A novela, de 1989, entra para o catálogo da Globoplay com crítica cômica de Cassiano Gabus Mendes que conversa muito com os tempos atuais
Por Vinicius Nader
Como pode uma novela escrita em 1989 e que se passa no fictício reino de Avilan, em 1786, soar contemporânea? Basta que ela tenha o crítico e cômico texto de Cassiano Gabus Mendes e que atenda pelo nome de Que rei sou eu?, sucesso absoluto da faixa das 19h que entra nesta segunda (14/3) para o catálogo do Globoplay.
Numa espécie de pré-revolução francesa, o reino de Avilan está assolado por problemas que soavam (e até hoje soam) bem familiares a nós, brasileiros: corrupção de governantes, injustiça social, um plano econômico atrás do outro, alta carga de impostos, uma alta sociedade falida que só vive de imagem. Lembre-se que é um reino fictício.
Com a morte do rei Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri), o lugar do trono fica vago. Algumas pessoas sabem que há um príncipe herdeiro rondando por aí, mas ninguém sabe onde ele está ou qual é a identidade dele. Apressada para não perder a coroa, a Rainha Valentine (Tereza Rachel, talvez em seu grande momento na telinha) se junta ao bruxo Ravengar (Antônio Abujamra) para fazer do impostor Pichot (Tato Gabus Mendes) o verdadeiro herdeiro do trono.
Isso deixa o camponês Jean-Pierre (Edson Celulari) desconfiado de que há algo de podre no ar e ele lidera uma revolução pró-democrática. Mesmo sem saber que é o verdadeiro príncipe, ele acaba despertando paixão na princesa Juliette (Cláudia Abreu).
A seu lado (pelo menos ela acha que sim), Valentine tem um time de conselheiros nada confiáveis: Vanoli Berval, Gaston Marny, Bidet Lambert, Crespy Aubriet, Gerard Laugier e Bergeron Bouchet, vividos pelos inspiradíssimos Jorge Dória, Oswaldo Loureiro, John Herbert, Carlos Augusto Strazzer, Laerte Morrone e Daniel Filho. Já Jean-Pierre tem a namorada Aline (Giulia Gam) e o grande amigo Corcoran (Stênio Garcia, genial), que se infiltra no reino como bobo da corte.
A trama ainda traz triângulos amorosos e rivalidade entre o bem e o mal. Mas o diálogo com os problemas e situações políticas de Avilan e do Brasil contemporâneo foi o que levou Que rei sou eu? a fazer história ao reunir a família inteira em frente à televisão. Os pais queriam a verve crítica e ácida de Cassiano, em sua melhor novela, enquanto os jovens estavam à espera das cenas de capa e espada. O sucesso com as crianças foi tanto que um álbum de figurinhas foi lançado.
Que rei sou eu? ainda trazia no elenco Marieta Severo, Aracy Balabanian, Natália do Valle e a estreante Vera Holtz, entre tantos outros. Rever essa pérola, com certeza, nos fará rir e, em ano de eleição (tal qual 1989), refletir sobre o momento que vivemos.