Só no último ano, o goiano Alejandro Claveaux transitou entre três personagens. Ele falou do desafio e também da relação com Brasília
Desde o ano passado, o ator goiano Alejandro Claveaux tem se desafiado a viver três personagens completamente diferentes: o jornalista Vicente, em A vida secreta dos casais; o policial Nicolau, na novela O outro lado do paraíso; e o músico Driguêra, em Pais de primeira. No caso das séries, ele ainda vai reprisar os personagens em suas segundas temporadas, ambas previstas para 2019.
“É um desafio criar um personagem, depois esquecer completamente e criar outro em um universo diferente. Acho que esse é o grande barato dessa profissão: estar disponível para a mudança e para o entendimento das pessoas e dos personagens”, analisa.
Em entrevista, Claveaux falou sobre o momento atual da carreira e lembrou o início na trajetória artística, que tem um caminho por Brasília: “Vi duas peças que me marcaram muito na adolescência, Torturas de um coração, do grupo de teatro Guara, dirigido por Samuel Baldani, e Seis personagens à procura de um ator, a montagem do Hugo Rodas”.
Entrevista / Alejandro Claveaux
Você praticamente emendou O outro lado do paraíso com a série Pais de primeira. Como veio a oportunidade de integrar o elenco da série?
Foram só dois meses entre O outro lado do paraíso e Pais de primeira. O convite para fazer o Driguêra veio da diretora Flávia Lacerda. Já tínhamos trabalhado juntos na série Clandestinos, de João Falcão, em 2010. Fizemos uma leitura com o elenco e a equipe e a química com George (Sauma, que vive o protagonista Pedro) foi instantânea. Havíamos trabalhado juntos na série Open bar em 2009. Sabia que seria muito divertido fazer a série, pois o elenco estava repleto de amigos que eu admiro.
Como você se preparou para viver Driguêra?
O Driguêra é músico, baixista. É um cara que não cresceu, ficou no tempo. Sonha em fazer sucesso com a banda da adolescência e é muito sem noção. É muito espontâneo e gente boa, mas erra pelo excesso. Para compor esse personagem fiz aulas de baixo, assisti a muitos filmes de rock star e a comédias do gênero, mas o que mais me ajudou nessa composição foi a caracterização e o texto. Os dreads me trouxeram todo gingado, despojamento e um movimento de corpo completamente diferente do meu e do meu último personagem, o policial Nicolau da novela O outro lado do paraíso, um homem bronco e tímido.
Você se inspirou em alguém para construir o personagem? Você tem algo de parecido com ele?
O texto do Antonio Prata é genial, me deu de cara quase tudo que eu precisava pra entender e criar o personagem. Somos bastante diferentes eu e Driguêra. Mas o que nos une é o bom humor e a velocidade das piadas. Coloquei uma lupa nessas características e ele ficou bem engraçado.
Além de Pais de primeira, você também está em outra série, A vida secreta dos casais. Como é para você transitar entre os formatos de série e novela?
Acho que o mais trabalhoso e desafiador não é estar em formatos diferentes de dramaturgia, mas sim criar personagens opostos em tão pouco tempo. Foram três completamente distintos neste ano. Um policial caipira, um músico dread line e um mocinho jornalista. É um desafio criar um personagem, depois esquecer completamente e criar outro em um universo diferente. Acho que esse é o grande barato dessa profissão, estar disponível para a mudança e para o entendimento das pessoas e dos personagens.
O que pode contar sobre a segunda temporada de A vida secreta dos casais?
A segunda temporada está muito mais dinâmica, polêmica e emocionante. Muitas coisas acontecendo simultaneamente, muitas cenas de ação. Está realmente surpreendente. Vicente, meu personagem, está prestes a descobrir quem são os envolvidos na rede de corrupção. Ele agora transita por outras camadas de sentimentos. Começa a se encantar pelo poder e pelo dinheiro e fica cada vez mais dividido. As últimas cenas do último episódio estão eletrizantes.
Você é um ator que também tem filmes e peças no currículo. Já tem alguma produção em vista para 2019 em um desses dois formatos?
O espetáculo Gota D’água a seco volta em cartaz em 2019 em São Paulo no teatro Porto Seguro em abril. Mas antes apresentamos em seis cidades diferentes pelo Brasil, entre elas Curitiba, Goiânia e Brasília no primeiro semestre. Existem alguns projetos em andamento e a segunda temporada de Pais de primeira está confirmada no segundo semestre na Globo.
Você nasceu em Goiânia, que é pertinho de Brasília. Você chegou a conhecer Brasília? Tem alguma lembrança da cidade?
Passei grande parte da minha infância visitando Brasília. Meu pai ia semanalmente a trabalho e eu o acompanhava. Adoro a cidade, os restaurantes e as pessoas. Eu me lembro de um momento muito emocionante, o Teatro Nacional lotado na apresentação de Clandestinos. Foram três dias inesquecíveis. Um público maravilhoso e uma recepção única.
Como você se descobriu ator?
Vi duas peças que me marcaram muito na adolescência, Torturas de um coração, do grupo de teatro Guara, dirigido por Samuel Baldani, e Seis personagens à procura de um ator, a montagem do Hugo Rodas. Depois disso eu entendi que em algum momento de algum jeito teria que estar ali como aqueles atores, em cima do palco. Comecei a estudar teatro na universidade ao mesmo tempo que estudava engenharia. Estreei meu primeiro espetáculo, Escola de mulheres, e me encantei. Depois disso montei um grupo de pesquisa teatral com dois amigos onde trabalhávamos intensamente nosso corpo para um projeto de mímesis corpórea. Passávamos mais de 8 horas por dia em treinamento e convivendo intensamente com os macacos e todo universo deles. Foi em um momento de exaustão nessa sala de ensaio que tive a certeza que esse seria meu ofício até o fim vida. Foi ali que a chave virou e não teve mais volta. Anos depois nos testes para o espetáculo Clandestinos apresentei essa pesquisa que tinha com os macacos e fui aprovado para o personagem.