Eterna Rainha dos Baixinhos, Xuxa Meneghel vive momento diferente na carreira em que aposta em livros e participações na tevê, além da produção de uma série documental para o streaming
Desde os anos 1980, os brasileiros se acostumaram a ver Xuxa Meneghel na televisão. A modelo gaúcha iniciou a trajetória de apresentadora na TV Manchete, no Clube da criança. O sucesso a levou para a Rede Globo, onde engatou programas para o público mirim, como Xou da Xuxa e Xuxa Park, até que passou a migrar para atrações adultas. Em busca de novos desafios, deixou a emissora, em 2015, para estrear um programa adulto e ao vivo na Record. Encerrou o contrato no fim de 2020, firmou-se como apresentadora de realities, como Dancing Brasil, The four e Canta comigo. Paralelamente à tevê, sempre levou a carreira de cantora e também de atriz.
No entanto, desde o ano passado, Xuxa começou a dar outros passos. Isso porque enveredou no mundo dos livros. Uma novidade, até então. A primeira obra lançada foi Memórias, uma autobiografia. Seguida do infantil Maya: bebê arco-íris, que conta a história de uma menina que tem duas mães, inspirada na afilhada de Xuxa com ilustrações de Guilherme Franchini. Até o mais novo lançamento, Betinho: o amor em forma de criança. O terceiro livro, o segundo infantil, também traz uma história real para as páginas: a do pequeno Betinho, um menino de Bié, província angolana, que guiou o pai cego por quilômetros em busca de alimento. A obra tem ilustração de Monge Lua.
“Na verdade, eu conheci o Betinho através da Sasha — a filha que me mandava fotos e vídeos dizendo que eu ia amar conhecê-lo, quando ela esteve em Bié. Depois, ela me contou a história dele por alto. Quando eu fui para lá, ao chegar na aldeia, fui recebida por crianças cantando, pelo único cachorro do lugar e, logo depois, o abraço mais carinhoso de Betinho, que não quis mais sair de perto de mim”, lembra. O encantamento com a história dele a fez querer levar para um livro: “Até hoje, não entendo como um menino tão pequeno puxou seu pai por quilômetros, acredita-se que ele tinha quase 2 anos, pois o pai não conseguiu dizer ao certo a idade dele. Agora, me responda: como? Tem a mão de Deus nessa história”.
Há ainda mais três livros para serem lançados. “As crianças sempre me inspiraram. Na realidade, foi a pandemia que me impulsionou a ocupar minha cabeça e fazer os cinco livros: Memórias, Maya, Betinho, Vaca Mimi (sobre veganismo) e Vovó Passarinha (sobre a mãe dela e que deve ter ilustrações da filha, Sasha). Os dois últimos também vão sair pela Globo Livros”, explica Xuxa. Ela diz que escreveu as cinco obras em três meses: “A pandemia me deixou com muito tempo livre”.
Projetos televisivos de Xuxa
O menor número de projetos na tevê também deu mais espaço na agenda de Xuxa. No início da pandemia, a loira comandou a segunda temporada do reality show musical The four, que já estava gravado antes do início da quarentena no Brasil. Para dar um gostinho a mais, no dia da final, ao vivo, Xuxa interagiu com os jurados e os participantes de forma remota. Também nessa mistura híbrida, ela comandou o último trabalho na Record antes de optar pela não renovação do contrato: o Canta comigo especial — All star, exibido nos últimos dias de dezembro.
A decisão de sair da Record foi para abrir as portas para outros projetos na antiga emissora. Antes mesmo do fim do contrato, Xuxa se tornou uma figura constante no canal global, participando do Fantástico, Altas horas, Vai que cola, Lady night, Conversa com o Bial e Cartas para Eva. Agora, tem uma série documental confirmada com o Globoplay, serviço on-demand da Globo, em parceria com a Endemol. A produção contará a história da Rainha dos Baixinhos.
“Se eu não tivesse a Globo comigo nesse projeto, seria quase impossível, pois 28 anos da minha vida estão na Globo. O que eu posso dizer, por enquanto, é que eu amo de paixão o diretor do projeto e sei que ele terá todo o cuidado do mundo para contar minha trajetória”, diz, ainda sem revelar o nome por trás do documentário. Especula-se que Pedro Bial possa integrar o projeto.
Vale lembrar que Xuxa participou da série documental Em nome de Deus, que retrata os casos de abuso sexual atribuídos a João de Deus, produto criado a partir da investigação da equipe do Conversa com o Bial, que divulgou as primeiras denúncias contra o médium goiano.
Para ela, ter esse tipo de posicionamento é algo necessário. “A cada dia que passa, eu vejo coisas erradas, truncadas, desrespeito com o ser humano… e muitos artistas em cima do muro. Eu repito o que já falei: se o público só existe para te dar retorno financeiro, você não é digno de sucesso. Quem tem credibilidade e tem o canal aberto com o público deveria se posicionar politicamente, ajudando as pessoas, levantando bandeiras, colocando a cara a tapa contra a homofobia, o racismo, o machismo, a zoofilia, contra a exploração infantil, contra abusos, a favor das vacinas… Seja qual for sua bandeira: bichos, crianças, velhos, mulheres, negros… Escolha uma e vá em frente porque ficar calada é um desamor à vida”, destaca.
Sobre o futuro, Xuxa, que já conquistou tanto na carreira, afirma ter projetos profissionais em vista. “Tenho muitos projetos profissionais para realizar ainda. Mais para frente? Ser avó e viver ao lado do meu velho no meio do mato”, acrescenta.
Três perguntas // Xuxa
O livro tem uma linguagem simples e fácil. Como foi o seu processo de escrita?
Sempre tive uma linguagem simples, meu vocabulário é simples.
Além disso, seus livros infantis têm ilustrações lindíssimas. Como foi a escolha? como também foi esse processo de passar para o ilustrador o que você queria nas imagens?
O Guizinho (Guilherme Francini, que ilustrou Maya) foi um pedido dele, do próprio ilustrador, que se conectou com a causa LGBTQIA+. Eu amo o traço do Guizinho e ele me foi apresentado pelo Guilherme Samora, o editor responsável pelos livros saírem do papel e por estarem na prateleiras. Com o Betinho não foi diferente, o ilustrador, Monge Lua, também se apaixonou pela ideia de contar a história de um menino com tantas superações. O próximo, Vaca Mimi, trata de veganismo, então, estou pedindo para o Guizinho fazer também, já que ele é vegano. O vovó passarinha gostaria que fosse minha filha, pois a história tem a ver (e muito!) com a história dela com minha mãe. Espero que todos tenham sentindo o DNA em cada detalhe, pois a verdade ajuda a passar isso tudo para as ilustrações.
Betinho é mais um projeto seu com royalties doados para a Aldeia Nissi e santuários de animais resgatados de maus-tratos no Brasil. O quão gratificante é para você poder ajudar instituições com essas vendas?
Não sei se você vai entender, mas antes de dormir eu peço a Deus pra me usar, me usar pra que eu possa ajudar as pessoas. E o fato de eu poder ajudar a aldeia e as ONGs me deixa nas nuvens, pois sei que não estou errando, mesmo que não venha a agradar a todos, eu estou agradando a Deus.