Nos últimos anos, as novelas foram perdendo o impulso que tinham com o público. Mas foi quebrando esse recente paradigma que A força do querer, de Glória Perez, mobilizou a audiência quando foi exibida entre abril e outubro de 2017. Mostrando realmente sua força, a novela reestreia amanhã em versão especial substituindo Fina estampa no horário das 21h. Ela segue até 2021, quando o folhetim original, Amor de mãe, deve voltar a ser exibido após a pausa que enfrentou por conta da pandemia do novo coronavírus.
Uma das características principais de A força do querer foi a construção da narrativa que perpassava por três personagens Ritinha (Isis Valverde), uma jovem apaixonado pelo sereísmo; Jeiza (Paolla Oliveira), uma policial linha dura que sonha em se tornar lutadora de MMA; e Bibi (Juliana Paes), uma mulher que, por amar demais, acaba se envolvendo no crime. Três mulheres que têm em mente uma meta e não medem esforços para consegui-la.
“Talvez nunca uma novela tenha tido um nome tão pertinente ao conteúdo e à verve dos personagens. Num primeiro momento, houve um estranhamento do elenco. É um nome que tem uma peculiaridade. Ficávamos discutindo e foi algo que só pudemos entender completamente quando as tramas começaram a se desenrolar e as subjacentes começaram a aparecer. O querer desses personagens era algo muito forte”, lembra Juliana Paes, após ser questionada pelo Correio em coletiva de imprensa por Zoom.
“Bibi tinha esse querer de ser muito forte, mas se subordinava a um desejo, a um homem que não a valorizava, que não cumpria o papel de ser um companheiro. Os nossos quereres e desejos, por mais força que a gente tenha, estão na água se não tiver quem caminhe junto, conectado”, completa. Ela acredita que essa dualidade tornou Bibi Perigosa, inspirada numa figura real, num fenômeno da novela. “Há uma riqueza da personagem, com todas essas dificuldades e reflexos. Mas não foi fácil fazê-la”, comenta.
Para Juliana Paes, apesar do sucesso de Bibi e das outras duas protagonistas, a novela tinha um palco giratório que mudava dando holofote para outras mulheres tão engajadas em seus quereres, quanto elas. “Não era só esse trio principal que era forte. Todas as mulheres da novela. No que diz respeito ao feminismo, acredito que Ritinha e Ivana/Ivan (personagem de Carol Duarte) representavam isso melhor, porque elas não estavam subordinadas a ninguém, apenas aos próprios desejos”, comenta, citando as lutas de Ritinha para trabalhar como sereia e de Ivana de passar pela transição de sexo.
A atriz Dandara Mariana, que interpretava Marilda, melhor amiga de Ritinha e cúmplice das aventuras e trapalhadas dela, diz que essa força feminina é outro motivo que torna a volta da novela bastante relevante. “É uma novela que mostrou a força da mulher. Fala sobre feminismo com Ritinha. Tinha o viés da coragem de Bibi e das mulheres que criavam suas filhas sozinhas como as personagens da Elizangela (Aurora, mãe de Bibi) e da Zezé Polessa (Edinalva, mãe de Ritinha). Acho que a minha personagem trazia essa coisa da sororidade. Marilda era a prova de que existe, sim, amor e irmandade entre as mulheres. A Jeiza tinha essa coisa da figura de uma policial mulher, de uma pessoa que detém o poder e dita as regras. A escolha da Glória do desejo da Ivana de se transformar. Acho que isso tudo é a força dessa novela. E acho ótimo que isso seja reprisado”, avalia.
A atriz Mariana Xavier, que viveu Abigail, uma modelo plus size, define que a novela mostrava a liberdade feminina. “Acho que é uma palavra que tem muito a ver com a minha trajetória pessoal, com a da Abigail e de várias mulheres. No caso da Bibi, ela acaba fazendo uma trajetória contrária, perdendo essa liberdade pelo envolvimento com um homem. Mas essa história da Bibi me motivou a fazer um trabalho voluntário no projeto Papo de responsa, falando sobre relacionamentos abusivos e violência contra a mulher”, revela.
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