A luta e o sorriso de João Pedro Oliveira, o Serginho de Malhação

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João Pedro Oliveira realiza o sonho de estar em Malhação vivendo um jovem negro, gay e periférico. Não deve ser fácil ser o Serginho!

O sorriso aberto é uma marca e uma arma de João Pedro Oliveira contra o racismo. Também é assim com Serginho, personagem que ele interpreta em Malhação – Toda forma de amar. Negro, periférico e gay, Serginho tinha dois caminhos: a amargura ou a luta com a felicidade estampada no rosto e escolheu a segunda.

“Eu sou assim também. Sempre colocando a minha verdade para o outro e mostrando o quão importante é o respeito independente de qualquer coisa. Eu não acredito que consigamos construir uma sociedade mais igualitária, respeitosa e empática sem ação e diálogo. Acaba se tornando necessária a relação do opressor com o oprimido”, afirma o ator, em entrevista ao Próximo Capítulo.

Mais do que um simples personagem, João Pedro vê em Serginho uma forma de engajamento social. “Serginho vem com suas várias questões (por ele ser negro, gay e periférico) dialogar com o público sobre as dificuldades, os conflitos, as conquistas e as experiências que vivencia o jovem gay negro na nossa sociedade. Acredito que seja muito importante termos personagens com esses recortes, pois isso é parte do processo de humanização desses corpos que são invisibilizados cotidianamente”, comenta.

Fora das telas, João Pedro também não é dos que levam desaforo para casa. Quando passa por um caso de racismo vai à luta por seus direitos e usa seu lado de figura pública para ajudar no debate: “A discussão sobre a questão racial está tomando mais visibilidade e nós, negros, estamos nos articulando e nos unindo progressivamente no combate ao racismo. Não estamos nos calando diante de tanta truculência, do genocídio e da exclusão de direitos humanos.”

Entrevista// João Pedro Oliveira

Foto: Estevam Avelar/ Globo. João Pedro Oliveira vive Serginho na atual temporada de Malhação

Como está sendo a reação do público com o Serginho?
É ótima! Sempre que estou na rua sou surpreendido pelas pessoas que acompanham a novela, no vagão do trem, no ônibus, nos shoppings, é sempre uma surpresa. Às vezes me esqueço que “sou o menino da Malhação” e quando as pessoas ficam me encarando chego a me assustar, depois vem um sorriso e a pergunta “você é o Serginho?” eu fico desconcertado. Curto demais esse carinho!

Você recebe mais retorno de rejeição ou de apoio ao romance do personagem com o Guga (Pedro Alves)?
De apoio sempre. As pessoas sempre falam que estão torcendo para que o namoro dê certo e que o Max (Roberto Bomtempo) aceite os dois logo.

Apesar de os personagens terem se beijado, ainda há reclamações de que há menos carinho entre eles do que num casal heterossexual. Como vê essa questão?
Acho que isso reflete na postura do cotidiano da sociedade em que vivemos. É sempre enxergado como um problema a troca de afeto entre pessoas do mesmo sexo, mas quando há um casal hétero trocando afeto em público é enxergado como algo natural. É importantíssimo e tão necessário quanto mostrar o beijo, o carinho, o contato físico e tudo que envolve uma relação, independente de orientação sexual ou gênero.

Foto: Estevam Avelar/Globo. Guga e Serginho são um casal em Malhação – Toda forma da amar

Você vê o Serginho como uma forma de falar de assuntos urgentes, como tolerância e racismo, para o público jovem? Qual é a importância disso?
Sim, sem dúvidas! Serginho vem com suas várias questões (por ele ser negro, gay e periférico) dialogar com o público sobre as dificuldades, os conflitos, as conquistas e as experiências que vivencia o jovem gay negro na nossa sociedade. Acredito que seja muito importante termos personagens com esses recortes pois isso é parte do processo de humanização desses corpos que são invisibilizados cotidianamente. Poder falar isso para um público jovem é plantar boas sementes nessas vidas e colaborar na construção de uma sociedade mais respeitosa, empática e democrática.

Você chegou a fazer testes para outras temporadas de Malhação? Como foi sua reação ao saber que havia sido aprovado para Toda forma de amar?
Sim, fiz testes para a temporada Viva a diferença’ e para Vidas brasileiras, em que eu acabei integrando ao elenco de apoio. Quando eu recebi a notícia, eu estava na rua com minha mãe. Eu fiquei desacreditado, chorei bastante, gritei. De onde estávamos fomos para casa, choramos de alegria, comemoramos muito e falamos sobre o quão importante é para nós esse acontecimento, foi lindo!

Você já tem planos para quando Malhação terminar?
No momento meu maior plano e o mais sólido é viver da arte. Seja dando continuidade na faculdade, estudando em algum curso, trabalhando e etc

Mesmo sofrendo preconceito de pessoas próximas, como o sogro, Serginho mantém o sorriso aberto. Você também é assim?
Eu sou assim também sim! Sempre colocando a minha verdade para o outro e mostrando o quão importante é o respeito independente de qualquer coisa. Eu não acredito que consigamos construir uma sociedade mais igualitária, respeitosa e empática sem ação e diálogo. Acaba se tornando necessária a relação do opressor com o oprimido.

Você acha que a sociedade brasileira avança em relação ao racismo?
Eu acho que a discussão sobre a questão racial está tomando mais visibilidade e que nós, negros, estamos nos articulando e nos unindo progressivamente no combate ao racismo. Não estamos nos calando diante de tanta truculência, do genocídio e da exclusão de direitos humanos. Tentaram de todas as formas desumanizar os nossos corpos e hoje estamos mostrando que estamos sobretudo vivos. E que vivos, avançamos! Seja na luta contra o racismo, a homofobia, o feminicídio, o genocídio nas favelas e todas as outras lutas de minorias.

Ano passado, você postou um caso de racismo sofrido na portaria da Globo nas redes sociais. Como esse tipo de postagem pode ajudar no combate ao preconceito?
Acredito que falar sobre o assunto ajuda a encorajar outras pessoas. No meu caso especificamente me senti muito bem acolhido pela casa.

Além de ator, você é modelo. Essa profissão te despertou para a vaidade, como cuidados com o corpo?
Me atentou muito para o cuidado com meu corpo. Eu sempre tive uma predisposição à vaidade mas era mais com meu cabelo, com as roupas que queria usar e etc. Hoje em dia não saio sem protetor solar, sempre uso um sabonete de limpeza facial, esfolio a pele, cuido mais da minha alimentação, me hidrato mais. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer e que me fazem sentir muito bem é cuidar do meu corpo e da minha saúde.

Vinícius Nader

Boas histórias são a paixão de qualquer jornalista. As bem desenvolvidas conquistam, seja em novelas, seja na vida real. Os programas de auditório também são um fraco. Tem uma queda por Malhação, adorou Por amor e sabe quem matou Odete Roitman.

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