Novembro é conhecido como o Mês da Consciência Negra. O período tem a ver com a data do dia 20, que foi instituída no calendário brasileiro como forma de reflexão a inserção do povo negro na sociedade e tem como base o dia da morte de Zumbi dos Palmares. Como o próprio período e o nome indicam, esse é um momento de se conscientizar sobre questões importantes como empoderamento, racismo e representatividade. Ainda mais porque, apesar dos negros serem mais da metade da população, eles não estão representados em diversos âmbitos, entre eles, na arte. São raros os papéis de protagonismo, por exemplo, em produções televisivas e cinematográficas.
Pesquisas divulgadas pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), apontaram que apenas 20% do elenco de filmes brasileiros de maior bilheteria é preto ou pardo. Na televisão, das novelas brasileiras, só 4% das protagonistas eram mulheres não brancas. “Costumo falar que para ser artistas negro no Brasil é preciso ser duas vezes melhor. Quando se entrar em artes como teatro, cinema e tevê, triplica. O padrão eurocêntrico ainda tem muito peso na mídia”, analisa a atriz e cantora Fernanda Jacob.
Apesar dessa falta de representatividade revelada nas pesquisas, existem exemplos de filmes, séries e documentários em que são assumidos os papéis de protagonismo negro. A pedido do Correio, personalidades da cidade indicam produções que se encaixam nesse conceito e marcaram suas vidas e lutas negras.
Orfeu e Ó pai, ó
A atriz e cantora Fernanda Jacob revela que existem dois filmes que ela sempre volta a assistir e que tiveram papéis fundamentais em sua trajetória. “Procuro sempre voltar a vê-los para dar uma força”, defende. São elas, as obras Orfeu (1999) e Ó pai, ó (2007).
De Cacá Diegues, Orfeu costuma figurar na programação dos canais TV Brasil e Canal Brasil. A produção é mais uma adaptação do roteiro teatro de Vinícius de Morais sobre a história de amor entre Orfeu, interpretado por Toni Garrido, e Eurídice, papel vivido por Patricia França. Há uma versão anterior da produção de 1959, que ganhou o nome de Orfeu negro e tem direção de Marcel Camus.
O longa-metragem de 1999 se passam em uma favela do Rio de Janeiro no período do carnaval e mostra como o compositor da agremiação se apaixona por uma jovem recém-chegada de uma pequena cidade no Amazonas, que acaba sendo vítima de traficantes da região. “Orfeu é um filme antigo, mas com protagonistas e personagens negros, muito mais do que produções de 2017”, analisa Fernanda.
Lançado há 10 anos, a produção é estrelada por atores do Bando de Teatro Olodum e narra a história de moradores de um cortiço no Pelourinho, em Salvador, e também se passa no carnaval quando Joana decide acabar com a farra do grupo. “Primeiramente por ser um projeto do Bando de Teatro. Depois por trazer a temática da questão racial, mostrar o racismo mesmo. No Brasil, acho que o racismo é mascarado, jogado para baixo do tapete”, completa. O filme Ó pai, ó está disponível no serviço on-demand Globo Play. O sucesso da fita garantiu até uma versão televisiva lançada em 2008 na Rede Globo.
Indicações de Fernanda Jacob, atriz e cantora
What happened, Miss Simone?
Lançado há dois anos na Netflix, o documentário What happened, Miss Simone? (O que aconteceu, senhorita Simone?, em tradução livre) retrata a vida conturbada da cantora, pianista e ativista Nina Simone. “Essa é uma obra que reverbera em consciência e luta”, comenta Jonathan Andrade, diretor de teatro.
Para o dramaturgo, essa é uma das obras que mais mexeu com ele, principalmente, porque mostrar um lado da Nina Simone, até então, incompreendido pelo grande público. “Tem a trajetória dessa monstruosa pianista e cantora e legitimação enquanto voz negra. É um ensaio de liberdade, compreensão e empatia”, defende.
Com direção de Liz Garbus, o documentário mostra desde os primeiros passos de Nina Simone, na época Eunice Waymon (o nome de batismo da artista), até os momentos mais difíceis tanto na carreira como na vida pessoal.
Indicações de Jonathan Andrade, diretor e dramaturgo de teatro
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