Convidada para fazer um stand-up, Clarice Falcão opta por formato mais teatral e musical e consegue resultado positivo em Especial de ano todo
Veredito: Bom
A atriz e humorista Clarice Falcão foi convidada pela Netflix a integrar o catálogo da plataforma com um stand-up. No entanto, o formato não é algo que a artista esteja acostumada. Por isso, tentou um híbrio de stand-up, com montagem teatral e musical em Especial de ano todo (leia aqui a nossa entrevista com a atriz). E o resultado do programa é animador: não é preciso muito esforço para gostar da atração, como a atriz pede de brincadeira logo no início.
Especial de ano todo segue um enredo que é acompanhar uma “Clarice Falcão” cheia de superlativos, uma celebridade arrogante que consegue um especial de Natal na Netflix, que acaba se tornando um especial de ano todo — daí o nome da atração.
Brincando com realidade e também ficção, Clarice apresenta 12 números inspirados nos meses do ano, com versões musicais bem boladas e que lembram bastante as sacadas já comuns na carreira musical de Clarice nos álbuns, Monomania (2013) e Problema meu (2016), e também vista anteriormente no canal Porta dos Fundos.
Crítica Especial de ano todo
Logo no primeiro número, a atriz faz piada com o otimismo em relação ao mês de janeiro. Em fevereiro, a zoação é, claro, com o carnaval. E esse, inclusive, é um dos números mais engraçados do Especial de ano todo. Senão, o melhor.
Meu amor preciso conversar com você/ não é que nosso namoro ande ruim, /mas anda meio assim, tipo assim, sei lá/ Veja bem, a vida tem dessas coisas, meu bem/ Às vezes é meio melhor ficar só/ Nada definitivo, meu bem, veja só/ eu só preciso de um tempo para pensar melhor na gente/ entender o meu momento, cinco dias mais precisamente/ mas isso não tem nenhuma relação/ com o carnaval que está chegando/ não faça essa associação/ tudo isso que eu estou falando vem de meses de reflexão
No terceiro número, Clarice lembra um dos maiores clássicos da MPB, Águas de março para sacanear março, mês que ela considera a “terça-feira do ano”. Já, em abril, a piada é em torno do Dia da mentira, quando Clarice decide citar várias frases usadas na boa e velha mentira: “quando eu cheguei já tava assim”, “a gente vai se falando”, “não é você, sou eu” e “já tô no túnel.”
Quando chega maio, a atriz resolve interagir com a plateia “forçando” um casal a se pedir em casamento, em referência ao mês das noivas. Em junho, Clarice fala sobre o orgulho LGBTT fazendo piadas com o fato de que toda celebridade tem que ter um amigo gay. Em julho, mais um número muito bom, quando a humorista resolve fazer piada sobre o formato da Netflix e a ausência de séries como Game of thrones e Seinfeld no catálogo da plataforma.
Juro que tento com esse orçamento/ mas se sonolento você já quer ir/ vamos então as opções do catálogo da Netflix/ Game of thrones, não tem. The Sopranos, também/ Por que, não pergunte para mim/ Seinfeld, quem dera… The office, já era
No mês de agosto, Clarice faz uma música sobre Seu Geraldo, um pai alcoolátra e com muitos problemas, uma referência ao Dia dos pais. Em setembro, a protagonista faz piada sobre o Dia do sexo. Em outubro, a atriz resolve brincar com as interações forçadas com a plateia em programas ao vivo.
Em outro ponto alto do programa, Clarice Falcão usa o Dia de finados, de novembro, para fazer um tributo aos memes do Brasil, em um momento “de parar e recordar aqueles que já nos deixaram”. Teve espaço para sanduíche íche íche, Para nossa alegria e Dança do quadrado. O encerramento é com Clarice falando sobre os rituais de ano-novo e de como o ser humano acha que é especial: “a verdade é que a gente é só normal. É isso ai.”