Carol Duarte, de O sétimo guardião: “Todo trabalho tem seus abismos”

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Depois do sucesso em A força do querer, Carol Duarte volta às novelas em O sétimo guardião com novo desafio

Logo na primeira novela, Carol Duarte chamou a atenção. A paulista foi um dos destaques de A força do querer (2017), de Glória Perez, ao dar a vida a Ivan, uma menina que se descobriu transexual ao longo da trama.

A personagem trouxe à telinha um debate atual e com a delicadeza do texto característico dos folhetins da autora, com muitas cenas emocionantes. “Foi um personagem muito importante não só para mim particularmente, mas porque trouxe uma discussão muito importante para nossa sociedade”, lembra a atriz.

Um ano longe das telinhas, Carol voltou como a garota de programa Stefânia em O sétimo guardião, de Aguinaldo Silva, após convite de Rogério Gomes (diretor de núcleo responsável pelo folhetim). Além do desafio de viver uma prostituta, a atriz teve que se preparar para interpretar uma mulher gaga: “Para mergulhar na Stefânia ouvi algumas garotas de programa. Estudei esse ambiente no qual ela se insere. Além disso, a personagem começa gaga, então tive aulas com uma fonoaudióloga.”

Sobre o futuro da personagem, que passou a morar com João Inácio (Paulo Vilhena), ela diz: “Não sabemos até que ponto ela vai conseguir se adaptar à vida de dona de casa… Acho que ainda tem muito por vir”. Ao Correio, Carol Duarte fala sobre a novela e sobre a importância do papel Ivan na carreira. Confira!

Entrevista / Carol Duarte

Depois de uma personagem tão emblemática como Ivana/Ivan, você teve dificuldade de se despedir da personagem?
O Ivan foi um personagem muito importante não só pra mim particularmente, mas porque trouxe uma discussão muito importante para nossa sociedade. Mas já faz um ano desde a novela. Nesse meio tempo, voltei a estudar, fui pra sala de ensaio no teatro, fiz um filme, vivi outros personagens, mas claro, o Ivan é uma das minhas memórias mais marcantes.

Como foi o seu processo para se preparar para viver Stefânia?
Para mergulhar na Stefânia ouvi algumas garotas de programa. Estudei esse ambiente no qual ela se insere. Além disso, a personagem começa gaga. Então, tive aulas com uma fonoaudióloga para entender todo esse universo, de onde vem a gagueira, quais os tipos, quais os tratamentos. Mas isso tudo são pesquisas porque o autor Aguinaldo Silva propõe toda a trama e o tom da novela. Então depois da preparação vem o encontro com Serro Azul, com a dramaturgia dele, e, assim, a Stefânia foi nascendo.

O sétimo guardião é apenas a sua segunda novela e você também vive é uma personagem desafiadora. Como tem sido para você assumir essas responsabilidades?
Todo trabalho tem seus abismos, acho que esse é o segredo do ator, nunca vai ser simples porque o ser humano é complexo em todas as suas formas. Eu amo compor os detalhes da personagem, imaginar de onde ela veio, quais seus sonhos, suas dores, seus medos.

Crédito: João Cotta/Globo. Katiucha (Lyv Ziese), Stefênia (Carol Duarte), Adamastor (Theodoro Cochrane), Luciana (Josie Pessoa), Januária (Mila Carmo) e Ondina (Ana Beatriz Nogueira). Personagens da novela O sétimo guardião.

Uma cena da sua personagem em O sétimo guardião envolvendo uma cena de sexo violenta e “a cura” da gagueira causou muita polêmica. Como você viu isso?
A novela tem seu tom fantástico, existe uma fonte rejuvenescedora, existe um gato que vira gente, existe uma menina com poderes além do comum, portanto o universo que o Aguinaldo propõe não é fiel ao que é real, então a personagem sofrer um enforcamento e se “curar” é fantástico, ou seja, não existe realmente.

Você tem vontade de viver uma mocinha? Ou quem sabe um vilã? Quais são os seus planos futuros na dramaturgia?
Eu tenho vontade de me aventurar em personagens diferentes do que eu já fiz até hoje, em projetos que me empolgue como atriz, se é vilão ou mocinha eu não me importo.

Como você lida com a exposição que a fama traz? É algo que te incomoda?
Eu não sou muito aparecida (risos). Vivo minha vida como sempre vivi, então a fama não me incomoda, sou atriz e nada além disso nessa profissão me interessa mais do que trabalhar nesse ofício.

Antes da televisão, você fez uma extensa carreira no teatro. Pretende voltar?
Eu nunca saí do teatro. Depois da novela me enfiei na sala de ensaio para refazer a dramaturgia da peça As siamesas — Talvez eu desmaie no front. O teatro é de onde eu vim e onde eu sempre estou para me desmontar, me despir, voltar a essência, para eu não me perder.

A força do querer trouxe o debate sobre a transexualidade. Para você, como atriz, qual é a importância de a dramaturgia levantar debates para a sociedade?
Se a novela se propõe a tocar em assuntos que, na nossa sociedade, ainda não estão bem resolvidos, a exigência de comprometimento aumenta muito. Mas é uma falácia achar que a dramaturgia dá conta de toda a complexidade do tema, qualquer que seja ele, porque novela é um gênero que tem seu objetivo, que a priori, é o entretenimento. O que fizemos em A força do querer foi incrível, trouxemos a transexualidade à tona. Me orgulho muito de todo o trabalho, de todas as pessoas que foram tocadas pela história, pessoas que mal sabiam o que era transexualidade. A novela tem esse poder de acesso absurdo que, quando bem usado, pode contribuir para nossa sociedade desvelando nosso conservadorismo e preconceito tamanho.

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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