Anderson Silva foi criado por seus tios em uma cidade conhecida pela população predominantemente branca e de classe média – tudo o que ele não era. Para desabafar sua raiva por uma mãe que não lutou por ele, Anderson teve que lutar por si mesmo. Ele canalizou esse fogo para uma carreira no MMA, o que acabaria por permitir que ele escapasse de seu passado precário que levou à morte de seu bebê recém-nascido.Apesar desses desafios passados, Anderson acabou se tornando um dos, senão o maior lutador do UFC, a maior empresa de promoção de MMA do mundo.Derrotando todos os adversários colocados à sua frente em estilo espetacular, Anderson rapidamente se tornou algo maior do que o campeão dos médios do UFC. Ele se tornou o ARANHA. Anderson estava agora inundado com oportunidades de filmes, endossos, fama, mas todo o brilho e glamour vieram com um preço inesperadamente alto. A vida pessoal de Anderson agora começou a desmoronar quando essa nova realidade o rotulou como arrogante e o afastou de sua casa. O fim estava à vista, já que Anderson estava prestes a se aposentar como campeão, quando uma grave lesão na perna seguida de um escândalo de doping marcou o trágico fim do reinado do Aranha.Livre das luzes ofuscantes da fama, Anderson finalmente conseguiu se concentrar em reconstruir sua perna e sua vida pessoal. Anderson abraçou seus entes queridos e comunidade e, com a ajuda deles, começou a lutar mais uma vez. Desta vez como ícone, mentor, pai e até como filho. A queda de Anderson acabou sendo a maior lição que ele aprenderia, pois percebeu que a família é tudo. Dena de Anderson Spider Silva | Crédito: André Godoi /Divulgação

Anderson Spider Silva retrata o homem das lutas universais

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Estreia da semana na Paramount+, série conta as lutas, da vida e do octógono, de um dos atletas mais icônicos do Brasil

Pedro Ibarra

De 2006 a 2013, as artes marciais mistas (MMA) tiveram um lutador amplamente dominante: Anderson Silva. Nascido em São Paulo e radicado em Curitiba, o lutador defendeu 10 vezes consecutivas o título de campeão dos pesos médios no maior torneio de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC). Porém, a luta do brasileiro, que a cada soco representava milhões de sonhadores, foi muito além dos octógonos e é contada em Anderson Spider Silva, nova série da Paramount .

A série tem um elenco de peso com Seu Jorge e Tatiana Tibúrcio fazendo os tios de Anderson, que é interpretado em três fases diferentes por William Nascimento, Bruno Vinicius e Caetano Vieira. Completam o elenco Douglas Silva, Iza Moreira, Jeniffer Dias, Larissa Nunes, Livia Silva, Milhem Cortaz, Vaneza Oliveira e o brasiliense João Ricken. “Eu só tenho a agradecer a todos os atores, a William, e eu acho que a gente vai conseguir fazer com que as pessoas se sintam conectadas com a série. A gente conseguiu entregar algo que provavelmente vai ser muito inspirador para muita gente”, clama Anderson Silva em entrevista ao Próximo Capítulo.

A narrativa acompanha a história de Anderson Silva da primeira vez em que pisou em um tatame até os octógonos mais televisionados do mundo. No entanto, os eventos esportivos milionários não são o foco do seriado, mas, sim, a trajetória de um dos maiores atletas da história do MMA. “A série não é sobre a luta, mas a superação, o amor da família. Além de ser sobre se colocar em condições de criar oportunidades melhores para que você possa seguir em frente”, afirma o ex-campeão mundial.

Intérprete do Anderson Silva na maioria das cenas, William Nascimento entende a importância do que está fazendo. “É uma responsabilidade muito grande você estar dando vida a um ídolo mundial, mostrar suas fragilidades, mostrar sua vida, além da luta, no caso do Anderson Silva”, diz. Ele acredita que levou ensinamentos da série para a vida. “A série nos ensina a não desistir dos nossos sonhos, fala sobre amor, afeto, sobre família, sobre o amor de uma família preta, que dá toda uma base para o Anderson Silva. Ensina a não desistir dos seus sonhos, a perseverar, a realizar tudo”, conta.

A série mistura a ação do UFC, com os dramas da vida de Anderson, contada de forma leve. “Como é uma história de família, eu achava essencial a gente fazer uma história para a família. Para que todo mundo possa sentar, pegar uma pipoca e ver. E o material que o Anderson fornecia era muito esse”, explica Marton Olympio, criador da produção. “É uma obra muito importante em vários aspectos, que consegue passar de forma inteligente por várias pautas delicadas, principalmente o racismo. E faz isso de maneira muito sagaz, tem tudo para emocionar”, complementa João Ricken, que vive Marco, um antagonista do primeiro episódio.

Impactante e inspirador

Um dos fatores cruciais da história é a forma como ela consegue ir além. “Quando as pessoas insistem de que é uma narrativa negra, eu falo, não, não é uma narrativa negra, é uma narrativa brasileira. Porque a narrativa negra, na verdade, é a brasileira”, diz Marton. “A gente precisa sair do nicho das narrativas brancas, que são consideradas brasileiras, para contar essas narrativas um pouco mais plurais. Eu acho que é exatamente sobre isso”, diz o criador, que vê um forte poder de identificação: “Essa poderia ser a história de qualquer outro menino preto do Brasil”.

Não há pretensão de mudar o mundo, mas Anderson Spider Silva é uma dessas produções que acredita no poder transformador da arte. “Eu acredito na força do audiovisual como transformador, como algo que possa mudar corações e mentes das pessoas”, afirma Caíto Ortiz, diretor da produção. “É por aí que a gente forma. Não é o único caminho, mas, certamente, é um dos grandes caminhos para formar um coletivo, uma identidade de população”, complementa o cineasta.

“Eu acho que a gente está filmando alguns homens pretos aí sem agência. Você vê o filme todo, o cara não tomou uma decisão, o cara não errou, o cara não acertou, o cara apenas está sendo conduzido por outras pessoas brancas. Essa é a minha preocupação”, acrescenta Marton, que vê como imprescindível o trabalho que fizeram de dar protagonismo real à negritude na série. “Mesmo quando a decisão não é dele, vem alguma pessoa preta e fala: ‘Cara, vamos por aqui’. Eu acho que essa talvez seja a grande diferença também, a gente criar potências e construir biografias de pessoas pretas e que sejam pessoas que tomam decisões na vida. Porque eu acho que isso a gente não está vendo muito”, reflete.

Representante de Brasília

Do outro lado do protagonista, no primeiro episódio, está um adolescente maldoso e irritante, que usa do racismo para atacar a honra e a dignidade de Anderson. Esse intenso papel fica a cargo do doce ator brasiliense João Ricken, estreante no streaming vivendo Marco. Muito importante para o primeiro episódio, o artista recebeu elogios até do próprio Anderson Silva pela interpretação. “É uma coisa muito gratificante fazer um personagem que é inspirado na vida desse grande ícone e receber de volta um elogio, é realmente muito bom, estou muito feliz”, conta João que é formado em artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB) e mestrando na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O jovem Marco é um elo essencial que une os flashbacks da adolescência de Silva com uma das lutas mais emblemáticas da carreira do atleta: o primeiro embate contra Chael Sonnen. O mais interessante é que foi por meio dessa luta que Ricken teve o primeiro contato com o MMA. “A primeira vez que eu vi uma luta de UFC foi a emblemática e dramática disputa entre Anderson Silva e Chael Sonnen. É muito interessante que o meu personagem acaba sendo essencial para a costura do episódio justamente sobre essa luta”, lembra.

Muito satisfeito com a estreia na telinha, mesmo que apenas em um episódio, João se sente representando Brasília, mas, mais que tudo, realizando um sonho. “Estrear no streaming é uma realização imensa, tanto pessoal quanto algo que transcende essa esfera. Uma alegria intensa para todos que me acompanharam e fizeram parte dessa história. Desde a minha mãe, que nunca botou nenhuma restrição para eu seguir meus sonhos; minha irmã, que me levou ao teatro pela primeira vez aos 3 anos de idade; até todos os professores e colegas, tanto de estudo e trabalho, que eu tive e me incentivaram”, comenta.

“Eu me sinto representando Brasília. Quando era criança e adolescente na cidade, sentia que era um caminho muito distante e não entendia por que meios eu ia conseguir tornar isso meu ofício principal e ainda estou descobrindo isso aos poucos. Porém, hoje já parece uma realidade muito menos distante”, completa.