Por Pedro Ibarra
Figura controversa nos últimos tempos Kanye “Ye” West é, inegavelmente, um dos músicos mais marcantes da própria geração e uma figura lendária do hip-hop. O cantor, no entanto, é constantemente associado mais às situações em que se envolve na vida pessoal do que à carreira musical de sucesso que construiu desde o início dos anos 2000. É essa figura dicotômica, por vezes contraditória, que é mostrada na minissérie jeen-yuhs: a Kanye trilogy, disponível na Netflix, o documentário que acompanha mais de 20 anos da vida e trajetória musical do rapper.
São três episódios dirigidos pela dupla Coodie & Chike, conhecidos por videoclipes que tinham tanta expectativa que custaram US$ 150 milhões à plataforma de streaming. A série mostra o início de tudo, quando Kanye, já estabelecido como produtor da cena rap de Nova York, tentava a vida como rapper. Mostra um jovem Ye que acredita que tem futuro com o microfone na mão e que se incomoda ao ver o crédito pequeno na parte de trás de álbuns de Jay-Z e Scarface, nomes para quem produziu e vendeu beats no início da carreira. Porém, também apresenta o Kanye West que tomou o microfone da mão de Taylor Swift no meio de uma apresentação, que se associou a Donald Trump e tinha sérios problemas de preservar a própria imagem perante o público.
O documentário, que começou de uma amizade entre West e Coodie, é um retrato de bastidores de uma das carreiras mais midiáticas das últimas duas décadas. Não há a intenção de pintar o rapper de herói ou de vítima da própria história, apenas apresentar fatos gravados e guardados há anos e expressar o ponto de vista do próprio Coodie, uma pessoa que esteve presente em todos os anos iniciais da carreira de um dos principais artistas da história do hip-hop.
É um passeio não só pela vida de Kanye, mas também pela linha de raciocínio dele, que é considerado uma das cabeças pensantes mais importantes das últimas gerações da música. jeen-yuhs: a Kanye trilogy tem a coragem de não mostrar a história até o final feliz, e leva a figura principal pelos altos e baixos com a naturalidade que funciona a vida. Kanye é o próprio herói e o próprio vilão, e isso é claro. West não é uma unanimidade, nem nunca será, mas o documentário vale o dinheiro que a Netflix pagou pelos direitos.
O nome Donda ficou marcado pelo conturbado processo de lançamento do último álbum de Kanye West em 2021. O disco com a capa toda preta levava o nome no título. Contudo, este é o nome da mãe de Ye, figura central no documentário.
A professora de inglês era a maior incentivadora da carreira do rapper, não só por ser mãe, mas porque realmente se importava com os caminhos do cantor e se interessava pelo hip-hop. O fato fica claro em uma cena em que Donda lembra de cor uma rima que o filho fazia na época de escola.
A influência de Donda fica clara nas quase cinco horas de material propostas por Coodie, principalmente levando em consideração que ela morre em 2007, anos antes do ápice da carreira de Ye. Há um Kanye West antes e um depois de Donda e, por mais que não seja justificável, é visível como a vida do artista revirou após a perda da mãe. Não há como entender o porquê de ele agir como age atualmente, mas a saída de Donda West de cena mostra que o músico perdeu o maior eixo que o mantinha durante toda vida.
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