A maldição da mansão Bly demonstra evolução da antologia

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Produção da Netflix se afasta do terror e aposta no drama; confira a crítica de A maldição da mansão Bly

“Perfeitamente esplêndida”. O bordão, agora eternizado por A maldição da mansão Bly, pode ser um resumo da nova temporada da antologia A maldição na Netflix — que começou em 2018 com A maldição da Residência Hill, e retornou com Bly agora em outubro. Bem longe do terror do primeiro ano, a nova fase da série apostou em um acertado tom dramático para debater traumas, amores e obsessões em uma casa cercada por muitos mistérios.

Crédito: Reprodução/Giphy/Netflix — Crianças e fantasmas, uma combinação histórica

A história (que segue com o showrunner Mike Flanagam) discorre em tom narrativo a “aventura” de Dani (Victoria Pedretti), uma professora norte-americana que passa trabalhar como babá ao cuidar de dois órfãos em uma mansão no interior da Inglaterra. Milles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith) a princípio não parecem ter nenhuma especialidade (além do trauma de perder os pais), mas com o passar dos episódios, entretanto, descobrimos que os dois são cercados de muitos “fantasmas”.

1° e 2° ano

O segundo ano é completamente independente da temporada de estreia e tem como base o livro A volta do parafuso, Henry James, escrito em 1898.

Logo de cara, é importante deixar claro: o roteiro tangencial e cheio de camadas da família Crain visto na primeira temporada da produção não é algo que se repete em Bly, pelo contrário. Na nova fase é óbvio o quanto o enredo é mais unidimensional, podado, dramático e sim, de certa forma bem mais simples.

Crédito: Reprodução/Giphy/Netflix

Entretanto, isso não significa que os novos nove episódios sejam inferiores. Seguramente é uma temporada com escolhas estéticas diferentes. Em Bly, a história é construída com mais fases, sem pressa, de forma quase contemplativa. Mas ainda existem as clássicas reviravoltas e até um ou outro jumpscare (técnica usada em filmes de terror com intuito de assustar o público).

CUIDADO, O CONTEÚDO ABAIXO CONTÉM SPOILERS

Desenvolvimento e elenco

A premissa de Bly é apresentar os tijolinhos da história com paciência e controle, especialmente para que o surpreendente final tenha uma sustentação coerente. Outro bom destaque fica com o elenco harmônico e bem sequenciado. O protagonismo de Pedretti se distancia da caricatura da moça interiorana norte-americana em terras da Rainha e acerta de maneira eficaz no drama da moça lésbica assombrada pelo noivo perdido em trágico acidente.

Crédito: Reprodução/Giphy/Netflix — Traumas, amores e obsessões são temas da produção

Se na primeira temporada temos o “momento especial” de meio de temporada (o sexto e fenomenal episódio Two storms, com quase 20 minutos de plano sequência), em Bly também existe um paralelo: o quinto episódio, The altar of the dead. A descoberta da morte e ao mesmo tempo a existência de Hannah (T’Nia Miller) é feita quase como um voo sobre flashbacks e flashforwards que prendem o público em um misto de medo e pena. Certamente outro clássico das séries de terror.

Voltando ao elenco, é importante destacar a dupla Ainsworth e Amelie, que de forma assustadora e inocente, deu vida aos renovados Milles e Flora dentre tantas adaptações que os personagens já tiveram ao longo da história da TV e do cinema.

Crédito: Reprodução/Giphy/Netflix — No fim das contas, vale a pena conferir Bly

A maldição da mansão Bly é uma antologia que cresceu e evoluiu (mesmo que com uma história mais contemplativa e simples). Não espere um terror absoluto e grosseiro, mas sim uma história que se encontra a partir de uma construção paciente e organizada.

Ronayre Nunes

Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). No Correio Braziliense desde 2016. Entusiasta de entretenimento e ciências.

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