Novela ou vida real? Muitas vezes as duas coisas se misturam, levando à tela discussões sobre a sociedade brasileira. A partir desta semana, Amor de mãe traz mais um assunto que parece ter saído das páginas de jornais à tona: a violência contra a mulher. O tema entra em cena por meio de Edilene (Beatrice Sayd), que trabalhou na casa de Vitória (Taís Araújo) e, agora, colabora com Lídia (Malu Galli).
Edilene é agredida pelo namorado e, depois que Lídia percebe as marcas, acaba confirmando as suspeitas da patroa. A advogada Vitória vai entrar de cabeça na defesa de Edilene, dando finalmente o espaço de protagonista à personagem nessa fase da novela, até então dominada por Lurdes (Regina Casé) e Thelma (Adriana Esteves).
“A importância (de esse tema estar em horário nobre) é ajudar todas as mulheres a conhecer os seus direitos e leis que as protegem. Mostrar os modos como essa violência acontece e como e o que a mulher pode fazer para denunciar a violência que vem sofrendo. A Lei Maria da Penha está aí, muita coisa precisa ser feita? Sim, muita. Mas tem como denunciar e com certa segurança”, afirma Beatrice, ao Próximo Capítulo.
Inspirada na trajetória da personagem em Amor de mãe, a atriz estreia nesta quarta-feira (31/3) uma série de lives no Instagram em que discute a temática com delegadas, vítimas e mulheres em geral. A iniciativa, segundo Beatrice “veio da vontade de falar sobre esse assunto tão importante que nos arrebenta há tanto tempo. Nenhuma mulher precisa sofrer qualquer tipo de violência”
“Essas lives vão abordar a violência doméstica, a violência contra a mulher. E tudo o que envolve. Começo conversando com uma delegada da mulher, depois converso com uma atriz vítima de violência doméstica. A ideia também é chamar a Taís Araújo e a Maria da Penha para conversar”, completa a atriz.
A trama da violência doméstica envolvendo a Edilene já estava prevista ou veio com o aumento no número de casos com o isolamento imposto pela pandemia?
Parece natural que a (autora) Manuela Dias incluiria esse tema da violência doméstica, que aumentou muito na pandemia. As mulheres passaram a ficar mais tempo com os agressores, seja por trabalharem remotamente ou por terem ficado desempregadas. Ou como foi no caso da Edilene, o namorado que perdeu o emprego.
Amor de mãe está tratando também da pandemia de forma muito direta. A novela é exibida logo depois do Jornal Nacional, em que sempre é falado sobre a pandemia e frequentemente sobre violência doméstica. Não há o temor que essa “continuidade” afaste o público da obra que, em tese, seria para o relaxamento?
Amor de mãe foi ineditamente interrompida devido a uma pandemia em março de 2020. Quando a gente começou a fazer reuniões ensaiando um retorno, discutia-se se o tema pandemia deveria ser abordado, que ficaria datado. Amor de mãe retorna em pandemia e expõe nossa realidade trágica. Nunca se cogitou estarmos num momento tão doloroso, um ano depois. Acho que assistir a gente em pandemia reforça a importância do isolamento social, uso de máscara e medidas de higiene. A importância social da TV acontece. Estamos exaustos? Estamos. Mas a causa é pela sobrevivência de todos e isso é tão nobre. Que a gente busque ser nobre.
A Edilene acaba contando para a Vitória a violência que sofre do namorado, mas não vai direto à polícia. Falta apoio do Estado para que essas mulheres sintam-se protegidas ao denunciar? O que sua arte pode fazer para tentar amenizar isso?
O que eu posso fazer como atriz é me aprofundar no assunto e dar a minha dignidade à Edilene. Vou fazer algumas lives na minha página do instagram sobre a violência doméstica. Serão às quartas e sextas, às 20h.
Como você se preparou para esse momento da novela?
Eu peguei algumas referências, assisti um documentário sobre violência doméstica, vi fotografias, li. E estudei o texto com o Audrei Andrade, uma nova parceria que surgiu na pandemia.
Além de viver a Edilene em Amor de mãe, você vai comandar lives na internet com mulheres que passaram pelo que a personagem está passando e com mulheres ligadas a essa discussão, como a delegada que inaugura o projeto. Como serão essas lives?
Essas lives vão abordar a violência doméstica, a violência contra a mulher e tudo que a envolve. Começo conversando com uma delegada da mulher, depois converso com uma atriz vítima de violência doméstica. A ideia também é chamar a Taís Araújo e a Maria da Penha para conversar.
Como surgiu a ideia das lives?
Veio da vontade de falar sobre esse assunto tão importante que nos arrebenta há tanto tempo. Nenhuma mulher precisa sofrer qualquer tipo de violência. Nenhuma mulher tem que fazer nada do que não seja da sua vontade. E a gente tem que se juntar, mulher não é inimiga de outra mulher. Cada uma do seu jeito e juntas, somos imbatíveis.
As redes sociais exercem hoje um enorme poder de influência na sociedade brasileira — seja para o bem ou para o mal, com notícias verdadeiras e falsas. Como filtrar o que recebemos para não cairmos na armadilha de desacreditar projetos importantes como suas lives?
A gente sempre vai filtrar o que recebe indo atrás de saber de onde vem a notícia, quem falou, onde. Tem uma massa aí de zumbis que vivem a reproduzir fake news. Isso é terrível e requer uma paciência de Jó que tira a minha saúde. É difícil lidar com a atual realidade do Brasil e toda miséria de volta.
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