Drama de superação baseado em história real, Era uma vez um sonho tem a cara dos indicados ao Oscar. Leia a crítica!
A receita para angariar indicações ao Oscar foi seguida pela Netflix ao produzir o filme original Era uma vez um sonho. O roteiro de Vanessa Taylor vem do best seller homônimo de J.D.Vance lançado em 2016 e conta uma história de superação. A direção ficou a cargo de Ron Howard (ganhador dos Oscars de melhor diretor e filme por Mente brilhante em 2002). E em importantes papéis estão Glenn Close e Amy Adams, duas queridinhas de Hollywood que, juntas, somam 13 indicações e nenhuma vitória no maior prêmio do cinema mundial. A imprensa internacional já fala no nome delas entre as indicadas de 2021.
O problema é que, como diria a minha avó, a maionese desandou. Era uma vez um sonho parece jogar por água abaixo o sonho de a Netflix repetir, com ele, o bom resultado de História de um casamento (Oscar de atriz coadjuvante para Laura Dern este ano) e Roma (3 Oscars em 2019). O roteiro de Era uma vez um sonho é frágil ー a bonita história de J.D. (Gabriel Basso), rapaz que tem que optar entre deixar passar a oportunidade de um estágio em um grande escritório de advocacia e ajudar a mãe a sair de mais uma overdose, desta vez por heroína, se perde entre tantas idas e vindas no tempo.
A vida de J.D. mostrada no filme realmente não foi fácil. Por causa das drogas, a mãe dele, Beverly (Amy Adams) vive abusando psicologicamente dele na infância, o que o faz crescer inseguro. O limite é dado, de maneira um tanto sem carinho aparente e bruta, pela avó de J.D., Mamaw (Glenn Close), mulher amargurada pela relação com a filha e com o ex-marido.
Amy Adams e Glenn Close fazem o que podem e seguram bem o filme. Mas não têm muita explicação as próteses, perucas e outras caracterizações que mais atrapalham as duas do que compõem as personagens. Mamaw é um pouco mais bem desenvolvida, o que faz com que Glenn Close se destaque mais, muitas vezes se comunicando com um olhar mais terno ou voltado para a amargura.
Já Beverly é rasa ー uma enfermeira, mãe solteira de dois filhos que se droga morando numa cidade pequena. Era um personagem para Amy deitar e rolar, mas o roteiro não ajuda em nada. A moça parece mais uma caricatura e vai do convite ao filho para irem comprar um presente para ele ao total descontrole que culmina na presença do juizado de menores em segundos.
A falta de carinho da mãe e também da avó moldaram a personalidade de J.D.. O rapaz tem dificuldades em aceitar que pode haver oportunidades boas para ele e custa muito a acreditar que as pessoas podem ajudá-lo. O filho que vira uma espécie de pai da mãe seria um bom viés para Era uma vez um sonho explorar, mas ele acaba ficando à margem dos excessos de Beverly.
Era uma vez um sonho cativa pela história de superação, emociona em alguns momentos, se arrasta em tantos outros. É daqueles filmes que realmente acabam quando terminam. Não fica uma reflexão, uma emoção a mais, uma vontade de rever alguma cena.