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Luiz Felipe Lucas: “A nossa raça não faz parte da profissão”

Publicado em Séries

Luiz Felipe Lucas conta como foi a experiência de estar em Santo, na qual vive Paulo. Na entrevista, ele também fala sobre as dificuldades de ser ator negro no país

Desafiador. A palavra é usada pelo ator Luiz Felipe Lucas para definir o trabalho dele em Santo. Na produção hispano-brasileira da Netflix, Luiz Felipe é Paulo, braço direito de Ernesto, policial federal vivido por Bruno Gagliasso.

Na entrevista a seguir, Luiz Felipe fala sobre o desafio físico das cenas de ação, sobre racismo e sobre os obstáculos enfrentados pelo ator brasileiro para viver de arte.

Entrevista // Luiz Felipe Lucas

Como foi participar de Santo, uma produção internacional da Netflix?
Bem desafiador. É um formato novo de série intercontinental, de entender as duas fases da série: a que acontece no Brasil e a da Espanha. Foi bem gostoso de fazer, mas não foi fácil. Foi uma série difícil e aí que mora a parte legal e que gosto de trabalhar: o desafio. Foi uma experiência bem intensa e bonita.

O Paulo tem uma reviravolta durante a série. Isso é mais desafiador para o ator?
As reviravoltas na vida já são desafios pra gente como ser humano. Para o ator que interpreta aquele personagem também. A partir do momento que a personagem tem uma reviravolta, mexemos em ferramentas do nosso corpo para dar essa amplitude.

Em Santo, o Paulo é um personagem que não carrega com ele a questão racial. Personagens que têm outros conflitos entregues a atores negros estão mais frequentes? Isso é bom?
Falta muito o que caminhar. A nossa raça não faz parte da profissão. Não sou um ator negro. Sou um ator. Então, se vem um casting para médico, chamem atores. Se vem um casting para bandido, chamem atores. Para professor, pai de família… chamem atores! Não coloque a gente em uma caixinha porque já não cola mais. Sempre escolho pegar trabalhos onde eu não seja estereotipado. Agora, fazer por fazer, personagens estereotipados só pela minha cor, prefiro não fazer.

Você tem algumas cenas de ação na série. Precisou de dublê?
Usei muito pouco o dublê. Só quando era caso de segurança mesmo, altura, coisas que realmente precisavam de técnicas que ainda não tinha conhecimento. Tenho um trabalho físico muito bem elaborado. Havia um técnico acompanhando tudo para saber se podíamos mesmo fazer aquela cena. Fiz basicamente todas as cenas.

É mais “fácil” ser ator na Espanha, devido à falta de incentivo cultural no Brasil?
Eu diria que tem dois pontos: você ser um ator imigrante na Espanha é um desafio muito grande. Primeiro, porque tem uma questão de raça, que além de ser um ator imigrante, sou um ator negro. Aqui ainda tem muito o que caminhar, como sociedade e construção de imagem. Eles exigem que se fale um espanhol com sotaque perfeito. Às vezes te colocam em fenótipos que são estereotipados e que não é legal. No Brasil, acho que há outros desafios, mas o principal é a falta de incentivo, especialmente nesse período que estamos passando. Acredito que logo sairemos dele. Esse momento da extrema direita, que segue não entendendo a cultura como essencial, é pior do que qualquer outro destino. Na conjuntura atual, ser ator no Brasil é mais difícil.