O sétimo guardião: a pior novela de um dos melhores autores

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Aguinaldo Silva perdeu a mão e fez de O sétimo guardião uma novela em que até o texto, sua marca registrada, desandou

Quando o novelista Aguinaldo Silva terminou de escrever O sétimo guardião, em 4 de maio, ele se perguntou no Twitter: “Vai valer a pena ter sobrevivido?”. Sobreviver sempre valerá, Aguinaldo. Mas fica a dúvida: valeu a pena ter perdido tempo assistindo a O sétimo guardião?

Não tenho o menor medo de cravar: Essa foi a pior novela de Aguinaldo desde Suave veneno (1999). O sétimo guardião marcou a volta do autor ao realismo fantástico. Desconfio que talvez esteja aí o grande problema: Foi um ser fantástico que assinou o texto do folhetim cujo capítulo final foi exibido na última sexta-feira (16/5). Só isso explicaria o fato de essa novela ter saído da mesma cabeça ー e da mesma máquina de escrever ou computador ー de Vale tudo (1988), Tieta (1989) e Senhora do destino (2004), só para ficar em alguns sucessos de Aguinaldo.

O fracasso de O sétimo guardião é de público e de crítica ー difícil isso acontecer, recentemente ー e tem um tripé que o sustenta: a trama, o texto e os personagens. É… sobrou pouca coisa, eu sei.

A trama dos guardiões (ou guardiães, como prefere o autor, adotando uma forma igualmente correta) de uma fonte de água mística renderia uma minissérie ou uma série. E seria boa! Por que estender isso por mais de 200 capítulos?

Bruno Gagliasso foi uma das decepções de O sétimo guardião

Texto ruim é marca de O sétimo guardião

O bom texto, marcado por muita ironia e sofisticação, sempre foi marca de Aguinaldo Silva. Salvou tramas, como Fina estampa (2011), que tinha o roteiro frágil, mas acabou decolando. E deu o tom delicioso da já citada Tieta. Mas faltou inspiração para que isso se repetisse em O sétimo guardião. Alguns personagens, como Olavo (Tony Ramos), Valentina (Lília Cabral) e Mirtes (Elizabeth Savalla) tiveram bons momentos, mas a inconstância foi muito grande.

Só não foi maior do que a desconstrução ー para não dizer fragilidade ー dos personagens. Parecia até a última temporada de Game of thrones! Teve megera virando boazinha, mocinha lutadora perdendo o propósito e achando de novo, justiceiro se apaixonando pela vilã e, claro, achando que a regenerou…

O elenco resistiu bravamente à provação de estar ali. Alguns, como Elizabeth Savalla, Ana Beatriz Nogueira (a guardiã Ondina), Isabela Garcia (a assassina Judith) e Ailton Graça (o padre e guardião Ramiro), se destacaram pelo talento já conhecido. Outros nos surpreenderam, como Nany People (correta como Marcos Paulo) e Theodoro Cochrane (perfeito, mas como um texto às vezes relaxado demais, como Adamastor).

A lista de decepções é bem maior ー vem liderada pelos protagonistas Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa (ano sabático para a ruivinha já!). Nem nomes tarimbados como Dan Stulbach (o prefeito Eurico), Letícia Spiller (Marilda) e Marcelo Serrado (completamente desperdiçado como Nicolau) renderam o quanto poderiam. O que dizer de gente com menos tempo de carreira, como Yanna Lavigne (Laura)? Saudades mesmo vai deixar o gato León!

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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