André Luiz Miranda volta à Globo para viver Vinícius em Malhação – Vidas brasileiras. Em entrevista, o ator fala sobre novela, teatro, carreira e racismo. Confira!
Aos 30 anos, André Luiz Miranda soma quase 20 de carreira. O ator cresceu na frente das telas e o menino Tiziu de Terra nostra (1999) se tornou o Vinícius, de Malhação – Vidas brasileiras.
O personagem participa de uma interessante discussão sobre tolerância religiosa, quando, mesmo sendo evangélico, ajuda na reconstrução do terreiro de candomblé de Talíssia (Luellen de Castro), por quem acaba se apaixonando.
Se na ficção a intolerância religiosa persegue Vinícius, na vida real é o preconceito racial que tira André Luiz do sério. “O simples fato de falar que o cabelo é ruim , atravessar a rua quando te vê, o segurança te seguir na loja…isso é RACISMO. Temos a maior população negra fora da África, temos vários artistas de qualidade e, ainda sim, só fazemos papéis escritos para negros. Na maioria das vezes fazemos personagens que não são bem sucedidos e carregamos o estereótipo que a tevê delimita. Mas ainda tenho esperança”, desabafa.
O sorriso volta ao rosto do ator quando o assunto é a paternidade. “Ser pai me transformou e me fez enxergar o mundo de outro jeito! Sou mais maduro agora por conta da paternidade e, com isso, os personagens e minha visão sobre eles amadureceram junto”, reflete.
Polivalente, André Luiz também pode ser vistos nos palcos em O jornal, espetáculo dirigido por Lázaro Ramos. O ator fala sobre teatro, Malhação, paternidade e muito mais em entrevista ao Próximo Capítulo.
Confira entrevista completa com o ator André Luiz Miranda!
Há duas temporadas, Malhação tem tocado em temas mais “duros”, como assédio e intolerância. Como uma novela pode ajudar em questões delicadas como essa?
A novela brasileira de um tempo pra cá se especializou em abrir espaços para questões importantes do nosso dia a dia . É um produto de grande influência na nossa sociedade que aborda sobre diversos assuntos e faz com que o telespectador reflita.
O Vinicius trabalha numa ONG que consegue parceria com o Sapiência e leva jovens carentes ao ensino particular e alguns dos meninos sofrem preconceito com esse choque cultural. Como falar sobre aceitação para o público jovem sem ser careta, didático?
O jovens hoje em dia são mais atuantes . Vivemos em um mundo globalizado onde eles precisam se identificar com o que está sendo dito. Não pode ser fake , temos que tornar a história mais próxima possível. Antes de começar a novela, rolou encontro com alguns desses jovens para ouvir suas histórias e desse jeito eles se sentem representados ali.
Esta é a sua segunda temporada de Malhação, agora com um papel bem maior. Como é atuar na novela teen?
Em 2008 fiz uma pequena participação. Por isso considero essa a minha primeira temporada efetivamente. Estou muito feliz de fazer parte dessa obra, com essa equipe, com histórias interessantes, muito dinâmica e muito solar. É lindo ver vários atores jovens com amor e comprometimento neste trabalho.
Há muito tempo vemos atores negros reclamando da falta de espaço e de papéis de destaque na dramaturgia. Esta temporada de Malhação tem um diretor de escola negro. Essa situação está mudando, mesmo que aos poucos?
Estamos a passos bem lentos. Temos a maior população negra fora da África, temos vários artistas de qualidade e, ainda sim, só fazemos papéis escritos para negros . Em uma novela de 40 personagens 2, 3 são negros. Na maioria das vezes fazemos personagens que não são bem sucedidos e carregamos o estereótipo que a tevê delimita . Mas ainda tenho esperança.
O Brasil de hoje é um país menos racista do que há 30, 40 anos?
O racismo está na construção mental do brasileiro . Acontece que hoje em dia as pessoas não falam o que pensam e o que sentem sobre isso por conta da repercussão. O movimento negro está se unindo graças à internet. Hoje, com as redes sociais, qualquer ato racista toma uma proporção gigante.
Você já sofreu muito com isso?
Sim, já sofri. O simples fato de falar que o cabelo é ruim , atravessar a rua quando te vê, o segurança te seguir na loja…isso é RACISMO.
Com apenas 30 anos, você tem quase 20 de carreira. Como foi passar a infância e a juventude em frente às câmeras?
Eu sempre gostei de fazer tudo relacionado a arte na escola . Poder crescer fazendo o que gosta é lindo! Foi um período de muito aprendizado e trabalhar com grandes atores me formou enquanto artista.
Você está em cartaz no teatro com O jornal, com direção de Lázaro Ramos. Ser dirigido por um ator facilita o processo?
Lázaro é uma referência. Ser dirigido por ele foi um grande privilégio. Ele já passou por muita coisa e sua visão artística facilitou no processo. Ele fala a nossa língua, entende nossa cabeça, sabe onde nós podemos chegar. Lázaro é um cara direto, que sabe o que quer sem rodeios. Eu acho que o teatro é transformador, uma lugar de reflexão . Um dos poucos lugares que podemos contar histórias sem censura. Por enquanto.
Você tem uma filha pequena. Ser pai mudou sua forma de atuar?
Foi a melhor coisa que me aconteceu. Ser pai me transformou e me fez enxergar o mundo de outro jeito! Sou mais maduro agora por conta da paternidade e, com isso, os personagens e minha visão sobre eles amadureceram junto.
Além de ator, você é empresário, tendo sido dono de um restaurante no Rio de Janeiro. Viver de arte no Brasil é complicado?
Diante das necessidades, da instabilidade financeira que é a vida de artista no Brasil, muitos abandonam o sonho para trabalhar onde possam buscar o equilíbrio para suprir essas necessidades. Ainda temos pouco mercado, poucos brasileiros consomem teatro/exposição/shows …. Os artistas precisam se virar de alguma forma.
Entre Pecado mortal e O rico e o Lázaro foram quatro anos. O que você fez nesse período?
Logo após Pecado mortal, me juntei com uns amigos e resolvi entrar no ramo gastronômico. Montamos um restaurante na zona norte do Rio. Foi uma experiência totalmente diferente de tudo que já vivi . Foi bem difícil e desafiador.
Fazer 30 anos costuma ser um marco. A idade pesou de alguma forma para você ou essa não é uma preocupação?
Não. Nunca foi uma preocupação. Sempre vivi sem pensar na questão da idade. Acho que o fato de ser pai pesou mais pela responsabilidade que aumentou, mas isso ia acontecer independente da idade.