Com Marco Pigossi no elenco, Alto mar, da Netflix, é melhor que Fina estampa

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Terceira temporada da série espanhola Alto mar continua apostando no suspense e traz o brasileiro Marco Pigossi em papel de destaque

O brasileiro Marco Pigossi chamou a atenção há algumas semanas ao criticar – com várias pitadas de razão ー a novela Fina estampa, na qual interpretou Rafael e que está sendo reprisada atualmente pela Globo. Preste atenção naquele menino de mechas loiras e vá assistir à terceira temporada da série espanhola Alto mar, disponível no catálogo da Netflix. A produção estrangeira está longe de ser uma obra prima, mas dá show em Fina estampa e traz um Pigossi muito mais seguro artisticamente e num papel de destaque, o espião brasileiro Fábio.

A terceira temporada de Alto mar continua na mesma toada das duas anteriores: é o suspense que dá as cartas. A época em que a ação se passa ainda é a década de 1940 e o cenário também é o mesmo: o navio Bárbara de Braganza, de propriedade dos irmãos Fernando (Eloy Azorin) e Natália (Natalia Rodriguez). A viagem agora é de volta: o navio parte do Brasil para o México.

Tudo começa quando as irmãs Carolina (Alejandra Onieva) e Eva (Ivana Baquero) se reencontram depois de seis meses separadas para voltar ao México. A bordo do Bárbara de Braganza sobem velhos conhecidos nossos, como Pedro (José Sacristán), Nicolás (Jon Kortajarena) e Verônica (Begoña Vargas), que ganha mais importância nesta temporada. Também há outros personagens, como Carmen (Cristina Plazas), uma velha amiga de Pedro, e a filha Diana, além de Steve (Morgan Symes) e Fábio, que de cara se aproxima de Eva. A menina tem faro para o complicado.

O navio é palco de uma investigação: uma pessoa cujo rosto não se conhece está carregando um vírus letal para tentar infectar o México. Steve e Fábio têm que impedir e a ideia é fazer isso antes que o navio parta. A estratégia não dá certo, um assassinato complica tudo e o mistério toma conta da trama.

Leia a crítica de Alto mar

(contém alguns spoilers)

Eva e Fábio em meio a muito mistério em Alto mar

Que fique bem claro. Não estamos diante de uma obra de suspense genial, de deixar Hitchcock intrigado. Mas Alto mar é boa para passar o tempo e te deixar curioso pelo que vem no episódio seguinte. É certeira a escolha de a temporada ter apenas seis capítulos ー não há tempo a perder com enrolações, como no primeiro ano.

Os personagens são complexos ー a maioria, como Natália, Varela (Antonio Durán Morris), Pierre (Daniel Lundh) e Carmen ー tem momentos de clara vilania, mas são humanizados com histórias que nos fazem questionar se o que eles estão fazendo não é explicável emocionalmente falando, ainda que fora da lei. Outros são mais bem definidos, como a mocinha aguerrida, mas chata Eva e o vilão Hector (Nicolás Francella), o grande antagonista da temporada.

Quem se dá bem com tudo isso é Alejandra Onieva. Carolina era insossa e sem personalidade nas primeiras temporadas e, agora, a atriz mostra que pode mais. Quando Diana entra no navio, ela está com o rosto todo enfaixado por conta de um “acidente”. Logo descobrimos que tudo é um golpe e que, por baixo das ataduras, está “outra Carolina”, bem ardilosa para confundir todos e conseguir pegar o vírus.

Alejandra Onieva é um dos destaques de Alto mar

Aí está o primeiro grande furo de Alto mar. Que os passageiros e empregados não notassem a substituição da verdadeira Carolina (dopada no camarote) por Diana era compreensível. Mas o marido Fernando e a irmã Eva, que era tão esperta outrora, não poderiam demorar tanto para acreditar que eram duas mulheres diferentes. Até Fábio nota que tem algo de errado antes, sem nunca ter visto Carolina antes.

Outro problema do roteiro é a facilidade com que se entra na cabine alheia do Bárbara de Braganza. Fábio e Eva entram onde querem, Carmen também não fica atrás. Mesmo com todos os crimes que aconteceram na viagem de vinda para o Brasil a segurança não foi reforçada?

Com todos esses problemas, o clima de tensão e de ação domina Alto mar e a fotografia também chama a atenção, assim como a direção de arte, com belos cenários e figurinos. A direção parece menos exagerada, menos mexicana também.

E ainda tem Marco Pigossi. Em sua segunda série na Netflix (a primeira foi Tidelands, lembra? e a terceira será Cidade invisível, provavelmente ainda este ano), o ator entra em Alto mar meio que à deriva e termina com possibilidades abertas para a quarta sequência.

A gente fica sem saber se o personagem é daquele jeito ou se ele está duro em cena. Mas logo o ator se solta, mostra que tem química com Ivana Baquero, que cresce de produção ao lado dele, e faz a gente torcer pelo espião brasileiro durão. Alto mar acerta ao não colocar em Fábio o estereótipo do brasileiro, cariocão, malandro, boa praça que engana todo mundo. Talvez daqui a nove anos Pigossi não afunde Alto mar.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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