parte do time que é apaixonado pela trama das irmãs Wachowskis. Quem me conhece ou me lê sabe bem disso. Passei um ano inteiro falando para todo mundo começar a assistir à série e resistir à vontade de parar até chegar ao quarto episódio, What’s going on? — porque, admito, a trama pode ser confusa à primeira vista. A minha justificativa sempre foi que se você não fosse pego nesse episódio era porque Sense8 realmente não era pra você.
Essa introdução toda é para dizer que Sense8 chegou ao fim e, em vez de correr para assistir ao episódio final de mais de duas horas lançado em 8 de junho, resolvi fazer uma maratona das duas temporadas para me despedir de vez da série. E recomendo que você faça isso, mesmo que já tenha assistido ao final. Redescobrir a trama de Sense8 me fez entender e chegar ao título dessa matéria: a série nunca foi uma mera ficção científica, mas sim uma grande história de amor.
Por meio da premissa, que é a história de oito pessoas conectadas mentalmente e emocionalmente e que descobrem essa ligação ao mesmo tempo em que são caçadas por uma organização secreta, o espectador é levado a acompanhar diferentes formas de amor.
A primeira delas é entre esse grupo de pessoas, até então desconhecidas e completamente distintas. De diferentes lugares do mundo, Will (Brian J. Smith), Nomi (Jamie Clayton), Wolfgang (Max Riemelt), Lito (Miguel Ángel Silvestre), Sun (Bae Doona), Kala (Tina Desai), Riley (Tuppence Middleton) e Capheus (Aml Ameen/Toby Onwumere) se conectam pelo fato de serem um cluster de sensates gerados por Angelica (Daryl Hannah) e, mesmo sem nunca terem se visto ao vivo, começam a se ajudar e compartilhar momentos e sentimentos. Logo de cara, a gente entende que a conexão é familiar entre eles.
Depois, há a própria história de amor de cada personagem. As duas que ficam claras logo no início da trama são exatamente aquelas que costumam ter espaços de coadjuvantes em outras produções: o amor entre Nomi e Amanita (Freema Agyeman) e entre Lito e Hernando (Alfonso Herrrera). Ao poucos, o espectador vai sendo apresentado também aos romances dentro do próprio cluster: Will e Riley e Kala e Wolfgang.
Já não bastasse o amor romântico, Sense8 dá uma lição ao valorizar as relações de amizade. Quem não queria amigos como Felix (Max Mauff), Jela (Paul Ogola), Bug (Michael X. Sommers) e Daniela (Eréndira Ibarra)? Tudo isso de forma muito verdadeira. Genuína também é a melhor forma de explicar os dramas familiares que cada um enfrenta e que são tão bem explorados na série, que é difícil não se tornar empático.
E essa narrativa do amor fica bem clara na conclusão da série, no episódio especial intitulado Amor vincit omnia, que quer dizer “o amor vence todas as coisas”. Depois de ter muito vai e volta, o cluster de Angélica consegue vencer a OPB e derrotar Milton — de forma bastante convincente e com muitas explicações em torno do enredo de ficção científica (graças a Deus, menos um Lost na nossa vida!) — unindo as forças dos oito e também dos braços direitos de cada um deles. Inclusive, é muito bacana ver o grupo reunido fisicamente e ainda ao lado dos companheiros, uma ótima forma de despedida do elenco.
É uma pena que Sense8 tenha tido tão pouco tempo — afinal, foram só duas temporadas. Mas a atração encerrou sua história de forma bastante redonda, com coerência e mantendo as características desde o início de apostar na diversidade, no empoderamento e na representatividade. Uma narrativa totalmente alinhada com os dias de hoje. Amém!
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