Domingão com Huck: a história da história documenta na Globoplay os bastidores do iníncio de um sonho e o choque de realidade do apresentador
Por Vinicius Nader
Ao redor de uma mesa, um diretor da rede Globo alerta aos participantes da reunião que eles estão diante de um acontecimento que não se repetia há mais de 30 anos e que, provavelmente, não iria ser visto novamente tão cedo. A cena do documentário Domingão com Huck: A história da história (Globoplay) mostra como foi formatado o então “novo” programa de Luciano Huck nas tardes de domingo da Globo.
Se você, como eu, é apaixonado por televisão, tente esquecer o produto final (ainda com cara de requentado, ainda mais com o anúncio da Dança dos famosos para este mês) e dê uma chance ao documentário dirigido por Guilherme Melles e Michel Coeli. Ali está, em deliciosos detalhes, como o susto de ter que estrear em janeiro com um programa especial com Fausto Silva passando o bastão para Luciano se transformou no pesadelo de ir ao ar em setembro. Isso porque a relação entre Faustão e a Globo azedou de vez com o anúncio da ida do apresentador para a Band.
Todo esse processo está lá. Somos uma espécie de voyeurs na fábrica de ilusões que é uma emissora do porte da Globo. E damos de cara com um empolgado Luciano mostrando aos filhos (especialmente à fofa Eva) o novo contrato, com a comemoração de um dia de audiência alta, com o aniversário de 50 anos de Luciano.
Mas as coisas ruins também estão ali. A começar por desentendimentos entre Luciano e a direção. “Se é para tapar buraco, a gente não vai (para o domingo)”, esbraveja o apresentador diante do diretor Hélio Vargas. Mais tarde, é Hélio que perde as estribeiras ao perceber que o segundo quadro da estreia do Domingão com Huck entrou no ar em ordem invertida com o terceiro.
O trunfo de Domingão com Huck: A história da história é que o ritmo da edição quase nos leva a um filme de suspense, mesmo que já saibamos o final. A tensão do dia da estreia, em meio às incertezas de vir depois de um Brasil e Argentina pelas eliminatórias da Copa do Mundo cancelado logo após do apito inicial, é um dos momentos em que isso fica mais evidente. Por outro lado, ainda há um lado de apresentar a faceta bom-moço-eternamente-quase-candidato de Luciano. Esse é o maior defeito do filme. Em pouco mais de uma hora e meia, queríamos mais do ótimo comunicador que Luciano é e menos do candidato que ele nunca de fato foi.
Ainda no universo futebolístico, Luciano olha para trás e diz que o tempo de preparo de tudo isso foi tão pequeno que eles nem entraram em campo. Estão no aquecimento, mas prontos para a vitória. Do outro lado da tela, do conforto do meu sofá eu penso: “Já não era a hora de a bola rolar?”