O Sétimo Guardião Eduardo Speroni: "o ator tem que experimentar" Eduardo Speroni: "o ator tem que experimentar"

Leia entrevista com Eduardo Speroni, o Bebeto de O sétimo guardião

Publicado em Entrevista

Eduardo Speroni fala ao Próximo Capítulo sobre a estreia na televisão em horário nobre, sobre preconceito e de declara um otimista: “Acredito que estamos caminhando para uma sociedade menos preconceituosa”

Quando um ator estreia em uma novela ou filme, costumamos nos perguntar: o que será que ele tem a ver com o personagem? Se a pergunta fosse feita a Eduardo Speroni, o Bebeto de O sétimo guardião, a luta pelo o que acredita poderia ser uma boa resposta.

Se na trama de Aguinaldo Silva, Bebeto tem que enfrentar o pai, Nicolau (Marcelo Serrado), para se tornar um dançarino profissional, longe das câmeras, Eduardo teve que convencer os pais a apoiar a decisão de ser ator. “Quando provei para os meus pais que minha trajetória envolvia muito esforço, estudo e dedicação, consegui mudar o pensamento deles. Atualmente, eles me apoiam integralmente. Essa trama será importante para quebrar esse estigma na sociedade, esse preconceito que impossibilita muitos jovens de seguirem os próprios desejos”, afirma Eduardo, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Em sua primeira novela, Eduardo mostra que é um ator esforçado, talvez herança dos palcos, onde ele se destacou em espetáculos como Caranguejo Overdrive. Por isso, ele fez questão de aprender a dançar para viver Bebeto nas telas e de dispensar dublês nas cenas.

Leia a entrevista com Eduardo Speroni!

Eduardo Speroni: “Quando provei para os meus pais que minha trajetória envolvia muito esforço, estudo e dedicação, consegui mudar o pensamento deles”

Bebeto aparece dançando em várias cenas de O sétimo guardião. É você mesmo que dança?
Sim, sou eu. Não estamos utilizando dublê.

A dança já fazia parte da sua vida ou entrou por causa da novela?
Entrou por causa da novela. No teatro, sempre trabalhei o corpo. Sendo um instrumento muito presente em alguns espetáculos que fiz, principalmente no mais recente, o Caranguejo Overdrive, da Aquela Cia. de Teatro. Mas dançar profissionalmente era algo que nunca tinha feito. Portanto, para a novela fiz quase dois meses de preparação de dança; tive aulas com a Sonia Destri Lie (Cia. Urbana de Dança). Passamos pelos fundamentos e depois nos aprofundamos no streetdance ー estilo que eu conhecia, mas nunca havia praticado. Ao longo das gravações, pretendo continuar com as aulas, porque acredito que o aprendizado não pode parar.

Bebeto tem que enfrentar o preconceito do pai, Nicolau (Marcelo Serrado), para seguir carreira como dançarino. Muitas vezes isso acontece com atores também. Você viveu ou conhece quem viveu esse tipo de situação? Como enfrentá-la?
Também enfrentei resistência familiar para realizar o meu desejo de ser artista. Penso que esse estigma e/ou preconceito esteja vinculado à ignorância de alguns que acreditam na ideia de que todo artista é um “vagabundo”. Quando provei para os meus pais que minha trajetória envolvia muito esforço, estudo e dedicação, consegui mudar o pensamento deles. Atualmente, eles me apoiam integralmente.

Não é só Bebeto que sofre com Nicolau. A irmã dele não pode contar ao pai que luta. Na sua opinião, o preconceito ainda está muito presente na criação do jovem brasileiro?
Sim, o preconceito está na criação do jovem brasileiro. Entretanto, tento ser otimista. Acredito que estamos caminhando para uma sociedade menos preconceituosa. Mas ainda estamos longe. Precisamos dar muitos passos a frente. Infelizmente, muitos jovens continuam sendo vítimas de homofobia na escola. Dentro de casa, o patriarcado dominador e a figura machista do pai ainda estão muito presentes. Isso tem que mudar, o jovem precisa ter sua liberdade individual garantida. A diversidade deve ser respeitada.

Com tanto acesso à informação não era para as pessoas estarem mais conscientes quanto ao direito do outro?
Na teoria sim, mas na prática a coisa é diferente. A internet possibilita a dissipação de mensagens conscientizadoras. Isso não podemos negar. Mas, ao mesmo tempo, ela permite que o ódio seja pregado em larga escala. A quantidade de “haters” é descomunal. Às vezes um post feito por uma mulher levantando uma crítica feminista, expondo, assim, alguma atitude machista, recebe uma enxurrada de comentários negativos, o que a deixa ainda mais receosa em se expor. Além disso, essa repressão e ódio podem afastar o leitor que estaria disposto a repensar suas atitudes. Portanto, acredito sim que a internet seja importante para expressar qualquer forma de ativismo, mas devemos ter cuidado, pois ela pode acabar distorcendo nossas mensagens.

Nesse sentido, a novela pode servir como mais uma dessas fontes de informação?
Com certeza. A novela é assistida por milhares de brasileiros. O que estamos comunicando é capaz de transformar culturalmente a sociedade. Tocamos em temas polêmicos que, na minha opinião, devem ser criticados e levados a debate. No caso do Bebeto, o Nicolau acha que a dança fere a masculinidade do filho, portanto, reprime seu sonho. Essa trama será importante para quebrar esse estigma na sociedade, esse preconceito que impossibilita muitos jovens de seguirem seus próprios desejos.

O Bebeto é mais novo do que você. Ter passado pela fase em que ele está te ajuda a compor o personagem?
Sim. Essa idade é um momento de muitas descobertas.Os pensamentos e o corpo vibram, pois os hormônios estão à flor da pele. Ter passado por essa fase me traz uma memória afetiva que me ajuda a compor. Mas não acredito que seja algo essencial para a criação de um personagem. Está no ofício do ator ter que absorver personalidades totalmente distintas à dele. Por isso, temos aquela máxima: “se você vai fazer um papel de assassino, não precisa ter matado alguém para isso”. (Risos)

Além do Bebeto, você fez uma participação em Sob pressão e está em Impuros, com personagens bem distintos. Como é para um ator tão jovem poder diversificar?
É um desafio muito prazeroso. Como artista sempre busquei a versatilidade. Cada personagem é uma história nova, portanto cabe a nós intérpretes caminhar por diferentes tramas e poder representar diversas personalidades.

Em sua primeira novela, você já tem um papel polêmico e escrito por Aguinaldo Silva. A pressão por isso é muito grande?
A pressão é grande. O Aguinaldo sempre foi uma grande referência da televisão brasileira. Poder representar um de seus personagens é um grande desafio. Estou me esforçando e agarrando com unhas e dentes essa história.

Antes de chegar à tevê você construiu uma carreira sólida no teatro. O palco te dá segurança para encarar a tevê ou são coisas completamente diferentes?
Teatro e televisão são diferentes. Mas posso dizer, com toda certeza, que a minha formação no teatro me ajuda. Principalmente no momento de criação e composição do personagem. Essa experiência teatral me traz uma segurança, uma capacidade intuitiva de sentir o que pode funcionar em cena ou não. Além de toda a consciência coletiva que o teatro traz, o aprimoramento do “fazer em grupo”. Porém, na execução, a interpretação tem outro tom. A televisão acaba sendo mais naturalista. O audiovisual como um todo tem isso, devido ao ponto de vista da câmera, que é muito mais minucioso. Trazendo assim, o desafio de dosagem, de não extrapolar o tom.

Vivemos num país em que os atores de televisão acabam tendo mais reconhecimento do público e, muitas vezes, da crítica. Você se cobrava estrear na tevê?
Não me cobrava, mas eu tinha o interesse. Para mim, o ator tem que experimentar. Ter a oportunidade de passar por todos os meios. Eu já vinha atuando em teatro e cinema. A cobrança vem no trabalho e não no resultado. A cada dia, me esforço em dar ao público e à crítica um trabalho em constante desenvolvimento.