vannessa_Guga_Melgar Foto: Guga Melgar/ Divulgação

De volta ao começo! Vanessa Gerbelli relembra o sucesso de Mulheres apaixonadas e fala sobre o futuro

Publicado em Entrevista

Vannessa Gerbelli relembra a reviravolta na carreira, em Mulheres apaixonadas, e mostra como, em 17 anos, a vida profissional dela deu uma guinada

Lá se vão 17 anos desde que Vannessa Gerbelli parou o país como a Fernanda da novela Mulheres apaixonadas — primeiro nas cenas cheias de ternura ao lado de Bruna Marquezine, filha dela na trama de Manoel Carlos, e depois na cena em que a personagem morre, vítima de uma bala perdida em uma avenida movimentada do Rio de Janeiro.

Olhando para a cara de Vannesa quase nada mudou nesses anos todos — a atriz continua impressionantemente igual. Mas, a carreira dela mudou muito depois do sucesso de Mulheres apaixonadas, novela que está tendo uma bem-sucedida reprise no canal Viva.

“Mudei tanto de lá pra cá, aprendi tanta coisa, mas foi um trabalho lindo, uma das melhores novelas da história da dramaturgia, na minha opinião”, afirma a atriz, em entrevista ao Próximo Capítulo

“O Manoel Carlos foi muito sagaz em colocar a violência urbana sacudindo uma de suas novelas, que sempre tratavam de uma maneira muito íntima, quase confessional o cotidiano carioca. Depois dessa novela, muitos trabalhos passaram a falar da violência na cidade e nas favelas”, continua Vannessa, que também pôde ser vista recentemente como Herodíade na reprise de Jesus (Record) e está no elenco da série A divisão (Globoplay) como Raquel.

“Herodíade era uma rainha ambiciosa, lutando pelo reinado do marido, tentando fazer valer a sua vontade, pagando qualquer preço por isso. Se eles não se sustentassem no poder, poderiam até morrer. A Raquel é uma mulher dos tempos de hoje, esposa de um político poderoso, mas que não deseja o poder. Tem outros princípios. Quer amar e ser amada, quer educar a filha com dignidade, sem grandes ambições”, compara.

Os vários compromissos profissionais — Vannessa é artista plástica, fez um monólogo on-line dirigido por Amir Haddad durante a pandemia e acertou uma participação para o futuro, que não pode ser falada ainda — mostram que os 17 anos só não passaram fisicamente para a atriz. Que venham mais 17 e vários outros 17 em que o público sairá ganhando.

Entrevista // Vannessa Gerbelli

Atriz Vannessa Gerbelli
Foto: Guga Melgar/ Divulgação. Vannessa Gerbelli tem em Mulheres apaixonadas um marco na carreira

Com a reprise de Mulheres apaixonadas você está tendo a oportunidade de se reencontrar com a Fernanda. Como está sendo rever esse trabalho?
É interessante… 17 anos se passaram, né? Mudei tanto de lá pra cá, aprendi tanta coisa, mas foi um trabalho lindo, uma das melhores novelas da história da dramaturgia, na minha opinião .

A Fernanda marcou sua carreira e até hoje você é lembrada por esse trabalho. Incomoda as pessoas te ligarem a um personagem?
Não me incomoda não, até porque de lá para cá, não parei… e cada trabalho tem seu público.

Em Mulheres apaixonadas você tinha cenas longas e fortes com a Bruna Marquezine, que era uma criança. Que lembranças tem dessa parceria?
Lembro de ser formidável porque ela era extremamente inteligente e entregue. Parecia uma profissional experiente. Sem contar que era uma energia maravilhosa, um doce.

Vannessa Gerbelli e Bruna Marquezine na novela Mulheres apaixonadas
Crédito: Arquivo/TV Globo. Ao lado de Bruna Marquezine, Vannessa encantou o Brasil

Fernanda é vítima de uma bala perdida, o que abriu espaço para o autor Manoel Carlos discutir a violência urbana. Mesmo 17 anos depois da novela, esse assunto continua atual. Acha que avançamos nesse ponto ou essa ainda é uma grande preocupação do carioca e do brasileiro como um todo?
Acho que o Manoel Carlos foi muito sagaz em colocar a violência urbana sacudindo uma de suas novelas, que sempre tratavam de uma maneira muito íntima, quase confessional o cotidiano carioca. Depois dessa novela, muitos trabalhos passaram a falar da violência na cidade e nas favelas. Até hoje este tema é muito popular porque é uma questão ainda longe de ser resolvida no Brasil e em diversos lugares do mundo.

A violência também permeia a série A divisão, série do Globoplay na qual você vive Raquel. Por ser uma produção para o serviço de streaming, a série pôde tratar desse tema com mais crueza, com mais realidade?
Acredito que sim. As novelas têm um compromisso muito grande com a audiência, precisam agradar um público grande para poder continuar de pé (é muito caro fazer uma novela por meses a fio. É preciso ter anunciantes fortes que sustentem essas produções e uma audiência engajada). Portanto é mais arriscado ousar em linguagem, imagem, som. Melhor jogar para não errar, imagino. Acho que as séries podem ser mais autorais.

A linguagem de fazer uma novela e fazer uma série para o streaming é muito diferente para o ator?
Depende da novela e depende da série, mas eu penso que as séries são mais próximas da linguagem cinematográfica. Nenhuma série é gravada para durar 7, 8 meses no ar diariamente. Esse volume de cenas a se produzir torna a novela um trabalho que precisa de uma produção frenética, trabalho ininterrupto, no ritmo industrial. As séries podem ser mais artesanais, pelo que eu pude experienciar.

Você também está no ar na reprise de Jesus, na Record, como Herodíade. Tem como traçar um paralelo entre os dois personagens?
A Herodíade era uma rainha ambiciosa, lutando pelo reinado do marido, tentando fazer valer a sua vontade, pagando qualquer preço por isso. Se eles não se sustentassem no poder, poderiam até morrer. A Raquel é uma mulher dos tempos de hoje, esposa de um político poderoso, mas que não deseja o poder. Tem outros princípios. Quer amar e ser amada, quer educar a filha com dignidade, sem grandes ambições.

Vannessa Gerbelli na cena de Mulheres apaixonadas em que a personagem Fernanda morre baleada
A cena da morte de Fernanda em Mulheres apaixonadas trouxe discussão sobre violência urbana

Você fez o espetáculo on-line Sombras no final da escadaria. Como foi a experiência?
É o último texto do Luiz Carlos Goes, com a direção do Amir Haddad, um dos maiores diretores do nosso país. Ensaiamos nestes tempos doidos de pandemia e levantamos este monólogo, que é uma comédia dramática. Uma mulher que quer estar no palco a qualquer custo, mas não tem uma peça para mostrar. Acaba mostrando o que pensa e o que sente, revelando uma biografia surpreendente.

Por causa da pandemia, o monólogo, além das redes sociais, pode representar uma saída para o teatro? Que outras saídas podemos ter?
Estamos ainda em estudo e pesquisa… mas acredito que os espaços abertos sejam uma boa solução para o teatro.

Além de atriz, você também é pintora. Como uma arte pode ajudar na outra? Ou elas são completamente independentes para você?
As artes visuais dão muita ajuda na hora de compor uma cena, principalmente no teatro, em que temos a relação entre personagens, objetos e o espaço. O artista visual acaba aprendendo a contemplar um todo e isso ajuda muito, sempre. Além disso, os princípios estéticos como harmonia, ritmo, contraste, predomínio etc podem ser aplicados em todo tipo de arte, dependendo do contexto e do ponto de vista.