Minissérie Inventando Anna se perde em roteiro repetitivo

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Inventando Anna tem como grande trunfo a atriz Julia Garner, que faz com que acreditemos numa história inventada por uma falsária. Leia a crítica!

Difícil decidir em quem ou no que acreditar em Inventando Anna. A nova minissérie criada por Shonda Rhimes (nome por trás de sucessos como Bridgerton, Scandal e Grey’s anatomy, entre tantos outros) está no catálogo da Netflix e é baseada no caso de Anna Delvey, falsa herdeira alemã (e verdadeira filha de russos de classe média) que, calcada em muita mentira, conquista a alta sociedade de Nova York e engana de socialites a bancos de investimentos.

Vale destacar que Inventando Anna faz, a todo episódio, a ressalva de que a história apresentada ali é “completamente real, exceto pelas partes completamente inventadas.” A jovem de 25 anos monta um verdadeiro império da imagem. Ostentando os milhares de dólares que nunca teve na conta, Anna (que não se chama Delvey) ia montando uma rede de contatos e conquistando a confiança de cada um deles, dando calote atrás de calote em uma engenhosa cadeia de golpes.

Muito da credibilidade da Anna retratada na série se deve à performance de Julia Garner. A atriz se entrega à personagem e nos coloca no lugar de cada ricaço enganado. Assim como Anna faz com quem a rodeia, Julia Garner é uma verdadeira enfeitiçadora de telespectadores. Os golpes e as mentiras estão ali para quem quiser ver. A manipulação dos “amigos” por Anna está clara e límpida. Mas é tudo feito com tanta naturalidade, com tanto “amor”, que fica confuso, o real e o virtual se misturam de uma forma perigosamente atual. Já não sabemos qual é qual.

A história de Anna rendeu uma matéria bombástica na imprensa americana. Na série, ela é escrita por Vivian Kent (Anna Chlumsky), mais uma vítima dos encantos de Anna. Se, no início, Vivian está atrás de uma boa história que rendesse cliques para o portal onde trabalha, com o tempo Anna vai estabelecendo uma relação de poder entre as duas. Vivian mobiliza vários colegas para ajudá-la no perfil. Não demora para que os limites éticos do jornalismo sejam ultrapassados e que a proximidade das duas seja de amigas e não mais de fonte e repórter. Vira um vale-tudo pela informação e até pelo prestígio de estar ao lado de Anna. O mesmo acontece com o advogado Todd (Arian Moayed), cujo casamento anda na corda bamba pela dedicação dada à defesa de Anna.

Não há dúvida de que a história de Anna Delvey rende uma boa minissérie. Mas Inventando Anna peca em dois pontos importantes e interligados: o roteiro e o ritmo. A infinidade de golpes de Anna começa a ficar repetitiva e, mesmo encantados pela protagonista, nos cansamos e até prevemos os próximos passos. Episódios longos demais (o último beira a hora e meia!) poderiam, sem prejuízo nenhum, ser enxugados. Se for escolher uma das histórias para seguir, vá da viagem ao Marrocos, no episódio 6, onde há uma reviravolta no modo como as pessoas passam a ver Anna.

Em um determinado momento, Anna agradece a Vivian por a ter tornado famosa. É assim que a verdadeira farsante deve se sentir com relação a Shonda Rhimes. A série levou a história dela além das fronteiras dos EUA e ainda voltou o caso para a frente dos holofotes. O castelo de imagens está longe de ruir.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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