2021. Crédito: Alisson Louback/Netflix. Cultura. Cenas da série Cidade Crédito: Alisson Louback/Netflix. Cultura. Cenas da série Cidade

Cidade invisível coloca figuras do folclore em contexto de thriller policial

Publicado em Entrevista, Séries

Diretor Carlos Saldanha representa entidades da mitologia popular brasileira em série live-action da Netflix, com a intenção de resgatar essa cultura oral que vem se perdendo

Saci, Cuca, Curupira, Iara e Boto são algumas das figuras mitológicas do folclore brasileiro. Entidades que se tornam conhecidas na infância, principalmente na escola, por causa das obras de Monteiro Lobato, mas depois caem no esquecimento. Com o objetivo de resgatar essa cultura tradicional, o diretor Carlos Saldanha, conhecido pelas animações Rio, A Era do Gelo e O Touro Ferdinando, criou a série Cidade invisível que estreia na sexta-feira, 5 de fevereiro, na Netflix.

“Já tinha um tempo que estava querendo fazer um live-action (produção com atores reais), que tivesse alguma coisa que fosse importante para mim e para a cultura brasileira. Queria usar o folclore e essas entidades numa roupagem contemporânea. Minha memória vem de criança, de Monteiro Lobato, meus filhos cresceram sem ter essa brasilidade. Eu não queria que essa geração perdesse a conexão com o folclore brasileiro”, afirma Saldanha.

Protagonizada por Marco Pigossi, a produção narra a história de Eric Alves, um policial ambiental que perde a esposa Gabriela (Julia Konrad) após um incêndio na floresta da Vila Toré, reserva em que ela trabalhava no Rio de Janeiro. Ele tem certeza de que a morte da mulher aconteceu em circunstâncias estranhas e vai atrás de investigar o que, de fato, a matou. Porém, nessa cruzada, depara-se com a entidades que imaginava só existirem nos livros, e esses seres mitológicos têm alguma relação com o falecimento de Gabriela.

Crédito: Alisson Louback/Netflix. Cultura. Cenas da série Cidade

Diferentemente do que se poderia imaginar pelo tema, Cidade invisível não se envereda nem pelo gênero infantil nem para o terror. A série é um drama policial com ares de thriller. Outra intenção de Saldanha de subverter os paradigmas em torno do assunto. “Essa sempre foi a minha interpretação do folclore. Achei que seria interessante ter essa roupagem, de imaginar como seriam, se as entidades estivessem vivendo entre nós. Quis imaginar que não fossem 100% más, mas que poderiam ser pragmáticas, inescrupulosas, terem um lado humano. Porque os mitos são criados a partir do medo e dos anseios. Eu queria um tom familiar, policial, dramático dentro desse universo imaginário, essa cidade invisível”, explica o diretor.

Preparação

Até por isso, o protagonista Marco Pigossi buscou entender a carga dramática de Eric. “Meu personagem não é uma entidade. Então, a construção para o Eric foi mais no âmbito familiar, na perda da esposa, desse cara que ficou sem rumo, que teve a família destruída. Deixei todos os elementos fantásticos na vida do Eric de maneira mais de surpresa, de como eu reagiria nesse momento, e foquei mais na parte familiar, do que é ser policial ambiental”, explica.

O oposto do que aconteceu com Alessandra Negrini, que vive Inês, a representação da Cuca; e Jéssica Córes, dando vida a Camila, que, na verdade, é Iara. “A gente tinha que criar um universo possível. Tínhamos que acreditar que aquilo existia para poder representar. Foi o desafio de aceitar o universo fantástico”, comenta Alessandra, uma Cuca diferente da que ficou no imaginário popular, agora representada por uma borboleta, em vez de um jacaré. No caso de Jéssica, houve uma preparação física também. “Gosto muito de aventura. Tive que fazer uma preparação corporal, acostumar com apneia. Fiz dança do ventre. Mas, acho que o Saldanha sempre nos deixou muito livres. Nos deu muita liberdade”, completa.

Crédito: Alisson Louback/Netflix. Cultura. Cenas da série Cidade

Ao longo dos episódios, Cidade invisível vai mostrando como as entidades vivem entre os humanos e qual é a função principal delas: a da preservação do meio ambiente. “Na releitura de Saldanha, elas não representam o mal, são as defesas da natureza. Mas, são ambíguas”, revela Alessandra Negrini. “Acho que a nossa série está falando sobre reeducar, mostrar tudo que está acontecendo hoje. Acho que ela ensina as pessoas e informa para um caminho de mais consciência, além da noção do nosso folclore”, complementa Jéssica.

O que diz o elenco sobre Cidade invisível

Experiência no streaming
“Tem sido incrível a experiência no streaming. Tem sido muito interessante viajar, conhecer outros lugares. Estive em sets na Austrália, na Espanha, atuando em inglês e em espanhol. Tem sido uma experiência enriquecedora, como artista, como pessoa. Aprendi muito. Agora essa possibilidade de levar uma série nossa para 190 países, pra mim tem sido maravilhoso. Em Cidade invisível estamos falando de um assunto 100% brasileiro. É uma releitura desses personagens do folclore que crescemos ouvindo, que vem da nossa essencial” Marco Pigossi

Inovação na trama
“Acho que a série traz uma coisa bastante inovadora. Não lembro de ter visto nada parecido que tivesse essa ousadia de trazer esses elementos fantásticos. São elementos nossos, que dizem respeito a nós. Tem uma verdade, ao mesmo tempo uma fantasia. É bastante ousado em termos de proposta” Alessandra Negrini

Resgate da cultura folclórica
“Essa história de trazer para o nosso universo nos faz relembrar e apresenta para essa geração novo, porque o folclore acabou ficando distante. Tomara que as pessoas se conectem” Marco Pigossi

“Ele faz a magia acontecer. Repaginando todas essas entidades e seres. De fato, vai atrair essa nova geração e as mais antigas. Tenho certeza absoluta que todo mundo vai amar”, Jéssica Córes

Representação da Cuca
“Eu já esperava que causasse burburinho. Na verdade, a Cuca ela pode virar vários animais. O Monteiro Lobato escolheu o jacaré, mas o Carlos (Saldanha) a borboleta. As pessoas vão ver uma Cuca diferente. As entidades não são necessariamente más. Elas não representam o mal nessa releitura. Muito pelo contrário, elas são defensoras da natureza. São o que há de mais íntimo, são ambíguas, mas não são ruins” Alessandra Negrini