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A marcante estreia de Tamirys O’hanna em Segunda chamada

Publicado em Séries

Realidade e ficção se confundem na corajosa composição de Tamirys O’hanna para Leandra/ Leandro de Segunda chamada. Leia entrevista com a atriz

Interpretar um personagem doído, abusado sexualmente, machucado emocionalmente não deve ser das tarefas mais fáceis. Agora, imagina se essas dores e emoções se confundem com as da atriz. Aí o desafio deve ser elevado à enésima potência. Assim foi com Tamirys O’hanna, que estreia com toda a força como Leandro/ Leandra na contundente segunda temporada de Segunda chamada, disponível no catálogo do Globoplay.

Na série de Carla Faour e Júlia Spadaccini, Leandra sofre abuso sexual em casa e, quando denuncia, acaba expulsa de casa, como se não fosse ela a vítima. Nas ruas, como Leandro (identidade masculina que a protege), acaba se juntando a Hélio ( Ângelo Antônio) e voltando a estudar na escola Carolina Maria de Jesus, onde é acolhida por professores como Lúcia (Débora Bloch).

“Leandro/Leandra traz a marca da violência. A personagem sofre um abuso sexual dentro de casa e, para sobreviver e fugir daquele contexto, acaba indo para rua. É justamente fora de casa e no contexto de rua que ela encontra uma família, um clã que a protege. A história é dar foco à violência doméstica contra mulheres”, afirma Tamirys. “Leandra é uma sobrevivente da ficção, mas existem milhares de meninas e meninos da vida real que não tiveram a mesma possibilidade”, comenta.

Até por experiência própria, Tamirys sabe que a vivência de Leandra passa longe de ser apenas ficção. Infelizmente, a violência contra a mulher no país é um problema social dos grandes. “Recebi muitas mensagens de meninas que infelizmente passaram por abusos e algumas delas, se vendo representadas na ficção, conseguiram analisar as violência vivenciadas por elas. É como se a personagem falasse com elas: ‘não estamos sozinhas!’. Uma pessoa que sofre violência sexual é uma sobrevivente”, conta.

A atriz reflete: “Essa marca nos acompanha para o resto da vida. Eu mesma sou uma sobrevivente de um abuso sexual, e, quando aconteceu, achei que fosse morrer. Por vários motivos. Só consegui me libertar quando entendi que o que tinha acontecido não era culpa minha e que um abuso sexual não me tornava uma vítima para sempre. Quem tem culpa e precisa ser criminalizado é o agressor e o abusador. Nós enquanto sociedade precisamos zelar pela vida de nossas meninas e mulheres. Precisamos encorajar as jovens a denunciar os agressores, e precisamos defender políticas públicas para que essas mulheres se sintam seguras para procurar ajuda.”

Duas perguntas // Tamirys O’hanna

Segunda chamada traz muitos personagens “invisíveis” para os olhos de grande parte da sociedade. Isso ajuda a quebrar preconceitos e a fazer essas pessoas mais visíveis até pelas instâncias governamentais?
Eu creio que sim. O papel das artes em geral é analisar o cotidiano e fazer uma crítica social sobre aquilo. Nosso trabalho enquanto artistas é emprestar nosso corpo para que aquela história aconteça, para que as pessoas que assistem se sintam representadas. Nós artistas nos colocamos no lugar para viver aquela experiência, sempre prezando pela dignidade daquela personagem. Penso que é por isso que muitas pessoas se identificam com as personagens. O artista é o espelho e reflete a vida real e as histórias cotidianas da nossa sociedade.

O elenco de Segunda chamada tem uma mescla muito grande de atores mais consagrados com quem não tem tantos trabalhos na televisão. Como é essa troca entre as gerações?
Eu sempre acreditei num ambiente onde várias gerações possam aprender e ensinar. Estar com artistas que a tanto tempo vem contando histórias na TV é um luxo! (risos). Aprender observando seus movimentos, como se comportam na frente da câmera, como lidam com um set… tudo era uma aula. Eu que sempre gostei de estudar, me “lambuzei” na observação. Cada trabalho te dá uma experiência nova e muitos aprendizados, e o Segunda chamada não foi diferente. Sinto que saí de lá com a vontade de fazer mais e estar sempre em contato com atores e atrizes que já são como diz o ditado “velhos de casa”.