Malhação: Vidas brasileiras acerta no elenco experiente, em algumas peças do jovem e na trilha sonora, mas volta à velha fórmula do triângulo amoroso. Confira a crítica!
Depois do sucesso de Viva a diferença, era até cruel esperar que Vidas brasileiras, a nova temporada de Malhação, segurasse o padrão estabelecido. Mas os fãs são cruéis e esperavam, sim, que a nova leva de capítulos da novela teen, prevista para durar um ano e meio, mantivesse o nível.
Não deu. Mas não deu mais por méritos de Viva a diferença do que por defeitos de Vidas brasileiras, que não enche os olhos, mas está longe de ser ruim. O texto é de Patrícia Moretzsohn, autora que já passou por várias temporadas de Malhação ー entre 1995 e 2000, entre 2007 e 2009 e 2013.
Se a temporada anterior trazia cinco protagonistas, a promessa em Vidas brasileiras é de que cada quinzena tenha um personagem em destaque. Mas isso não quer dizer que o protagonismo seja desse personagem. As ações todas giram em torno da professora Gabriela, Camila Morgado numa interpretação que tornou a romântica docente num tipo crível e bem envolvente ー pronto! Já estamos todos torcendo por Gabi.
Sim! As principais ações desta temporada têm uma professora na ponta. E, se por um lado,isso pode trazer a dona de casa ou o adulto que está em casa para a frente da televisão, por outro pode afastar o jovem que estava acostumado a se ver nos capítulos da novela.
Gabriela é uma espécie de super-heroína. Toma para si todos os problemas dos alunos do colégio Sapiência, no qual dá aula de literatura; viabiliza uma parceria com a ONG Percurso para que adolescentes pobres tenham acesso a escolas particulares; ouve os amigos; dá (pouca, é bem verdade) atenção aos filhos ー os gêmeos Alex (Daniel Rangel) e Flora (Jennifer Oliveira) e a fofa da Mel (Maria Rita) ー e está pronta para viver um triângulo amoroso entre o marido, Paulo (Felipe Rocha), e Rafael (Carmo Dalla Vechia), um amor do passado que voltou para o Rio de Janeiro e é diretor da Percurso. Ufa, Gabi! É muita coisa para uma pessoa só!
Na primeira semana, ficou claro que os triângulos amorosos serão um elo entre as quinzenas de Vidas brasileiras, o que pode facilitar a transição entre as histórias que serão a bola da vez, mas certamente tira o lado social tão importante que havia dando o tom em Malhação. Sim… uma cena mostrou a violência do Rio, em outra Maria Alice reclama que brasileiro tem memória curta e, num terceiro momento, Gabriela fez um bonito discurso em defesa da língua portuguesa. Mas foi tudo breve e coadjuvante.
Além do triângulo entre Gabriela, Paulo e Rafael, estão em fase de formação mais dois, curiosamente envolvendo os dois filhos de Gabriela. Alex namora Pérola (Rayssa Bratillieri), mas já deu sinais de que corresponderá à paixonite de Maria Alice (Alice Milagres), filha da empregada doméstica da casa de Pérola. Daniel e Rayssa não têm a menor química e os personagens são meio bobinhos. E o que é pior: ele faz aquela voz-de-adolescente-apaixonado quando fala com ela. Não, por favor!
Já Flora, está dividida entre Tito (Tom Karabachian) e Érico (Gabriel Fuentes). O futuro casal Tito e Flora já conquistou a internet ー estaremos revivendo os tempos de “Perina”, par da temporada Sonhos que bombava nas redes? Érico vai ter que correr atrás. Aliás, a trama do menino, que está no Sapiência por causa da parceria com a Percurso, está repleta de preconceitos e recursos batidos: o negro que mora na favela e vai para o colégio particular com o intuito de roubar dos estudante ricos.
Na primeira quinzena de Malhação, a história gira em torno de Felipe Kavaco (o excelente Gabriel Contente). Um dos alunos preferidos de Gabriela, ele começa a chamar a atenção da professora por estar desatento em aula.
Ela investiga, descobre que o rapaz está com problemas em casa ー na cena, desperta a ira da mãe dele, Melissa (Malu Mader), que a acusa de se intrometer demais onde não é chamada ー e faz de tudo para ajudá-lo. Ela suspeita que Kavaco está usando drogas, vendendo até, mas logo chega à conclusão que não é isso. Calma… não vamos dar o spoiler do que está acontecendo com o jovem.
Tudo isso é embalado por um texto correto de Patrícia Moretzsohn, uma direção segura coordenada por Natalia Grimberg e uma trilha sonora daquelas que viram personagens de tão fortes. Malhação: Vidas brasileiras tem tudo para agradar.
Veja os pontos altos e os pontos baixos de Malhação: Vidas brasileiras!
Pontos altos
Elenco experiente ー É tradição Malhação trazer nomes consagrados para fazer papéis de apoio aos jovens. Agora, é diferente. Eles também estão no comando. Além de Camila Morgado estão brilhando Ana Beatriz Nogueira como Isadora (quando é que Ana Beatriz não brilha, gente?) e Guta Stresser como Rosália, mães de Pérola e Maria Alice, respectivamente. Em participações especiais Malu Mader e Daniel Dantas estão emocionando como os pais de Kavaco.
Elenco jovem ー Alguns nomes jovens já se destacaram. Intérprete de Kavaco, o primeiro aluno no olho do furação, Gabriel Contente está muito bem e mostra que a televisão brasileira pode ー e deve! ー buscar novos talentos nos palcos, onde o ator já tem alguns bons trabalhos. Também chamaram a atenção Jennifer Oliveira (Flora), Alice Milagres (Maria Alice), Tom Karabachian (Tito) e, mesmo com poucas cenas, Leonardo Bittencourt (Hugo).
Trilha sonora – A trilha de Malhação: Vidas brasileiras casa perfeitamente com a novela, bem ensolarada. Vai desde a abertura, ao som de Põe fé que já é, na voz de Arnaldo Antunes, até a sofisticação de Ney Matogrosso cantando Sorte, de Caetano Veloso. Isso sem falar em Tribalistas (Um só). Até a chatinha versão de Silva para Beija eu deu certo.
Pontos baixos
Excesso de triângulos amorosos ー Só na primeira semana são três! Será que não era o caso de manter a pegada “social” que Malhação vinha tendo, já que estava dando certo? Não curti essa volta às tramas açucaradas. Mas é bom ressaltar que Gabriela fez um bonito discurso nas primeiras cenas sobre a importância da interpretação de texto nos dias de hoje.
Elenco jovem ー É claro que eles são jovens e podem melhorar. Fica a torcida! Mas o fato é que Daniel Rangel e Rayssa Bratillieri começam o ano devendo nota. O problema fica ainda mais evidente porque os personagens deles são namorados e, portanto, eles contracenam bastante.