Mateus Honori, o braço direito de Lampião

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Mateus Honori comemora o fato de levar a história do sertão nordestino para um público amplo na série O cangaceiro do futuro, da Netflix

A relação entre o sertão e o ator Mateus Honori é antiga. E íntima. Por isso, ele tem certeza que, cedo ou tarde, se encontraria com Jararaca, homem de confiança de Lampião que ele interpreta na série nacional O cangaceiro do futuro, da Netflix.

“ O tema cangaço sempre me fascinou e eu já lia e pesquisava sobre esse movimento há algum tempo”, afirma Mateus, em entrevista ao Próximo Capítulo. “Existe muito material bibliográfico sobre a vida do Jararaca e eu fiz questão de ler tudo que pude, de assistir à filmografia relacionada ao cangaço, ler os depoimentos da época de sua prisão em 1927 e me apropriar dessa história que eu ia contar”, completa.

Na entrevista a seguir, Mateus fala sobre a experiência de viver esse personagem real em O cangaceiro do futuro. Confira!

Entrevista // Mateus Honori

Quem era o Jararaca? Interpretar um personagem real é mais desafiador para o ator?
Jararaca foi um cangaceiro de muita confiança de Virgulino Ferreira, o Lampião. Ele se juntou ao bando ainda jovem, após ter servido no Exército brasileiro e, pela sua expertise, se tornou chefe da artilharia do cangaço. Para interpretar um personagem real é preciso,
antes de tudo, respeito e comprometimento com a história e as vivências dessa pessoa. Existe muito material bibliográfico sobre a vida do Jararaca e eu fiz questão de ler tudo que pude, de assistir à filmografia relacionada ao cangaço, ler os depoimentos da época de sua prisão em 1927 e me apropriar dessa história que eu ia contar.

Como é visto Jararaca no sertão?
O Jararaca, no oeste potiguar, é considerado um santo popular e vários milagres foram atribuídos a ele. Isso ainda reforçou a responsabilidade implícita de fazer esse personagem com respeito e seriedade, pois ele está no imaginário cultural, afetivo e religioso de muitas pessoas.

Você já conhecia a história dele antes de ser escalado para a série?
A história do Jararaca em específico não, mas acredito que em breve nos encontraríamos de uma forma ou de outra. O tema cangaço sempre me fascinou e eu já lia e pesquisava sobre esse movimento há algum tempo.

O personagem anda a cavalo e pega em armas. Teve algum treinamento nesse sentido?
Sim, todos os atores que manuseiam armas, apesar de serem falsas, receberam treinamento específico. Em relação ao cavalo, não foi diferente. Nossas aulas de equitação começaram cerca de um mês antes de viajar para Quixadá. Tudo visava a segurança dos atores e a veracidade das cenas.

Como é a relação de Jararaca com o impostor que se passa por Lampião?
De ódio (risos). Todo o bando está comprometido em pegar o farsante. Em primeiro lugar, o fato de ter alguém se passando por Lampião e seu bando, descredibiliza totalmente o bando original e traz uma certa desmoralização para aqueles que eram autoridades soberanas no sertão. Além disso, o cangaço tem um corporativismo e um senso de união muito forte. Traições e rebeldias não eram toleradas.

Vocês chegaram a gravar no sertão nordestino? Como foi essa experiência?
Foi maravilhoso. Nós rodamos a série em Quixadá, Juatama e Quixeramobim, no sertão cearense e estar ali em loco, convivendo com a comunidade local, com a geografia da região, com a paisagem do sertão cearense faz toda diferença para um produto final verossímil e sincero. Acredito que boa parte da verdade impressa no produto final vem nessa vivência da honestidade que todos nós tivemos com as riquezas e os recantos do sertão nordestino. Para além disso, produções de também importância em regiões com essas são importantes pois de um lado significa a diversificação das narrativas.

Você está também na série Cabeça de Negô. O que pode dizer da série?
Em Cabeça de Nego faço o Índio, melhor amigo do protagonista Saulo (Lucas Limeira), jovem engajado na causa estudantil, membro do grêmio escolar e um dos articuladores das manifestações que os alunos fazem em prol de uma educação de qualidade.

Essa série se aproxima bastante da sua realidade, não? Como foi fazer essa série?
Sim, ela se aproxima muito. Foi emocionante de várias formas. Eu sou um cara preto, da periferia de Fortaleza, estudei em escola pública e conheço de perto toda a realidade que o filme mostra. O descaso, por parte do governo, a falta de vontade dos gestores em apostar numa juventude periférica tão potente quanto a nossa, as escolas caindo aos pedaços, comida do lanche vencida, material didático ultrapassado, a evasão escolar e o aliciamento da juventude pelo crime. Eu vivenciei na pele, por anos, o sucateamento da educação pública e me inconformava com isso, eu era na vida real um pouco “Índio”. Já sofri racismo diversas vezes, ora mais velado, ora publicamente, na loja que não me deixaram entrar e isso é um tema do filme também.

Como foi enfrentar isso?
Tive o apoio de professoras valentes como a Professora Elaine, personagem da Jessica Ellen (em Amor de mãe), que me moldou enquanto cidadão consciente e responsável. Reviver toda essa situação agora sob uma perspectiva de mudança, de luta, de coragem me tornou sem dúvida nenhuma um cara mais forte e consciente. Lembro que no intervalo de uma cena noturna, a gente soube que a Marielle Franco havia sido assassinada, isso
deixou todo mundo muito abalado, mas ainda com mais sangue nos olhos para chegar na cena e fazer por ela, por tantas e tantos que lutaram pela periferia. Em várias cenas eu e meus amigos do elenco e o Deo Cardoso, diretor, nos emocionamos. Saímos à flor da pele. A gente sempre soube que estávamos contando uma história potente.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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