O longa, que brinca com as leis da sobrevivência da população das periferias brasileiras, é a primeira produção original brasileira na Paramount+
Por Pedro Ibarra
A comédia vem na maioria das vezes da surpresa, o público rir de falas e ideias inovadores e inesperadas. O longa Vai dar nada usa desse artifício do início ao fim com maestria, trabalhando com uma história que inverte papéis e vê temas já muito trabalhados no cinema de uma nova ótica. A produção, a primeira original brasileira da história da Paramount+, estreia nesta quarta-feira (18/5).
“Nossa intenção foi pegar o gênero favela movie e transformar em uma comédia”, Guel Arraes, roteirista do filme ao lado de Jorge Furtado, que assina também a direção. O longa conta a história de Kelson (Cauê Campos), um ladrão especializado em furto de carros que trabalha para Suzy (Katiuscia Canoro) e Fernando (Rafael Infante), uma policial e um mecânico que comandam um esquema de falsificação e modificação de carros. Todos se metem em uma enrascada quando uma moto de um grande traficante é roubada e vendida de má fé para Kelson, que precisa desenrolar toda situação.
O filme tem como grande herói justamente um personagem que pratica crimes, o que se diferencia de filmes que tratam de favela e periferias em geral. “A gente torce para os personagens, porque, apesar de estarem tomando atitudes fora da lei, todas elas têm de alguma forma uma justificativa moral”, explica Jorge Furtado. “A vida real não tem um vilão, complementa o diretor.
O longa apresenta, a partir de diversos núcleos uma história enrolada que envolve contravenções, crimes, a justiça brasileira, a vida na periferia e até o seguro contra danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, o famoso DPVAT. Tudo embalado em um caráter cômico afiado. “É uma alegria estar participando de um projeto engraçado, mas que não se resume a apenas entretenimento”, pontua Jéssica Barbosa, atriz que interpreta Rebeca, irmã do protagonista.
A produção nacional é especial, porque faz diferente de forma que soa, a quem assiste, despretensiosa. Porém, o principal foco do filme é atingido. “Humanizar o o brasileiro do jeito que ele realmente se comporta”, com um longa que trata de temas como criminalidade, sexualidade e problemas sociais da periferia com a naturalidade e leveza que o diálogo sobre essas questões merece, sem romantizar, nem estereotipar.
“O filme é esperança, é a ideia de que tudo pode dar certo no final. Vai dar nada é aquela frase que todo mundo conhece: ‘no final vai poder rir disso tudo que a gente passou”, classifica Jorge Furtado que trabalhou por anos, juntamente com Guel Arraes, para encontrar o enredo redondo que chega ao streaming nesta quarta.
Apesar de ter um roteiro fechado, com início, meio e fim, os artistas do longa já fazem campanha para uma sequência da produção, que lança o Brasil em filmes na Paramount+. “É uma gratidão imensa poder fazer parte dessa história que está sendo escrita com a Paramount”, agradece Cauê Campos que conta que os atores tem um grupo de Whatsapp onde conjecturam como seria um segundo Vai dar nada. “Este será o primeiro de muitos outros”, completa.