Os médicos do hospital onde se passa a ação do ótimo seriado Sob pressão não teriam dúvida em diagnosticar o espectador da terceira ー e provavelmente última ー temporada. Eles sofrem de diabetes causada pela quantidade de açúcar ingerida nos episódios deste ano.
Vale ressaltar que isso não faz de Sob pressão um produto ruim e nem significa que o seriado perdeu a força. Mas, sim, que os conflitos pessoais de Evandro e Carolina, casal interpretado por Julio Andrade e Marjorie Estiano com bravura e competência, ganharam espaço na trama.
É interessante notar a espécie de arco que Sob pressão vem fazendo, com pistas que voltaremos ao começo. Lá no primeiro episódio da primeira temporada Evandro tenta salvar a primeira esposa grávida. Ele insiste em operá-la, mas não consegue evitar que ela morra. Isso acaba moldando o personagem na maneira que o conhecemos.
Agora, é Carolina que engravida, depois de ter o efeito do anticoncepcional anulado por uma medicação e de muita insistência de Evandro. Até o fechamento desta edição ー quando o episódio da última quarta-feira não havia sido exibido ー a gravidez de Carolina ia muito bem, mas a sinopse do que vem por aí adianta que não será bem assim. Não será surpresa ver a médica na mesa de operações no desfecho da temporada sendo operada por Evandro ー com final mais feliz, espero. Separem os lenços.
Aliás, o lencinho vem sendo gênero de primeira necessidade ao assistir a Sob pressão. Mesmo quando o drama dos pacientes é apresentado, o seriado investe no emocional e não centra fogo apenas na corajosa e necessária exposição do caos que a saúde pública brasileira atravessa. É uma paciente que sofre de câncer e a gente conhece a sobrinha primeiro ou um padrasto que bate no enteado após ele agredir a professora, que perdoa o jovem machucado e não desiste do magistério.
Isso não é observado apenas com Carolina, Evandro e as participações especiais luxuosas de atores como Clarice Niskier, presença bissexta e festejada na telinha. No início da temporada, o médico Décio, personagem que representa uma virada na carreira televisiva de Bruno Garcia, chamou a atenção. Reservado quanto à homossexualidade, Décio sai do armário, com direito a beijo em outro homem e a alerta sobre o crescimento do HIV em heterossexuais em dois bons momentos da temporada.
Ao investir nos dramas pessoais de seus personagens principais sem esquecer a veia crítica que a consagrou, Sob pressão acerta e acolhe um público que, saído da novela das 21h, pode estar mais acostumado a folhetins. Se realmente terminar agora, o seriado médico deixará um buraco a ser preenchido na grade da Globo. Espaço que nenhuma produção da emissora exibida até agora mostra-se capaz de suprir. Precisaremos de um médico para superar o luto por Sob pressão.
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