De forma consciente ou não, a atriz Elisa Volpatto entrou numa sequência de produções que tinham como temática a violência em diversos âmbitos. Ela diz que a movimentação teve início em 2016 com o espetáculo solo PULSO, inspirado na vida e obra da escritora Sylvia Plath.
A partir daí, o assunto apareceu em Assédio, narrativa do Globoplay com base na história do médico Roger Abdelmassih, acusado de abuso sexual de pacientes; Vítimas digitais, série do GNT que abordava crimes de exposição digital; e Bom dia, Verônica, da Netflix, que retrata diferentes casos de violência contra a mulher. Todas produções as quais Elisa integra o elenco.
“Não acredito muito em coincidências e acho que esse assunto da violência contra a mulher, seja na esfera social, política, doméstica acabou tomando o meu pensamento. Acho que comecei a movimentar muita energia nessa direção, consciente e inconscientemente”, explica em entrevista ao Próximo Capítulo.
Atualmente, Elisa se prepara para mais uma série. Ela está escalada para o elenco da segunda temporada de Aruanas, série do Globoplay, que no ano passado estreou na Globo, e que tem o meio ambiente como temática. Na trama, que teve as filmagens retomadas em janeiro, ela interpreta Ivona, uma conhecida ativista que volta da Europa para ajudar as aruanas.
“Tô animada, pois é uma série da maior importância que coloca as questões ambientais no centro do debate. E em tempos em que o Brasil alcança o recorde em desmatamento na Amazônia, é urgente que essas questões se apresentem para o grande público, mesmo que por uma obra de ficção”, afirma.
Confira na entrevista a seguir, Elisa Volpatto falando sobre as experiências nas séries e também os projetos criados em meio à pandemia.
Você vêm de uma sequência de séries que retratam situações que envolvem violência. Foi uma coincidência ou esses assuntos têm atraído a sua atenção nos últimos anos?
Em 2016, antes de participar de Assédio, no Globoplay, estreei no teatro um espetáculo solo chamado PULSO, inspirado na vida e na obra da poetisa americana Sylvia Plath – que foi uma escritora invisibilizada pelo contexto patriarcal e machista onde ela estava inserida nos anos 1950. E lembro que 2016 foi também o ano em que tiraram a presidenta Dilma e um momento em que essas estruturas de poder masculinas que têm nos regido até aqui ficaram muito mais evidentes para mim. Não acredito muito em coincidências e acho que esse assunto da violência contra a mulher, seja na esfera social, política, doméstica acabou tomando o meu pensamento. Acho que comecei a movimentar muita energia nessa direção, consciente e inconscientemente. E quando surgiram então Assédio (Globoplay), Vítimas digitais (GNT) e agora Bom dia, Verônica (Netflix) parece que tudo foi fazendo cada vez mais sentido pra mim. Quero falar desses assuntos. Quero trazê-los para a pauta e com isso mover as estruturas. A arte serve pra isso, né?
Você vive a quase vilã Anita em Bom dia, Verônica, série da Netflix que teve uma ótima repercussão com público e crítica. Como avalia a sua experiência na trama? E já podemos pensar em ver Anita novamente na sequência?
A Anita foi um superpresente! É uma personagem complexa, que ajuda a aprofundar o debate sobre feminismo na série, na minha opinião. Se ela fosse um homem talvez não tivéssemos tanta surpresa com relação às suas atitudes, mas quando vemos uma mulher reproduzindo um comportamento machista daquele jeito, percebemos o quanto estamos todos emaranhados numa ideia de poder pautada pelo masculino. Ela provavelmente cresceu vendo as relações se estabelecerem dessa forma e, talvez, por isso veja com naturalidade se comportar assim com outras mulheres. É triste e ao mesmo tempo é uma realidade. Tomara que possamos trabalhar ainda mais essa sua complexidade na segunda temporada. Tenho vontade de ir mais a fundo na intimidade dela, compreender o passado dessa mulher e o por quê de ela agir de forma tão hostil num ambiente em que ela já ocupa um lugar de poder. Penso que devem ter acontecido muitas coisas da criação dela que a fizeram ser essa pessoa. Também tô ansiosa pra saber como o Rapha (Raphael Montes) e a Ilana (Casoy) vão desenvolver essa trama!
Você estará na segunda temporada de Aruanas. Tem algo que você pode adiantar sobre a segunda temporada da série e da sua participação?
Interpreto Ivona, uma conhecida ativista que volta da Europa para ajudar as aruanas na mais importante missão da história delas, que tem a ver com a sobrevivência da própria ONG. Agora, o porquê de ela voltar, que é o seu melhor fio condutor, vocês vão ter que assistir pra saber… (risos). Retomamos as filmagens em janeiro. Tô animada, pois é uma série da maior importância que coloca as questões ambientais no centro do debate. E em tempos em que o Brasil alcança o recorde em desmatamento na Amazônia, é urgente que essas questões se apresentem para o grande público, mesmo que por uma obra de ficção.
Na pandemia você lançou um curta-metragem. Como foi essa experiência? Acredita que o audiovisual terá influência dessas iniciativas feitas na quarentena? O que vislumbra desse futuro pós-pandemia para o audiovisual?
Todos nós tivemos que nos reinventar durante esse período. Diante da necessidade o ser humano se faz muito criativo. Foi algo muito especial poder fazer esse curta, que foi uma idealização do diretor André Gustavo. O meu companheiro, Guto Portugal escreveu o curta pensando em um retrato íntimo de como algumas pessoas se sentiram num momento em que estávamos todos, como inconsciente coletivo, muito conectados com a morte. Sou super orgulhosa do resultado porque a gente usou o que tinha, foi filmado no nosso apartamento, com meu celular, a gente usou da nossa sensibilidade para criar mesmo no meio de muitas adversidades. Tenho certeza que essas “novas formas de produção” vão influenciar o audiovisual como um todo e vejo isso como algo maravilhoso e potente. Para quem não assistiu ainda, o projeto se chama Crônicas da Pandemia e o nosso curta E se fossem crianças está disponível no meu IGTV (@evolpatto). Para assistir aos outros curtas do projeto é só acessar o site da O2 Filmes, que entrou de parceira na finalização do trabalho.
Você deve estrear no próximo ano no longa-metragem Depois de Ser Cinza. O que pode contar sobre o filme e a sua personagem?
É o primeiro longa do diretor gaúcho Eduardo Wanmacher. É um drama que acompanha o personagem Raul (João Campos) se relacionar com três mulheres diferentes ao longo de sua vida. Minha personagem, a Isabel, é uma artista plástica radicada na Croácia que está em crise com o trabalho e com seu relacionamento. Num impulso ela resolve largar tudo o que construiu ali e se reinventar enquanto artista e mulher. Nessa trajetória acaba conhecendo Raul. Além do João, estão no elenco as atrizes Branca Messina e Silvia Lourenço. Além desse filme, no próximo ano estarei envolvida no processo criativo do novo espetáculo do VULCÃO [criação e pesquisa cênica], o coletivo de teatro do qual eu faço parte aqui em São Paulo. Vamos adaptar a obra Orlando, da Virginia Woolf , que conta a história de um homem que após 300 anos de vida, acorda mulher. A peça será dirigida por Vanessa Bruno, que também dirigiu o meu solo PULSO, sobre Sylvia Plath.
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