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Bárbara Reis defende sua personagem de Éramos seis: “não é má, só é amargurada”

Publicado em Entrevista

Um dos destaques do elenco de Éramos seis, Bárbara Reis comemora a boa fase, marcada pela personagem Shirley

Bárbara Reis é daquelas atrizes que vão chegando devagar, no ritmo do personagem e, quando menos esperamos, tomam conta da tela toda. É assim que acontece com Shirley, mulher a quem dá vida em Éramos seis, novela das 18h cujo elenco feminino vem se destacando.

Antes de brilhar em Éramos seis, Bárbara esteve em outras produções de época, como Jesus, na Record (2018), e Dois irmãos (2017), na Globo. “O ator é um material sensível. E tudo que ajude a construir essa grande ‘massa moldável’ faz com que seja mais prazeroso criar. Eu adoro fazer produções de época. Elas nos afastam do tempo de hoje, fazendo nos distanciar mesmo do nosso eu atual”, afirma Bárbara ao Próximo Capítulo.

Estar em uma novela ambientada em décadas passadas não quer dizer, necessariamente, trazer discussões e temáticas antepassadas. Pelo contrário. Éramos seis, por exemplo, trata de emancipação feminina.

“(A sociedade) evoluiu e muito, principalmente em relação à posição feminina na sociedade, no relacionamento dentro de casa. A novela mostra mulheres que, apesar da opressão da época, passam por cima disso, e também mulheres que se deixam levar pelo machismo. A Shirley não leva desaforo pra casa, se impõe diante do marido mas, ao mesmo tempo, se vê presa ao relacionamento por uma questão de segurança, porcentagem de toda sua história sofrida. Claro, existem mulheres ainda assim hoje, infelizmente. Mas muitas de nossas mulheres já viraram a chave pro seu protagonismo”, reflete.

Na entrevista a seguir, Bárbara Reis fala sobre Éramos seis, cinema, teatro e muito mais. Confira!

Entrevista // Bárbara Reis

Atriz Bárbara Reis, a Shirley de Éramos seis
Foto: Lukas Alencar/Divulgação. Bárbara Reis: ”a tecnologia trouxe muitos benefícios, mas distanciou as pessoas da presença umas das outras”

A Shirley teve um grande destaque nesse início de Éramos seis, se firmando até como a grande antagonista da trama. Esperava isso?
Esperava, sim. Sempre soube que a Shirley seria uma personagem que daria o que falar e que traria naturalmente consigo essa carga de antagonista, com a diferença de que ela não é uma pessoa má, só é amargurada. Ela perde a mão na educação da filha por ser muito protetora e permeia o conceito de chata, por ser altamente verdadeira em relação ao que pensa.

Nas outras versões de Éramos seis, Shirley e Afonso eram um casal de uma imigrante com um brasileiro. Agora eles são um par interracial. Qual é a importância dessa mudança?
Acho super importante. Mas, de certa forma, isso não é frisado na novela. É algo que você identifica e percebe que a personagem traz na pele, entranhado nela e não dito propriamente. Desta forma, creio que a autora naturaliza a relação interracial sem ter que criar tabus em torno disso.

A Shirley é uma mulher de explosões, mas vive numa época em que vocês eram mais contidas, no tom de voz, no gestual. Como encontrar esse equilíbrio? É um desafio muito grande?
Shirley é considerada por todos como destemperada. Acho muito legal essa adjetivação! Confesso que não tive muita preocupação com essa adequação à uma época, já que a personagem é assim, moldada no destempero. Mas caso fosse necessário, não teria dificuldades.

Por causa de Shirley, você acabou gravando cenas fortes com uma atriz mirim, na primeira fase da novela. Como fazer com ela não leve isso pra casa? Vocês procuram algum modo de levar leveza à relação de vocês?
A Gabi é uma atriz inteligentíssima e talentosa. E nossa relação fora de cena é de amizade, construímos isso, para que a relação difícil entre mãe e filha pudesse fluir com naturalidade. Costumo até dizer que eu quem tenho 15 anos e ela 30.

Apesar de se passar entre os anos de 1920 e 1940, Éramos seis trata de assuntos contemporâneos. Isso pode significar que nossa sociedade pouco evoluiu de lá para cá ou é apenas uma licença poética da autora?
Evoluiu e muito, principalmente em relação à posição feminina na sociedade, no relacionamento dentro de casa. A novela mostra mulheres que, apesar da opressão da época, passam por cima disso, e também mulheres que se deixam levar pelo machismo. A Shirley não leva desaforo pra casa, se impõe diante do marido mas, ao mesmo tempo, se vê presa ao relacionamento por uma questão de segurança, porcentagem de toda sua história sofrida. Claro, existem mulheres ainda assim hoje, infelizmente. Mas muitas de nossas mulheres já viraram a chave pro seu protagonismo.

Você é saudosista? Gostaria de ter vivido na época de Éramos seis?
Gostaria pela necessidade de tínhamos de estar umas com as outras. Hoje em dia o smartphone roubou isso de nós. Claro que a tecnologia trouxe muitos benefícios, mas distanciou as pessoas da presença umas das outras.

Você esteve em outros trabalhos de época, como Jesus e Dois irmãos. A caracterização e a cenografia desse tipo de produção ajudam a entrar no personagem?
Ajudam muito. O ator é um “material” sensível. E tudo que ajude a construir essa grande “massa moldável” faz com que seja mais prazeroso criar. Eu adoro fazer produções de época. Elas nos afastam do tempo de hoje, fazendo nos distanciar mesmo do nosso eu atual.

No teatro você esteve em espetáculos de Shakespeare e Victor Hugo. Qual é a importância de continuar montando esses clássicos?
A importância é que textos clássicos como esses são atemporais. Falavam coisas há 300 anos que hoje ainda corremos atrás. Por isso são chamados clássicos. Há muita identificação.

Você estará no filme 21 mão na cabeça. O que pode adiantar sobre esse projeto?
O filme teve uma estreia em setembro na cidade de Cabo Frio. Com as gravações, infelizmente, não pude comparecer. Mas estou ansiosa pra ver o resultado deste trabalho, que retrata a chacina de Vigário Geral, um episódio que chocou a todos nós. Na época, eu era pequena, mas lembro do caso. Esse é meu primeiro longa, então tenho muito orgulho de ter participado.