Atores como Letícia Sabatella chamam a atenção em Tempo de amar. Mas é bom a novela correr porque está completamente fora de ritmo
Quando uma novela bem-sucedida termina, é grande a expectativa para a que vem em seguida. Por isso, Tempo de amar, trama que estreou há cerca de 10 dias na faixa das 18h, tinha uma responsabilidade grande: manter a qualidade e a audiência de Novo mundo.
Mas se Tempo de amar (saiba o que a gente espera da novela!) tem realmente essa intenção é bom que o sinal amarelo — o de atenção — seja aceso desde já. O principal problema da novela do experiente Alcides Nogueira é o ritmo. É normal que os primeiros capítulos sejam destinados a apresentar os personagens ao público com a inserção de apenas alguns dos conflitos que serão solucionados apenas nas últimas semanas.
Nesse sentido, Tempo de amar é uma novela à moda antiga — e isso não é bem um elogio. O amor proibido entre os portugueses Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) já está no lenga-lenga que costuma aparecer apenas no meio da novela. Ao engravidar de Inácio, a moça é mandada para um convento. Enquanto isso, ele vem tentar a vida no Brasil sem saber que a amada está grávida. Assaltado, ele perde a visão e é socorrido por uma confusa Lucinda (Andreia Horta), que se apaixona por ele.
As idas e vindas entre Brasil e Portugal também não ajudam, aliás, confundem e não acrescentam em nada à trama. Se o problema do namoro dos pombinhos é a diferença social e o fato de ela ter sido prometida ao vilão Fernão Muniz (Jayme Matarazzo), por que não pode estar tudo ambientado no Brasil?
As tramas paralelas também ainda não disseram muito. Sabemos que José Augusto (Tony Ramos), pai de Maria Vitória, teve uma filha com a criada Delfina (Letícia Sabatella), mas que não assumiu a menina, embora ela more com a mãe na casa dele. Lucinda tem uma cicatriz oriunda de um acidente causado por ela no laboratório e durante o qual a mãe dela morreu. Madame Lucerne (Regina Duarte) guarda um segredo do passado. E pronto. Está tudo posto e exposto. Nada aprofundado. Nada detalhado. É pouco.
Elenco afiado salva Tempo de amar
Com tudo isso, há dois elementos que chamaram a atenção positivamente no início de Tempo de amar: a fotografia e o elenco. A assinatura de Jayme Monjardim na direção artística já deixa no ar a certeza de belas imagens. E elas estão lá, sem sombra de dúvidas. Com a ressalva das que marcam a passagem de Portugal para o Brasil e vice-versa, a captação de Monjardim é um refresco para o olhar.
Quanto ao elenco, uma nota está fora do tom. O estreante Bruno Cabrerizo não convence. Em sua primeira novela no Brasil, o rapaz é bonito, mas só. E não dá para dizer que é somente por ser estreante. Vitória Strada também está em sua primeira novela e deu conta do recado da mocinha direitinho.
Deve ter pego algumas dicas com Regina Duarte, que está no elenco como a misteriosa Madame Lucerne. A dona de cabaré devolve a Regina o delicioso ar farsesco de Maria do Carmo (Rainha da sucata) e de Viúva Porcina (Roque santeiro) sem deixar de lado o sofrimento herdado da coleção de Helenas da atriz (História de amor, Por amor e Páginas da vida). Na verdade, desde O astro (2011), Regina vem se descolando da imagem de boa moça. E tem dado certo.
Outros que estão bem são Andreia Horta e Bruno Ferrari — ele como Vicente, o segundo revolucionário seguido da carreira. Mas, esperto, o ator consegue se libertar completamente do Xavier de Liberdade liberdade.
Mas a novela até aqui é de Letícia Sabatella. A atriz rouba a cena como Delfina, talvez a única personagem de quem já saibamos o que esperar: tudo. Ela é daquelas vilãs clássicas de novela de época. A cena em que ela, com brilho no olhar, viola a correspondência de Maria Vitória com a ajuda do vapor que sai de uma chaleira foi deliciosa. A fala pausada característica da atriz casou perfeitamente com a criada cujo objetivo, no momento, é que a filha Tereza (Olívia Torres) tenha os mesmos direito que a meia-irmã Maria Vitória.
Tempo de amar tem como se recuperar — ainda restam pelo menos seis meses pela frente. E a torcida vai para que isso ocorra logo. O horário de verão costuma ser cruel com as novelas das 18h. Corre, Tempo!