Cabeleireiro Carlinhos Beauty e ator Fabio Lago, de O outro lado do paraíso, falam de personagem que tem a celebridade de Brasília como uma das inspirações
Por Adriana Izel e Vinicius Nader
Foi com surpresa que o cabeleireiro pernambucano radicado em Brasília Carlinhos Beauty recebeu a notícia de que “estava na novela”. “Não entendi nada. Fiquei voando”, conta em entrevista ao Correio. Ele estava em Miami, nos Estados Unidos, quando diversos amigos entraram em contato para dizer que o personagem Nick, da novela O outro lado do paraíso, era uma representação fiel dele.
Apesar de não ter sido procurado pela Globo, foi por meio da figurinista da novela, Ellen Milet, que Carlinhos acabou inspirando o visual do papel interpretado por Fabio Lago no folhetim. “Ela me conhece das manchetes. O Fabio Lago não veio fazer um laboratório comigo, mas está incrível a interpretação dele, que é um ator maravilhoso. Até eu fico assustado com o tanto que parece”, afirma. Beauty ainda completa: “Tem hora que vejo as cenas e penso que é exatamente igual a mim, até as joias, os aneis, está tudo perfeito.”
A inspiração para Nick fez com que Carlinhos Beauty ganhasse ainda mais projeção nacional. O ex-participante do reality A fazenda 3 revela que durante as férias deste verão muitas pessoas o chamavam de Nick na praia. “Desde que a novela começou está tendo muito assédio do público. Tudo dele está igual a mim, a roupa, os trejeitos, o jeito de receber os clientes no salão e olha que não teve laboratório. Mas se ele quiser vir ao meu salão, estou disponível, seria um prazer”, diz.
O cabeleireiro aguarda ansiosamente um encontro com o ator e o desejo é que seja nas telinhas. “Estou prontinho para o caso de criarem alguma situação na novela em que possamos atuar juntos. Já estou até separando as roupas”, garante Carlinhos, que também tem passagem na televisão e no cinema, como no filme Fuga sem destino, de Afonso Brazza lançado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Mudança de patamar
Quem também gostaria desse encontro é o ator Fábio Lago, que brilha como Nick, um dos destaques de O outro lado do paraíso. Mas enquanto isso não acontece, o ator baiano se diverte com a repercussão das ruas. “Estou focado na novela, mas o pouco que saio na rua vejo a repercussão positiva do personagem. Tem um ou outro agressivo, homofóbico, mas não é a regra”, afirma o ator, em entrevista ao Correio.
Para Fabio, Nick representa uma mudança de patamar na carreira. “Sempre me chamavam muito pelo nome do personagem nas ruas. Isso nunca me incomodou, mas é gostoso ouvir as pessoas me chamando pelo meu nome. Representa um reconhecimento ao meu trabalho”, comenta Fabio Lago, que pôde, no início do ano, mostrar outra faceta do seu trabalho ao viver o cangaceiro Orelha na minissérie Entre irmãs.
Apesar de reconhecer Carlinhos Beauty como referência visual para Nick, Fabio Lago ressalta que essa não foi a única inspiração que teve na criação do personagem. “A figura de Carlinhos me foi apresentada pela figurinista da novela. Como sou filho de cabeleireira, muito da construção do Nick veio do salão da minha mãe. O dia a dia de um salão, o fato de os profissionais serem uma espécie de psicólogo dos clientes — tudo veio de lá”, conta o ator.
Duas perguntas // Fabio Lago
Com o Nick, O outro lado do paraíso consegue discutir temas como a homofobia com leveza. Como você vê isso?
Não gosto muito de representar uma causa fora da tela porque acabo emprestando minha imagem aos personagens. Mas esse é um momento muito importante para essa discussão ser levada para frente. E é muito gratificante ver que o movimento LGBT aprova o papel e a trama, o que não tem preço. É importante mostrarmos que o olhar para essas pessoas, especialmente trans, tem que mudar. Ninguém mais segura Pabllo Vittar. E nem tem que segurar! A inteligência de O outro lado do paraíso está no fato de não estarmos batendo de frente, o combate não pode ser agressivo.
Recentemente, atores baianos mandaram uma carta aberta à rede Globo reclamando que papéis de nordestinos na próxima novela das 21h, Segundo sol (de João Emanuel Carneiro), serão interpretados por atores que não nasceram na região. O que pensa dessa polêmica? Há preconceito contra os atores nordestinos?
Não acompanhei exatamente essa questão por causa da novela. Mas há, sim. O que acontece é que a escola do teatro baiano é muito forte. O ator baiano é formado em escolas e faculdades de qualidade. A gente não usa só o talento, tem a técnica, a teoria como ferramenta. Há meios de a televisão absorver isso. Mas entendo a tevê porque o processo de uma novela é muito rápido e complexo. Imagina a pressão em cima de uma jovem atriz baiana que vá viver Gabriela (da trama de Jorge Amado) numa novela. Talvez a comparação e a pressão acabe com a carreira de uma jovem. Mesmo se Juliana Paes não tivesse dado certo no papel, ela já tinha a carreira consolidada quando se arriscou. Poderia ter dado errado que não teria tido problemas maiores para ela. Tem o outro lado: a atriz baiana já traz Jorge Amado na pele, o sotaque é mais suave, é natural, vem de dentro. Além disso, o Brasil já trouxe essa cultura de preparadores de elenco. Temos profissionais maravilhosos. Por isso tem que ter os dois lados numa produção como essa. A soma é uma riqueza muito grande.
