Em Falas da terra, comunidades indígenas mostram que não há muito o que se comemorar no Dia do Índio e pedem mais atenção do governo e da sociedade
Depois do ótimo Falas negras (no Dia da Consciência Negra) e de Falas femininas (no Dia Internacional da Mulher), a Globo aproveita o Dia do Índio para exibir o especial Falas da terra, nesta segunda-feira (19/4), após o BBB21. No especial, representantes de vários povos indígenas narram, em primeira pessoa, as angústias, as demandas, os medos e os orgulhos de representarem os sobreviventes indígenas no país.
“De uma certa forma, as pessoas só se lembram da gente no dia 19 de abril. A sociedade não se lembra do índio o ano inteiro. Por isso nossa luta é diária. É pela nossa terra, nosso território, que para nós é vital. Mas é também pela nossa identidade”, afirma Beto Marubo, um dos índios que participam do especial. “O dia 19 de abril é mais um momento de reflexão do que de comemoração. Durante muitos anos, nós estivemos ligados ao atraso econômico e do desenvolvimento, o que não é verdade. Hoje, organismos internacionais reconhecem a importância de a gente ter protegido a terra”, completa Beto, que representa o povo Marubo e é uma das principais lideranças ativistas dos povos isolados do Brasil.
“No especial vou defender os povos isolados. A terra é muito importante para nós, mas nossa luta vai além. Precisamos também da consolidação de políticas públicas de inclusão dos povos isolados. No Pará, os Piripkura têm apenas dois sobreviventes e não têm proteção da Funai. É preciso que nos deem acesso a educação, trabalho. Mas o que a gente vê é um governo em que políticas são extintas e conquistas destruídas”, afirma Beto.
Para o ativista, falta representatividade do povo indígena no momento em são decididos os direitos e as políticas públicas destinadas a eles mesmos. “Tivemos uma representante na ONU que definitivamente não nos representa. E no Congresso Nacional é pior. Não temos nenhuma liderança. Nossas questões são discutidas por executivos e por gente ligada ao agronegócio retrógrado e ficamos reféns deles. É como dar a chave do galinheiro às raposas”, lamenta Beto. Ele completa que mesmo a Funai, que deveria se preocupar com as causas dos povos indígenas, hoje está nas mãos “do agronegócio e da grilagem” e é “praticamente contra o índio.”
Conheça quem participa do especial Falas da terra
Raoni Mektutire Kayapó (Povo Kayapó) – Uma das maiores e mais respeitadas lideranças indígenas do Brasil, Cacique Raoni é conhecido internacionalmente e já foi pré-indicado ao Prêmio Nobel da Paz por sua atuação na luta pela preservação da floresta e dos povos amazônicos.
Djuena Tikuna (Povo Tikuna – foto) – Djuena é cantora do Estado do Amazonas e foi a primeira indígena a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas. Sua luta é pela preservação da cultura e da língua indígena através da música.
Elisa Pankararu (Povo Pankararu) – Mestre em Antropologia e uma das grandes representantes da causa feminina indígena, que além de lutar pelos direitos dessas mulheres, também busca o reconhecimento dos indígenas urbanos.
David Kopenawa Yanomami (Povo Yanomami) – Uma das mais respeitadas lideranças indígenas do Brasil, David Kopenawa é membro da Academia Brasileira de Ciências. Sua luta é pelo respeito, direito à terra e preservação do meio ambiente através da ciência. Usa seus conhecimentos – oriundos da cultura indígena e sabedorias ancestrais de ervas medicinais e xamanismo – a serviço do desenvolvimento científico nacional.
Emerson Uýra – Emerson é bióloga e artista. Tem reconhecida atuação na luta pela preservação ambiental através da arte e pelo respeito à diversidade. Uýra se apresenta como uma “árvore que anda”, em referência ao seu conhecimento científico da biologia e das propriedades medicinais das plantas. Compartilha seu conhecimento em aulas de artes e biologia, performances artísticas, maquiagens, textos e instalações.
Alessandra Korap Munduruku (Povo Munduruku) – Líder indígena, detentora do prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (2020). Alessandra é uma voz potente contra os grandes empreendimentos e o garimpo na bacia do rio Tapajós. É ativista contra a invasão dos territórios indígenas e a favor da demarcação das terras indígenas e preservação das florestas.
Ailton Krenak (Povo Krenak) – Líder indígena, ambientalista, filósofo, escritor, poeta. A luta de Krenak pelo respeito ao indígena e pelo direito de ser índio no Brasil é conhecida nacional e internacionalmente. Krenak luta pelo direito do índio de interagir com o mundo não-indígena sem perder o vínculo com a própria cultura.
Daniel Munduruku (Povo Munduruku) – Daniel Munduruku é escritor e vencedor do prêmio Jabuti e do Prêmio de Literatura pela Unesco. Há anos, luta pela divulgação da cultura indígena e acredita que ela deva acontecer principalmente por meio da Educação. Daniel defende que o Dia do Índio seja um dia de consciência indígena e não uma data de celebração que reforça estereótipos, como acontece nos dias atuais.
Kunumi MC (Povo Guarani Mbyá – foto) – Werá Jequaka Mirim ficou conhecido internacionalmente como Kunumi MC quando participou da cerimônia de abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014.Sua principal luta é pela divulgação da cultura indígena e sua maior demonstração de resistência é pelo rap. Kunumi MC protesta em suas letras contra o desmatamento e a destruição do meio ambiente.
Dayana Molina – Estilista e dona de uma marca de moda, Dayana luta pela divulgação da cultura indígena e pratica sua resistência através da moda. Sua luta maior é pela ocupação de espaços e preservação do meio ambiente.
Lian Gaia – Lian é atriz e luta, através da arte, por mais espaços no teatro e no audiovisual para indígenas.
Myriam Krexu (Povo Guarani Mbyá) – Médica, Myriam é a primeira cirurgiã cardiovascular indígena do Brasil. Sua luta é para que todo indígena tenha acesso a uma educação básica de qualidade, para que consiga chegar na universidade sem tantas dificuldades.
Fernanda Kaingang (Povo Kaingang) – Advogada e Mestre em Direito Público, Fernanda Kaingang enxerga o Direito como arma de luta dos povos indígenas.
Beto Marubo (Povo Marubo) – Uma das principais lideranças ativistas dos povos isolados do Brasil, Beto é membro da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Sua luta é pelo direito ao território, à proteção física e cultural e pela autonomia dos índios isolados.
Mapulu Kamaiurá (Povo Kamaiurá) – Mapulu é a primeira pajé do Alto Xingu e uma das principais lideranças femininas indígenas brasileiras. Sua atuação em defesa dos indígenas é diversa e, entre outras frentes, inclui a preservação da floresta; da cultura indígena; seus costumes e valores ancestrais; saúde dos índios; e espaço da mulher na sociedade indígena.
Cristian Wariu (Povo Xavante) – Indígena mato-grossense do Povo Xavante, Cristian Wariu é Youtuber e influenciador digital. Entre as principais razões que o levaram a criar seu canal no Youtube, está sua luta para desmistificar estereótipos e mostrar o que é ser índio no século XXI.
Valdelice Verón Guarani Kaiowá (Povo Guarani Kaiowá – foto) – Liderança Guarani-Kaiowá, filha do líder assassinado, o Cacique Marcos Verón, é uma das principais porta-vozes de seu povo. Valdelice luta pelo direito à terra e à vida do povo Guarani-Kaiowá – e dos demais povos indígenas.
Bruno Kaingang (Povo Kaingang) – Primeiro indígena com título de Doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bruno é professor do Instituto Estadual de Educação Indígena Angelo Manhká Miguel, que ajuda na formação de outros professores indígenas. Sua luta é pela valorização da educação indígena, pelo direito a uma escola indígena adequada aos valores e práticas das tantas etnias existentes no país. Bruno é um grande defensor da importância dos rituais.
Maial Kayapó (Povo Kayapó) – Ativista indígena, Maial luta pela valorização e preservação dos costumes e da cultura indígena, e enxerga a pintura corporal como uma identidade dos povos indígenas.
Fêtxawewe Tapuya Guajajara (Povo Guajajara) – Estudante de Ciências Sociais na UNB (Universidade de Brasília), é uma das grandes jovens lideranças indígenas brasileiras. Filho do Pajé Santxie Tapuya, assumiu o comando da comunidade indígena Santuário dos Pajés, em Brasília, após a morte do pai, em 2014. Acredita que o ativismo jovem traz questões novas e fundamentais para o movimento indígena.
Telma Taurepang (Povo Taurepang) – Telma é coordenadora-geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), que representa nove estados e 23 organizações de mulheres indígenas. Ela defende a importância da terra e das organizações indígenas.