Foto Marcio Farias

Natália Dal Molin: “Sensação boa de pertencimento”

Publicado em Entrevista, Novela, Perfil

No ar em Terra e paixão, atriz argentina de 34 anos fala sobre como veio parar no Brasil e sua relação com o país que a acolheu

 

Por Patrick Selvatti

Entre um time robusto de nomes consagrados na dramaturgia brasileira, Terra e paixão apresenta alguns artistas menos conhecidos do grande público. Alguns rostos desses novatos, entretanto, não são tão estranhos assim. É o caso de Natalia Dal Molin, que faz sua estreia em novelas brasileiras, mas traz na bagagem produções exibidas em canais de streaming e no cinema. A intérprete de Graciara, uma paraguaia, na realidade, é argentina e está há pouco tempo em nosso território.

“Eu fui convidada para um curta metragem chamado O táxi de Escher, que ganhou vários prêmios internacionais. Foi nesse momento que me apaixonei pelo Brasil, pela forma de trabalhar, pelas comidas, pelo samba durante a espera da gravação. A partir daí, fiz amigos e comecei a frequentar mais esse país maravilhoso. Em consequência disso, vários convites foram surgindo”, conta a atriz de 34 anos ao Próximo Capítulo.

Natália refere-se, entre os convites, ao para atuar na série Hard, da HBO, protagonizada por Natália Lage, Julio Machado e Denise Del Vechio. A produção, em três temporadas, é baseada em uma obra original homônima da França e apresenta os bastidores da indústria pornográfica de forma humorada, porém, séria. Defensora absoluta da liberdade sexual, a atriz destaca a importância da obra.

“Entendo que a função do ator é essa: trazer temas que possam fazer as pessoas pensarem e discutirem. No caso da indústria pornográfica, criou-se um tabu a respeito disso e, ao longo do processo de filmagem, conheci profissionais que participavam ativamente dessa indústria e foi muito interessante perceber que são pessoas normais, com um cotidiano normal, e que trabalham vendendo entretenimento e prazer”, argumenta ela, que dá vida à Shana, uma atriz de filmes adultos, casada também com um outro ator pornô, que tem filhos e valoriza muito a família.

“Para mim, como atriz, foi bem interessante porque sou tímida em vários aspectos e mostrar o corpo em cena exige muito desprendimento e concentração. A série relata o mundo do pornô na época machista onde as atrizes também sofriam o maltrato, descuidos… Então, minha atriz-pessoa-corpo-espírito pôde sentir um pouco de como é adentrar por esse universo”, celebra a argentina, que nasceu na mesma cidade que o astro do futebol contemporâneo Leonel Messi — Rosário — e atuou, no país de origem, de uma minissérie sobre Diego Maradona — Maradona: Sueño Bendito, em que interpreta a irmã do mito internacional, uma moça do interior, humilde, que passou a viver uma vida de sonhos ao lado do popstar dos gramados.

Ídolos do futebol

Sobre a proximidade com os dois maiores ídolos do seu país, Natália define como uma “sensação boa de pertencimento”. “Eu amo o Messi e a forma dele de existir no mundo, e tenho vários amigos em comum. Já interpretar a irmã de Maradona na série me fez brincar nesse mundo louco do futebol, da pressão, da ilusão, da entrega, da juventude que o esporte traz”, pontua a atriz. “Viajar pelo mundo, ganhar copas, ser campeões do mundo… Tudo isso por seres como eles, que entregam uma coisa muito especial que ainda não tem nome, mas que chega a todos os corações e fica para sempre”, acrescenta.

Quando chegou ao Brasil, Natália não esperava que, em tão pouco tempo, estaria no ar no horário nobre da TV aberta na maior emissora do país. “Não imaginei que ia ser assim. Me disseram recentemente que eu estou trabalhando no fato histórico, uma novela com uma protagonista preta, como a Bárbara Reis, que é imensa, com um núcleo indígena, que fala da natureza, das crenças, de vínculos com amor… É uma aposta nova da Globo, em que, por fim, muitas pessoas vão se sentir representadas na televisão!”, define ela.

Em relação ao assédio de fãs no Brasil, Natália afirma que ainda não sabe se “tudo isso” é mito ou realidade. “Espero que muitas pessoas consigam vê que Graciara é uma sobrevivente como tantas outras mulheres, se identifiquem com ela e saibam que temos muita força e que existem pessoas que podem ajudar nos momentos de fragilidades, que nós não estamos sozinhas. Ela é muito engraçada e fala diferente, mas também espero que essa personagem traga as verdades que vários preferem ocultar”, conclui a argentina, que tem tudo para, em breve, vai conquistar o país que abraçou como lar.