Por Pedro Ibarra*
Um longa com apenas dois atores vivendo uma discussão de relacionamento, que se passa em uma noite, com apenas uma casa como cenário e gravado em preto e branco. Todas essas características podem ser associadas a um filme maçante, mas não é isso que Malcolm & Marie entrega ao espectador. Muito pelo contrário, a produção traz uma poderosa história, interessante e com a capacidade de prender o público do início ao fim, trabalhando muito bem com as limitações impostas.
Malcolm & Marie trata da noite do casal logo após a estreia do primeiro filme de sucesso de Malcolm. O que deveria ser uma comemoração se torna uma grande briga. O motivo inicial é o fato do protagonista masculino não ter agradecido a parceira, mas conforme se passa a noite outros segredos são revelados, mostrando que a situação é muito mais profunda.
O roteiro é certeiro ao abordar temas de relevância como relacionamentos tóxicos, codependência, as falhas da indústria cinematográfica, as relações de trabalho, o racismo, as relações amorosas, tudo com apenas os dois personagens. Sam Levinson escreve e dirige o filme.
O que possibilitou todo o trabalho funcionar foram as brilhantes atuações de John David Washington (Infiltrado na Klan) e Zendaya (Euphoria), respectivamente Malcolm e Marie. Eles se entregam completamente para os papéis e possuem muita química em cena, tanto no amor, quanto no ódio. Entre gritos e sussurros, momentos dramáticos e cômicos, os dois estão inteiros e passam verdade no que interpretam.
Há muita movimentação dos atores, que várias vezes chegam a atuar fora de quadro, apenas com a voz. Esse aspecto apresenta uma proximidade do filme com a linguagem teatral e, ao mesmo tempo, dá a impressão que tudo é muito real, que os fatos estão sendo sentidos em cena. Então, por mais shakespeariano e surreal que seja o diálogo, os atores estão dando sentimentos convincentes às falas.
O que mais chama a atenção no filme, desde o princípio, é a escolha por gravá-lo em preto e branco. A decisão a priori é puramente estética para gerar um contraste interessante e uma fotografia de cenas bonitas. No entanto, o preto e branco fazem muito sentido no enredo. A composição de cores opostas também dita o tom de oposição do casal: duas pessoas que de uma forma ou outra se complementam, mas se encontram de lados distantes do espectro.
As escolhas de direção não param só no preto e branco, as câmeras usadas, o abuso de cortes em algumas situações, os planos longos e outros elementos cinematográficos trazem um dinamismo para o filme. O experimental e conceitual tem muito espaço e são usados como recursos, como saídas para as dificuldades claras de filmar com equipe reduzida.
As músicas também são um ponto alto da produção, muitas vezes escolhidas a dedo para complementar o que está sendo dito em cena. Um dos exemplos mais claros se dá logo na chegada dos personagens a casa, quando Malcolm se assoberba muito com o sucesso do próprio filme. Ele coloca uma música e começa a discursar sobre o próprio cinema, a música seguinte a tocar é Selfish, “egoísta” em português, da rapper Little Simz. “Eu sou tão egoísta”, canta a britânica ao fundo do discurso arrogante do protagonista. Um momento semelhante também é protagonizado por Marie, quando após uma primeira grande briga ela canta a música Get rid of him, “se livre dele” em tradução literal, de Dionne Warwick para Malcolm.
O lado musical é comandado pelo cantor Labrinth, parceiro de Levinson em Euphoria. A música e o silêncio são muito bem trabalhados para gerar emoção antes mesmo das discussões começarem. E assim como as escolhas musicais, a trilha sonora e a captação de sons têm papel muito importante para os sentimentos que o longa quer transmitir. Música e diálogo funcionam como uma dança e ambos têm espaço para brilhar e dizem muito sobre os personagens.
O filme foi gravado nos estágios iniciais da pandemia, o diretor Sam Levinson contou ao Correio que fez uma bolha para elenco e equipe. “Quem saia não voltava mais”, revelou na entrevista. E por conta disso teve que trabalhar com as ferramentas que possuía. As escolhas foi por explorar o interesse do público na briga dos protagonistas, com revelações constantes além de discursos fortes.
O cineasta mostrou que é possível sim fazer um filme interessante e relevante apenas com diálogo e apostou em misturar temas atuais para alcançar o público. Malcolm & Marie foge de discursos prontos e entrega reflexões profundas sobre um relacionamento doente, mas que vão muito além de apenas a história que está na tela, tocam em feridas da sociedade. O longa consegue, com o mínimo de recursos, fazer o máximo da arte: mover pessoas a pensarem a realidade que estão inseridas e buscarem construir um novo pensamento sobre o que é importante em um relacionamento.
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