No ar como Petra em Terra e paixão, Débora Ozório, de 26 anos, é uma das principais revelações de uma nova geração formada pelo teatro
Por Patrick Selvatti
Durante quase três décadas, a televisão brasileira contou com a Malhação — soap opera teen da TV Globo que ficou no ar de 1995 a 2020 — para revelar atores e atrizes da nova geração. Do programa vespertino, surgiram nomes como André Marques, Alanis Guillen, Bianca Bin, Caio Castro, Cauã Reymond, Fernanda Vasconcelos, Humberto Carrão, Letícia Colin, Marjorie Estiano, Mariana Rios, Natália Dill, Priscila Fantin, Sophie Charlotte e Thiago Lacerda, dentre tantos que se destacam ainda hoje. Por esse motivo, o anúncio do fim da produção, em plena pandemia, preocupou. Afinal, a televisão brasileira ficaria sem o maior celeiro de novatos. Entretanto, os jovens talentosos sempre surgem na telinha, de um jeito ou de outro. A grande escola de atuação segue sendo o teatro, e esse é o caso de Débora Ozório, 26 anos e uma década de carreira.
Destaque em Terra e paixão com a personagem Petra, a jovem estreou a carreira artística nos palcos, ainda criança. Débora conta que se descobriu atriz de forma muito natural. “Eu fiz várias outras atividades para canalizar energia. Sempre fui uma criança muito ativa, muito expressiva e, em todos os lugares onde eu passava, sempre falavam isso: ‘bota ela no teatro’. Isso era muito recorrente”, conta a moça, que estreou profissionalmente aos 16 anos.
Três anos depois, Débora apareceu pela primeira vez na televisão, em Totalmente demais (2015), interpretando a personagem Gilda (Leona Cavalli), em flash back. Logo após, fez uma rápida participação em O Rico e Lázaro, na Record TV, também dividindo o papel — nesse caso, com Stephany Brito. De lá para cá, a carioca não parou mais. Na Globo, ela emendou duas novelas no horário das 18h: participou da reta final de Tempo de amar (2018) — também em flash back, como Deborah Evelyn jovem — e, no mesmo ano, ganhou a primeira personagem fixa, aos 21 anos. Em Espelho da vida, deu vida a Pat, uma adolescente deslumbrada, que sonhava em ser atriz e fazia de tudo para participar do filme que estava sendo rodado na pequena cidade onde se passava a trama. Fã apaixonadíssima do galã da produção (interpretado por Rômulo Neto), a garota fazia loucuras para se aproximar dele — algo que Débora garante nunca ter feito. “Eu sempre admirei muitas pessoas, tenho várias referências, mas nunca faria as mesmas coisas que a Pat faz”, declarou a atriz, em entrevista na época.
Identificações
Em sua curta carreira, Débora encontrou a oportunidade de contracenar com grandes nomes de uma geração mais antiga da dramaturgia nacional, como Irene Ravache, Ana Lucia Torre, Renata Sorrah, Lima Duarte e, agora, Tony Ramos e Glória Pires, que interpretam seus pais em Terra e paixão. Ainda que não se coloque como a tiete deslumbrada Pat, a jovem atriz reconhece a honra de estar ao lado desses veteranos. “A gente cresce assistindo esses artistas na televisão. Eles contam a história da dramaturgia brasileira. Então, é muito especial. Sem dúvida, eu me sinto muito feliz, muito honrada. E vou com a minha escuta muito aberta para aprender o máximo com esses gigantes, com essas figuras grandiosas”, revela ao Próximo Capítulo.
Se com Pat a identificação entre atriz e personagem era mínima, com a atual, Petra, apesar de ser uma moça problemática, viciada em remédios tarja preta, Débora pontua mais semelhanças. “Eu me identifico na coragem. Acho que, apesar de ser uma menina sensível e frágil, ela é uma mulher corajosa também. Que tenta, de algum jeito, impor os seus desejos. Por mais que ela seja atropelada, né? Diferente de mim. Mas eu, Débora, me identifico com a coragem dela”, afirma, referindo-se à intensidade com que a agrônoma da trama das 21h se atira em suas paixões, a ponto de ser vítima de um trambiqueiro italiano, inspirado no golpista do Tinder.
Responsabilidade
Coragem e intensidade são duas palavras que a atriz, que é escorpiana, conhece bem. Entre a Pat e a Petra, Débora interpretou personagens com abordagens marcantes dentro do universo juvenil. Como a Dora, de Filhas de Eva, série da Globoplay em que atuou em 2021, ao lado de Giovanna Antonelli, Dan Stulbach, Vanessa Giácomo e Renata Sorrah. Em meio aos conflitos da mãe e da avó essencialmente submissas, a adolescente frustrava os planos da família de vê-la decolando na carreira de modelo e, fugindo do estereótipo de bonequinha, que esmagava seu temperamento rochoso, levantava a bandeira feminista com propriedade e maturidade. “Eu sou mulher, então eu não acredito que tenha como negar o feminismo. Ele está em mim. Mas eu acredito também que existem camadas sobre o feminismo e entendimentos de momentos”, observa, ressaltando que Dora era uma menina mais jovem, vivenciando a descoberta do que era ser mulher. “Penso que [o feminismo] está para nós de todo jeito, mas cada uma tem uma profundidade e um entendimento diferentes”, frisa.
Já a Olívia, sua última personagem, em Além da ilusão (2022), era uma moça de época, uma operária com personalidade forte e decidida que se torna líder dos funcionários em busca de melhores condições de trabalho. Ao longo da trama, a tecelã se descobriu apaixonada por um padre, vivido por Jayme Matarazzo, que acaba se entregando a esse amor, renegando seus votos e abandonando a batina, o que escandalizou a sociedade. E agora vem Petra, uma mulher rica que enfrenta um sério problema emocional e traz o debate sobre a dependência de medicamentos.
“Essas abordagens densas enriquecem muito o meu trabalho e é muito grandioso poder falar sobre temas tão importantes. Não tenho medo da responsabilidade que isso traz, eu lido como uma forma de dedicação, e não de peso. Faço laboratórios para me integrar nesses assuntos e fazer a melhor entrega possível a essas realidades. Então, eu lido dessa forma, mas, sem dúvida, é uma responsabilidade, e eu tenho consciência disso”, avalia Débora, mostrando-se preparada para os rumos que o autor, Walcyr Carrasco, definir para a personagem.
De acordo com a sinopse original de Terra e paixão apresentada à emissora, Petra poderá passar de Miss Tarja Preta — forma jocosa com a qual o pai a trata — a uma vilã, após perder o crush — Luigi, interpretado pelo brasiliense Rainer Cadete — para a própria mãe. A atriz, entretanto, não confirma nem nega as especulações. Contudo, independentemente de qual estrada a caçula do clã La Selva irá percorrer, a intérprete já mostrou que dará conta do recado.