Iza Moreira comemora ano produtivo e de reconhecimento com as duas grandes produções Amor perfeito e Anderson Spider Silva
Por Pedro Ibarra
Uma jovem atriz se destacou no ano de 2023. Como quem não quer nada, a paraense Iza Moreira abriu ainda mais o caminho para uma carreira brilhante com a personagem Tânia na novela das 18h Amor perfeito e Sandra Silva, a irmã do protagonista da série Anderson Spider Silva.
A atriz potente estreou nas telinhas na segunda temporada de Verdades secretas, em 2021, e, em 2023, teve o primeiro ano verdadeiramente movimentado no que se diz respeito às gravações com produções importantes em formatos distintos.
Além disso, Iza protagonizou duas das cenas mais viscerais de racismo nas telinhas brasileiras este ano, e foi reconhecida na própria cidade, Belém, com a comenda Anastácia Livre, homenagem prestada às mulheres negras em posição de poder, por conta do ano espetacular que viveu. Ao Próximo Capítulo, Iza Moreira falou sobre o novo momento, sobre produtividade, o ano de 2023 e, principalmente, sobre a potência dos papéis e das cenas que teve que viver na pele.
Entrevista // Iza Moreira
Como você avalia o seu ano?
Com certeza foi um ano de muita dedicação. Mudar de cidade, mesmo que temporariamente, e ao mesmo tempo começar um projeto que precisava da minha total entrega, foi desafiador. Pude também realizar trabalhos pessoais durante as gravações da novela, fazer campanhas, escrever projetos e aproveitar o descanso quando acabou. Novembro foi bem agitado, um bom encerramento de ano, gravei e estreei um clipe, Bandida, da cantora Melly, uma artista baiana. Ainda tive a estreia de Anderson Spider Silva. Foi um momento muito esperado e especial, colocar um projeto tão importante no ar é emocionante. Foi um ano de muito plantio e colheita. Agora é aproveitar os frutos.
Você esteve em elencos de novela e streaming, teve algum que gostou mais de fazer? Como é a diferença na experiência?
A rotina de gravação de uma novela é diferente, tem uma constância do dia a dia, quantidade de cenas, horários, é um período longo de gravação, e eu amei. Você pode crescer junto com outros atores, a convivência traz experiências únicas para quem faz novela, conhecer pessoas que estão ali há anos, que acompanhei e assisti na infância, perceber também que foram grandes influenciadores nas minhas referências. O que mais senti a diferença foi no processo de preparação, em streaming é um pouco mais longo, se aprofundando antes das gravações. Já sinto que, em novela, esse processo é ao longo do projeto, até porque é uma obra aberta, então temos que estar realmente abertos a essa pessoa que vamos interpretar, à surpresa de um texto novo. Não criei tendências de preferência, é gostoso experimentar o novo, e saber que sou capaz de trabalhar em diferentes formatos de audiovisual é incrível.
Seus papéis tocam muito nas questões raciais. Você, por exemplo, é protagonista de uma das cenas mais impactantes do início de Anderson Spider Silva. Como foi lidar com esse tipo de situação na tela? Qual a importância desses assuntos serem tratados de forma ampla?
É muito delicado trabalhar em cenas como essas, saber que existem possíveis gatilhos. E como eles não me dominariam, essa para mim é a parte mais individual do trabalho, na perspectiva de sendo uma pessoa preta. São necessárias uma escuta real e a autocrítica de pessoas brancas que se envolvem na criação, preparação e interpretação dessas cenas, para que não fique um peso somente em cima do ator negro. Não foi o primeiro e acredito que não será o ultimo trabalho que lidarei com situações racistas em cena, o importante foi que não me senti sozinha e fui acolhida pelas pessoas que estavam nos projetos. Textos como a cena com Zezé Polessa, em Amor perfeito, e a de Spider são fundamentais para podermos mudar um olhar social em relação a situações racistas e como nós, pessoas negras, iremos e podemos responder a elas. Ambas as cenas mudaram muitas coisas internamente em mim, só pude fazer uma cena potente, como a em que Tânia responde Cândida com tanta altivez, depois de ter vivido e gravado a cena de Sandra, aprendo com todas minhas personagens. E fico muito grata a cada um delas e às pessoas que me atravessaram para que elas pudessem existir.
Você recebeu a comenda Anastácia Livre em casa, em Belém. Como você se sentiu? Qual a importância de ser reconhecida dessa forma e de outras mulheres negras terem as mesmas oportunidades que você?
Fiquei muito feliz e surpresa com o prêmio. Estar longe de casa acaba me distanciando de como meu trabalho atinge as pessoas na região de onde vim. Estar ao lado de outras mulheres negras sendo premiadas me traz esperança, de como realmente podemos mudar esse olhar sobre nossas vivências, mesmo que não sejam públicas, que essa premiação seja a primeira de muitas.