Com estreia em julho no Brasil, Normal people reapresenta o amor, o tempo e a intimidade

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Produção Normal people conta a história de amor de um casal ao longo de anos. A partir de 16 de julho, minissérie estará disponível no StarzPlay

O amor e as relações fazem parte da história da tevê (e do cinema). Uma bela paixão já fez muita gente chorar — seja de alegria ou tristeza. Um dos temas mais explorados pela indústria do entretenimento, entretanto, parece não estar saturado. A maior prova disso é a produção Normal people, que reformula o tema a partir da perspectiva do tempo e da intimidade.

A minissérie — baseada no livro de Sally Rooney — é uma parceria do canal estatal britânico BBC e do streaming do Hulu. No Brasil, a produção chega pela plataforma do StarzPlay, a partir de 16 de julho. Para os que não conhecem, o serviço custa R$ 14,90 e conta com produções como The act, Castle Rock e Mr. Mercedes.

Em Normal people, o espectador acompanha Marianne (Daisy Edgar-Jones) e Connell (Paul Mescal) desde a adolescência na litorânea cidade de Sligo, no Norte da Irlanda. Enquanto a menina era mais solitária — e vítima de bullying — na época da escola, o garoto fazia parte do círculo de amizades dos populares (apesar dele mesmo ser mais tímido e introvertido).

Crédito: reprodução/imdb (em imdb.com) – Marianne é uma garota amorosa, mas que carrega vários traumas da família violenta

A relação de Marianne e Connell tem como ponto de partida algo essencialmente sexual e tipicamente “jovem”. Em pouco tempo, entretanto, a conexão dos dois começa a ultrapassar os limites sentimentais. Contudo, vários obstáculos (externos, e entre eles mesmos) acabam impedindo Marianne e Connell de simplesmente ficarem juntos por muito tempo.

O CONTEÚDO ABAIXO CONTÉM SPOILERS

Em um primeiro momento, Connell tem vergonha de se relacionar publicamente com Marianne. A moça é uma garota rica, e o círculo de amigos que existe em volta dele questiona Marianne moralmente por conta disso. Enquanto isso, a garota, de certa forma, se dispõe a entrar nesse “jogo de segredo” de Connell, algo que deixará mágoas profunda nela.

Crédito: reprodução/imdb (em imdb.com) – Connell tem de lutar contras as pressões sociais que lhe afastam da amada

Tempo

O amor de Marianne e Connell nada seria sem outro elemento fundamental: o tempo. Mais do que o amor de escola, o público tem uma chance de “seguir a vida” com eles. Após o ensino médio, ambos entram na renomada universidade irlandesa de Trinity, mas separados. Marianne encontra outro parceiro e Connell segue voltado para a academia e sonho de conquistar uma bolsa de estudos.

O reencontro entre os dois se dá de forma ocasional, em uma típica festa universitária. É claro que o amor deles não morreu, entretanto, ambos cresceram. Marianne não está disposta a perdoar os erros do rapaz e embarcar em um relacionamento. O amor dos dois, então, se torna uma poderosa amizade.

Connell passa a frequentar os círculos sociais de Marianne e se aproximar cada vez mais da garota. Agora a dinâmica mudou: Marianne é mais segura, mais popular, enquanto ele sofre para se adaptar a cidade grande. Ambos resistem, mas a atração é maior e envolvimento romântico, e novamente sexual, volta a pautar a relação dos dois.

Crédito: reprodução/imdb (em imdb.com) – A produção apresenta uma arrojada transição temporal para o casal

Intimidade

Em um primeiro momento, a intimidade de Connell e Marianne pode ser algo quase chocante. As cenas de sexo são exacerbadas (especialmente nos episódios iniciais), gráficas e quase explícitas. O trunfo da manga da série, contudo, é não exibir absolutamente nada de forma gratuita. Todas as cenas com vertente sexual entre Marianne e Connell (e até mesmo entre os outros parceiros que ambos eventualmente apresentam) tem um objetivo, uma razão, elas não apenas para sensacionalizar.

A apresentação dessa intimidade sem traços apelativos (não só os atos em si, mas especialmente os diálogos) talvez surpreenda mais pelo fator inédito — em séries em geral — do que qualquer outra coisa. A intimidade entre Connell e Marianne é, de certa forma, o que torna o amor deles mais “normal” e ao mesmo tempo tão resistente ao tempo.

Crédito: reprodução/imdb (em imdb.com) – A intimidade de Connell e Marianne pode surpreender, mas não é gratuita

Além da relação

Por falar em tempo, ele não parou. Após a breve aproximação durante o início da faculdade, Connel e Marianne acabam se separando. O interessante aqui é notar o quanto o fim do relacionamento não limita “a ligação” dos dois. A amizade deles não consegue ser quebrada. O amor deles vai além da relação.

Enquanto Marianne parte para trabalhos fora do país, Connell encontra outra parceira. Os anos passam, a vida continuar a seguir, os dois precisam enfrentar os próprios demônios particulares. Com graves problemas familiares, Marianne, ao longo dos anos, parece viver uma transfiguração da violência que sofre em casa para os próprios relacionamentos. A batalha também é dura do lado de lá: após o suicídio de um amigo, Connell tem de enfrentar uma depressão profunda que o leva ao limite da vida.

Apesar das situações extremas — ou da distância —, tanto Connell, quanto Marianne encontram na amizade que tem um ponto de força. Eles se ajudam, independente de qualquer coisa.

A receita

O que faz Normal people ser tão boa compõe uma receita que não é necessariamente desconhecida. O tom da minissérie é honesto. A história tem um objetivo é não se preocupa muito em sensacionalizar, apenas a apresentar. O roteiro é brilhantemente bem escrito. Personagens e elementos do enredo entram e saem no momento certo, com um objetivo. A história anda sem pressa, mas com ritmo. Os diálogos só ocorrem quando necessários, e por isso, são tão cativantes.

O trabalho de atuação é outro trunfo, especialmente por parte de Mescal e Edgar-Jones. Toda a construção de Connell e Marianne, e especialmente a intimidade que eles têm é algo difícil de se alcançar, mas a dupla acerta em cheio.

Vale citar também a cinematografia da produção. Sligo, de certa forma, marcou a personalidade (e a história) do casal, assim como Trinity, e a minissérie dá um show ao trazer isso para dentro da telinha. Muitas vezes, o silêncio de uma cena é o que mais poderia “falar”, e é preciso muita competência para fazer esse “caminho de narrativa” funcionar.

Normal people é um dos maiores destaques do ano. Com uma boa e revitalizada abordagem do amor, a produção consegue passar uma mensagem de forma inteligente, sensível e, acima de tudo, bela.

Ronayre Nunes

Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). No Correio Braziliense desde 2016. Entusiasta de entretenimento e ciências.

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