“É importante mostrar o Brasil para o Brasil”, afirma Carla Elgert

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Atriz gaúcha protagoniza série independente gravada no Mato Grosso e exibida em uma tevê estatal

Patrick Selvatti

Protagonista de Entre longes, série independente de 10 episódios exibida desde 11 de abril na TV Brasil, a gaúcha Carla Elgert dá vida a Rachel, uma enfermeira suíça que, depois da Segunda Guerra Mundial, decide recomeçar sua vida em um lugar distante. Ela vem ao Brasil trabalhar no posto de saúde de um município do interior de Mato Grosso. Em uma localidade inóspita e sem recursos, a personagem se torna o único atendimento da população. A obra é livremente inspirada na vida de Rachel Steingruber, uma desconhecida enfermeira que dedicou a vida ao atendimento de saúde.

Rachel se mostra uma mulher forte em um contexto extremamente machista e enfrenta grandes desafios na comunidade. “Se hoje, o acesso ainda é difícil, imagina na década de 50?”, indaga a atriz que a defende. “Já estamos evoluindo nesse aspecto, mas ainda assim longe de um ideal. Nosso país é enorme e as regiões mais populosas logicamente serão atendidas antes. Personagens da vida real como Rachel são importantes para mudar o contexto de uma região”, avaliou Carla.

No primeiro episódio, Rachel é indagada sobre “por que ela foi parar nesse fim de mundo”, se referindo ao Mato Grosso. Rachel responde: “Enfermeira, quanto mais longe, mais pode ajudar.” Para a a intérprete, há um poder nessa fala. “Mergulhei muito nesse universo e, conversando com muitas enfermeiras, percebi em comum uma vontade real de ajudar o ser humano, de cuidar”, acrescentou Carla Elgert que iniciou sua carreira na sua terra natal, o Rio Grande do Sul, e, aos 23 anos, após gravar a série Minha primeira onda, para o Canal Off, se mudou para o Rio de Janeiro devido ao amor pelo mar e em busca de expandir a carreira. Na série, estilo reality, a gaúcha de Porto Alegre aprendeu a surfar do zero.

Rachel é a primeira protagonista em séries, mas Carla já atuou em diversas produções nacionais. Em Cidade invisível, na Netflix, viveu Luiza, mãe do protagonista Eric (Marco Pigossi). A atriz também atuou na segunda temporada de Pico da neblina, na HBOMax, dando vida à Brisa, patricinha inserida no mundo canábico, cheia de más intenções, e foi a antagonista Bianca, na série Proibido para maiores, da Amazon Prime. Já no cinema, a atriz viveu Natasha, uma personagem cheia de contradições no premiado longa-metragem Maverick Manhunt Brazil, vencedor do prêmio Spotlight do Los Angeles Brazilian Film Festival.

A gaúcha celebra o fato de estar inserida em um produto com o DNA do Mato Grosso, um estado que não tem muita presença no audiovisual que se faz no Brasil. “Ajudar o comerciante do bairro está fazendo sentido, né? Sinto que é um movimento global. Mostrar o Brasil para o Brasil, sabe? Não conhecemos tudo do nosso país. E é importante incentivar isso, dar vazão. Isso traz autoralidade, identidade, verdade”, defendeu Carla.

Carla Elgert como Rachel, em Entre longes | Divulgação

ENTREVISTA | Carla Elgert

A série Entre longes foi gravada no mato grosso. Como se deu esse processo?

Como foi uma série ambientada na década de 50, teve um grande desafio na direção de arte. O figurino também, que foi produzido exclusivamente para a série. Lembro quando vi os diversos desenhos de cada figurino da Rachel feito pela Jane Klitzke, fiquei emocionada. Entre longes é uma série dramática médica que tem como subgêneros o romance e nuances de comédia e promete momentos fortes emoções e conflitos. Levou 12 meses para ficar pronta e contou com uma equipe de mais 300 profissionais, incluindo elenco e figurantes. E como a nossa diretora Samantha Col Debella falou: “Ter Entre longes em horário nobre numa das maiores emissoras públicas do país é motivo de orgulho não só para mim, como roteirista e diretora, mas com certeza para toda a equipe. Essa estreia é o reconhecimento da qualidade da obra, resultado do trabalho de muitas mãos. Mato Grosso está mostrando que sabe fazer audiovisual competitivo e poder ganhar o mundo”.

Qual a importância de se falar do acesso à saúde em áreas mais isoladas dentro de um país tão grande como o nosso?

Se hoje, o acesso ainda é difícil, imagina na década de 50? Já estamos evoluindo nesse aspecto, mas ainda assim longe de um ideal. Nosso país é enorme e  as regiões mais populosas logicamente serão atendidas antes. Personagens da vida real como Rachel são importantes para mudar o contexto de uma região. E essa é uma historia real, existem muitos elementos de ficção na série, mas a Rachel existiu e ela foi um grande elemento transformador na região. Trouxe informação, acolhimento, o mínimo de dignidade e saúde para as pessoas que viviam naquela região e não tinham nenhum tipo de atendimento e acesso. Uma localidade inóspita e sem recursos onde ela se torna o único atendimento das pessoas locais. No primeiro episódio Rachel é indagada sobre “por que ela foi parar nesse fim de mundo”, se referindo ao Mato Grosso, e Rachel responde: “Enfermeira, quanto mais longe, mais pode ajudar.” Acredito muito no poder dessa frase. Mergulhei muito nesse universo e conversando com muitas enfermeiras percebi em comum uma vontade real de ajudar o ser humano, de cuidar.

O que tema  dizer sobre a descentralização do cenário no audiovisual?

Ajudar o comerciante do bairro está fazendo sentido, né? Sinto que é um movimento global. E sinto que essa descentralização está aumentando a possibilidade da gente se relacionar com os nossos assuntos, nossa história. Precisamos nos relacionar com nossa cultura em todos os aspectos e o Mato Grosso tem se tornado um polo do audiovisual, mergulhando nas suas riquezas e podendo levar isso ao grande público. Acho lindo poder dar voz a produtos locais. É trabalho, espaço pra mais gente. Mostrar o Brasil para o Brasil, sabe? Não conhecemos tudo do nosso país. E é importante incentivar isso, dar vazão. Isso traz autoralidade, identidade, verdade.

E é bacana esse incentivo político a produções independentes, já que a série é uma produção da TV Brasil, ligada ao Estado…

É importantíssimo. Sem esse apoio muitas produções não seriam possíveis. E muitas histórias não seriam contadas. Temos um país tão rico de gente, de cultura. Incentivar as produções independentes é deixar o brasil mais colorido, mais plural e mais consistente. Acredito muito na arte como um meio transformador. A cultura abre a cabeça das pessoas, traz informação, capacidade de argumentação, criação de opinião, sensibilidade. Também faz as pessoas se sentirem vivas, tem papel terapêutico, no processo de cura, traz expressão, fluidez. Incentivar produções artísticas sempre trará benefícios a um país.

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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