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Dudu de Oliveira, de Gênesis, realiza sonho de criança ao estrelar novela

Publicado em Novela

Intérprete de Abumani em Gênesis, Dudu de Oliveira comemora 15 anos de carreira como um estreante, fazendo a primeira novela

Quando Dudu de Oliveira era criança, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), ele gostava de assistir a novelas ao lado da avó e da mãe, “duas mulheres pretas apaixonadas por novelas”. A violência que vivenciava no dia a dia afastava cada vez mais o menino do sonho de ser ator. “A violência era maior do que a arte”, reflete.

Agora, já são 15 anos de carreira no palco. E, finalmente, a primeira novela. Dudu é Abumani na novela Gênesis, da Record. “Quando entrei no projeto, a sensação era a de que eu estava sonhando, e que todo meu esforço em processo de testes e mais testes tinha dado resultado. Depois que decidi ser artista, desejei muito me ver nas telas. Sou um cara muito sonhador, um contador de histórias, e poder estar numa produção como essa, com um elenco coeso e uma equipe incrível, é motivo de orgulho pela minha caminhada de anos”, afirma em entrevista ao Próximo Capítulo.

Mas não pense que essa demora para brilhar na telinha foi proposital. “Se fosse por mim já teria acontecido. Mas acredito que tudo tem seu tempo, e muitas coisas aconteceram nesse percurso”, explica, entre risos. “Esse foi o meu tempo de maturação para viver de forma genuína o que estou vivendo agora. Que bom ter resiliência, pois nunca perdi a esperança”, completa.

Abuami é um arqueiro que exigiu de Dudu uma preparação voltada para a parte física. O ator, dedicado, teve aulas de boxe, muay thai, musculação, arco e flecha e ainda aprendeu a andar a cavalo. Mas nada disso antes de se preparar intelectualmente, espiritualmente para o papel.

“Minha maneira de criar meus personagens é muito espiritual e sensível. Então, fomos buscar similaridades com o personagem. Cada personagem me permite curar emoções que estão em aberto e ainda precisam ser resolvidas, e o Abu é minha desculpa para emprestar esses sentimentos que ainda estão ocultos. Concebemos o seu perfil psicológico e espiritual e, a partir daí, fui buscar esportes”, conta Dudu, lembrando-se do preparador de elenco Eduardo Silva, que o ajudou bastante.

Uma das coisas que chamam a atenção em Abuami é a amizade dele com José (Juliano Laham). Os dois são de mundos completamente diferentes, mas estão presos juntos. Mais do que isso: sofrem juntos. Abuami teve a família dizimada e José foi vendido pelos próprios irmãos. “Acredito na conexão deles pelo caráter – ambos possuem uma alma linda. Eles se conhecem em uma situação inóspita na qual estão inseridos, e o que os aproxima é necessidade de amor, esperança e afeto. Eles passam dias e noites presos, fazendo tudo juntos e, por mais diferenças que tenham entre si, acabam se unindo na luta contra a opressão que sofrem nessa travessia”, explica.

Três perguntas // Dudu de Oliveira

Foto: Sérgio Rousselet/ Divulgação

É muito diferente estar nos palcos e no set de gravações? Quais foram as suas maiores dificuldades no início?
Com toda certeza é diferente, pois num set de filmagem existem outras demandas: a equipe é maior, os equipamentos são caros, mas a responsabilidade também é gigante. O teatro é a paixão, o tesão, o gozo. É onde nós, atores, nos debulhamos em sentimentos, onde vemos a reação do público instantaneamente. O palco é meu bálsamo, me sinto saudoso desse contato direto com a plateia.

O racismo é uma temática constante na sua carreira teatral. Qual a importância de usar a arte para falar de um tema tão essencial?
O racismo acontece diariamente ao atravessar o portão de casa. Por mais bem sucedido que você seja, sempre será julgado pela cor da sua pele. O racismo estrutural, institucional e recreativo autoriza essas opressões. Eu resolvi usar a arte para comunicar minhas insatisfações, para que meu grito fosse ouvido. Nada melhor do que os palcos para me autorizar de forma inteligente a verbalizar aquilo que meu peito rasga. Do fundo do meu coração, eu não queria falar de racismo e preconceito sempre, reiterando sempre as mesmas mazelas, mas queremos ter paz e menos tensões. E se ainda estamos falando é porque ainda não entenderam, falta empatia. Como falou Martin Luther King Jr, “pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre. O anseio pela liberdade eventualmente se manifesta.”

Ainda vemos poucos protagonistas negros na televisão brasileira. Isso está mudando lentamente. Como apressar esse processo?
Mudando toda a estrutura. Para que tenhamos oportunidades que condizem com as nossas capacidades, temos que ter pessoas pretas em todas as funções: escrevendo, dirigindo, atuando, investindo. Apesar de tudo que precisa ser feito, hoje, particularmente, eu agradeço pelas coisas relevantes na minha carreira artística. O processo é lento? É! Porém, está acontecendo, e sou muito grato a isto. Minha torcida é que a gente potencialize cada vez mais essas oportunidades. O surgimento dos streamings trouxe mais esperança de espaços de trabalho a todos nós. A minha torcida é que aumente o quadro de protagonistas negros e que as histórias sejam leves e cotidianas.