Por Patrick Selvatti
Esqueça o Jesus de pele clara e feições europeias. Aqui no Brasil, Cristo é preto. Pelo menos na novela Amor perfeito, a novela das 18h da Globo. Na trama, o filho de Deus surge encarnado para o menino Marcelino (Levi Assaf) na pele de Jorge Florêncio. O ator, de 37 anos, celebra a representatividade e comenta o peso dessa responsabilidade.
“Eu dou vida ao homem que mais foi amado na história da humanidade, o mais seguido, ainda nos dias de hoje, pelo seu legado maior, que é o amor. Toda vez que vou gravar, que recebo os capítulos, que chego nos estúdios, eu penso…Como tornar essa passagem algo marcante e de fato transformador aos olhos de quem vê?”, analisa o carioca, nascido e criado no subúrbio carioca de Del Castilho.
Para Florêncio, a maior preocupação com o personagem foi: como transmitir amor, acalanto e esperança através de gestos, olhares e palavras? “Afinal, Jesus não erra”, argumenta o artista, que é leonino e emagreceu 10kg para o papel. “Dentro da legalidade e do meu julgamento de moralidade, para mim não há limites nessa busca, nesse encontro com um personagem”, acredita ele, que também é terapeuta holístico e devoto de São Jorge.
Você foi escolhido para ser o ator negro que daria vida a Jesus em uma novela. Sente o peso dessa responsabilidade?
O peso maior dessa responsabilidade está no fato de dar vida ao homem que mais foi amado na história da humanidade, o mais seguido ainda nos dias de hoje pelo seu legado maior, que é o amor. Toda vez que vou gravar, que recebo os capítulos, que chego nos estúdios diante dos meus colegas de cena e equipe, eu penso…Como tornar essa passagem algo marcante e de fato transformador aos olhos de quem vê? Como ser amor, acalanto e esperança através de gestos, olhares e palavras? Essas são minhas maiores preocupações, afinal, Jesus não erra, rs. Cada cena é muito certeira e direcionada, cada piscada, movimento e sorriso são pensados. Jesus era um homem simples, do povo e abdicou de qualquer luxo para seguir espalhando suas palavras de amor por entre nós, inclusive morreu por isso, por nós.
Presenciar tantos artistas negros em destaque nas produções atuais te dá mais esperanças de uma TV mais inclusiva?
Não esperança; ela já está aí. A inclusão já é uma realidade no audiovisual, é concreto. Agora sim, meu desejo e esperança é que siga assim, diversa, ouvinte e atuante dentro desse modelo de inclusão. Pessoas indígenas, pardas, pretas, multirraciais, seguem ganhando seus espaços e lugar de fala. Que esses espaços não sejam “ganhados” de alguém que detêm o privilégio de um lugar, mas, sim, que só sejam. E que, muito em breve, a gente já não precise mais falar sobre isso.
Além de emagrecer 10kg para esse papel, o que mais você faria por um personagem?
Eu amo minha profissão, acho fascinante a ideia de poder exercer, “ser” uma outra persona. E dentro disso, existem alguns desafios e alguns deles pode consistir na mudança física para dar vida a esse personagem, como foi o caso com Jesus Cristo. Dentro da legalidade e o meu julgamento de moralidade, para mim não há limites nessa busca, nesse encontro com um personagem. É o meu ofício e pra que seja pleno, integro, penso que a entrega em 100% é essencial e o primeiro passo para o êxito na construção do papel. Estando em acordo com discurso da obra e toda equipe de criação, faço o que for preciso para apresentar um bom resultado.
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