Confira entrevista com Bruna Lombardi, que é criadora, roteirista e protagonista da nova série da HBO
Longe da tevê desde a série Mandrake (2007), a atriz Bruna Lombardi está de volta ao veículo e em grande estilo. Ela é criadora, roteirista e protagonista de A vida secreta dos casais, que estreou no último domingo na HBO, com exibição às 22h e disponível nas plataformas on-demand do canal. O projeto é uma iniciativa da atriz em parceria com o filho Kim Ricelli, criador e diretor da série, e com o marido Carlos Alberto Ricelli, que assina a direção e interpreta um dos personagens da história, o experiente detetive Luís.
Trabalhar em família não é uma novidade para Bruna. O trio já trabalhou junto em cinco outras oportunidades, a maioria no cinema. Esta é a primeira vez da família unida em prol de uma série, formato com o qual Bruna Lombardi diz ser encantada. “Hoje em dia são as séries que estão fazendo a melhor dramaturgia da televisão”, analisa.
A vida secreta dos casais é bastante inspirada em vivências de Bruna. A espiritualidade da atriz está presente no Instituto Tantra, local fictício com terapia alternativa administrado pela personagem dela, a terapeuta e sexóloga Sofia. Na trama, cabe a Sofia ajudar casais a lutar com os problemas conjugais, que, em sua maioria, passam pelo sexo. A partir da revelação de um dos seus pacientes, ela acaba envolvida em uma investigação de uma rede de corrupção. A história ainda conta com dois personagens essenciais: o jornalista político Vicente (Alejandro Claveaux) e a fotógrafa Renata (Leticia Colin).
Além de discutir de forma bastante natural e crua a sexualidade, a série debate outros temas que a atriz considera importantes, como política, corrupção e a importância do jornalismo. “Peguei temas que acho essenciais para a vida, que mexem com os nossos destinos e com o futuro, o que somos e o que estamos fazendo”, afirma. Esses também são os assuntos abordados pela atriz em outros projetos fora da tevê, como a Rede Felicidade (uma plataforma na internet), a Jornada do conhecimento (eventos em que Bruna roda o Brasil levando poesia e pensadores) e nos mais novos livros, Clímax e Poesia reunida, ambos lançados neste ano pela editora Sextante.
Entrevista // Bruna Lombardi
Como surgiu a série A vida secreta dos casais e como foi fazer a produção?
Eu sempre fui muito apaixonada por séries. Hoje em dia são as séries que estão fazendo a melhor dramaturgia da televisão, porque elas têm mais possibilidade de pegar temas relevantes, de mexer com um tipo de trabalho mais sintético. Não precisa perder tempo. Eu tinha muita vontade de fazer essa série e queria que fosse na HBO, que sempre me pareceu a melhor produtora de grandes séries no Brasil. O que dá mais força (ao formato) são os talentos, a liberdade. E foi isso que aconteceu. Eu tive liberdade total na criação. Foi um diálogo muito fácil e simples. Foi muito bom desenvolver A vida secreta dos casais e foi relativamente longo, pois a série tem um arco longo, em que mexe muito com os personagens.
Em A vida secreta dos casais você trabalhou com o seu filho e com o seu marido, que são parceiros antigos. Como é essa dinâmica de trabalhar em família?
Essa foi a nossa quinta vez juntos. Já tínhamos feito vários filmes juntos. Mas a série foi muito legal, porque mexeu com o coração da gente. Somos apaixonados por séries. Eu e o Kim criamos a história juntos. Eu escrevi sozinha e eles (Kim e Carlos) criaram toda essa atmosfera. Foi uma forma muito boa de trabalhar.
O que você pode contar sobre a sua personagem, a Sofia?
Sofia é uma sexóloga, dona de um instituto de terapia que chama Tantra. Ela recebe casais em busca de compreensão e contentamento. O instituto é um lugar lúdico e as fantasias que criamos. O instituto é algo que veio muito pronto na minha cabeça. Na hora que eu imaginei, veio tudo com muita clareza. É um lugar que não existe na vida real, mas poderia existir. Em paralelo a isso, há outros pilares na série: tem o mercado financeiro, a investigação de um crime, o jornalismo investigativo, a corrupção e a política. Tem grandes e relevantes temas que são tocados e desenvolvidos na série.
A série trata de sexualidade mas também de outros temas, como você disse. O que você quis retratar em A vida secreta dos casais?
Peguei temas que acho essenciais para a vida, que mexem com os nossos destinos e com o futuro, o que somos e o que estamos fazendo… Venho fazendo um trabalho muito forte nas redes sociais, em que mexo em causas e temas que acho importante por meio da Rede Felicidade, plataforma que envolve também a Jornada de Conhecimentos. Um evento com grande personalidades, que envolve poesia, política e o lançamento dos meus dois livros, Clímax e Poesia reunida. A série é muito atual, embora tenha sido escrita antes de certos acontecimentos. Ela até teve um ar de previsão de acontecimentos que acabaram se desenrolando no mundo. Levamos um choque. A série fala sobre impeachment, mas decidimos tirar para não parecer que tinha sido colocado apenas por conta da realidade. Eu brinquei antes de a série ser lançada que a vida estava imitando a arte.
Você lançou neste ano dois livros, está tocando a Jornada de Conhecimentos e ainda tem a série. Como tem conseguido fazer tudo isso ao mesmo tempo?
Estou bastante ocupada. Mas eu faço o que eu gosto, que já é meio caminho andado para você vivenciar o que está fazendo com uma menor leveza e também para segurar essa pessoa múltipla, que sou.
A vida secreta dos casais marca o seu retorno à televisão em um momento em que você está com duas produções na programação do canal Viva, O fim do mundo e Grande sertões: Veredas, prestes a estrear. Como é estar de volta à tevê com vários projetos que fizeram parte da sua carreira?
Eu tive a sorte na minha carreira de ter feitos boas escolhas. Escolha, inclusive, é um dos temas que falo nas Jornadas do Conhecimento. As escolhas na minha vida como atriz sempre foram baseadas em buscar personagens complexos, que não sejam unidimensionais, que tenham grandes facetas para se trabalhar. No próprio trabalho como roteirista, sempre busquei isso. Seja na comédia ou no drama, o que eu busco é essa coisa multifacetada.
Você é uma pessoa muito espiritualizada. Como essa espiritualidade surgiu em sua vida?
Isso é uma coisa que me acompanhou a vida inteira. Desde de menina eu tenho isso. É curioso, porque os meus amigos mais próximos, até brincam comigo que eu faço muito isso, que minha troca é muito rápida com as pessoas, porque eu tenho essa coisa megadesenvolvida (da espiritualidade). Recentemente quando pegaram a minha entrevista com o Donald Trump, em que eu perguntava sobre uma possível candidatura à presidência dos Estados Unidos e ele disse que não tinha essa ambição, pensei sobre a questão da clarevidência. Sri Prem Baba comentou comigo sobre isso e disse que eu peguei a energia dele. Tenho uma intuição muito grande. A espiritualidade é um canal aberto para mim.
Crítica // A vida secreta dos casais
A série nacional tem tudo para ser uma produção de sucesso. A história aposta em temas revelantes e que provocam curiosidade ao telespectador (sexualidade e política). O episódio de estreia, intitulado Todo mundo tem uma vida secreta. Ou mais de uma começa bem, com uma narração de Sofia inserindo o tema da série e, consequentemente, mais sobre a vida dela: “Meu trabalho é esse: desvendar segredos. Meu assunto é sexo. De alguma maneira a maioria dos segredos do mundo se relacionam com o sexo.”
Também é bastante louvável a forma como o seriado une suas temáticas e personagens ao mesmo tempo que mantém um ar de suspense sem revelar muito. Todos estão interligados de alguma forma a uma questão política, que deve permear os episódios da primeira temporada. Com boas atuações e fotografia espetacular, A vida secreta dos casais promete ser um acerto da dramaturgia brasileira.