Entre tantos remakes que vêm ganhando Hollywood nos últimos anos, a versão renovada de Um maluco no pedaço era esperada. Uma comédia de sucesso — que marcou história e tinha uma fórmula relativamente simples —, a trama tinha grandes chances de ser revisitada. E em 2022, o remake surgiu.
A surpresa, contudo, ficou com a grande mudança que a história sofreu. Agora sob o título Bel-Air (original como The fresh prince of Bel-air nos Estados Unidos, na década de 1990), Um maluco no pedaço perdeu muito (quase tudo) que outrora lhe tinha sido tão característico. O mais surpreendente ainda é perceber que, no fim das contas, as mudanças funcionam. Por mais que tudo seja muito diferente, é uma novidade para melhor.
1 — Novo gênero
Se a risada fácil — e até pastelão — fez a série ser tão leve no passado, agora o clima é completamente novo. Essa deve ser a principal mudança. Em Bel-Air quem manda é o drama.
O carro chefe deste novo gênero é o protagonismo de Jabari Banks, que interpreta Will. Bem menos desajeitado e boa praça que o paralelo da década de 1990, o novo Will é confiante, sonhador e resiliente. O jovem negro cresceu no gueto da Filadélfia com o objetivo de ser um grande jogador de basquete.
Enfrentando uma vizinhança violenta, Will acaba se envolvendo em uma briga, e, ameaçado por um líder de gangue, tem de fugir do local e abandonar o melhor amigo, assim como a mãe solteira. Pouco humor, não é mesmo?
2 — Riqueza com críticas
A vida abonada dos Banks sempre foi um dos destaques de Um maluco no pedaço. Era divertido se imaginar em uma nova família na qual o dinheiro era farto e a vida mais divertida. Enquanto na sitcom da década de 1990 todo o luxo e riqueza eram apontados com deslumbramento pelos roteiristas, agora Bel-Air aponta em outra direção.
Por mais que Will ainda não seja tão acostumado a um banquete com os primos, toda a riqueza dos Banks é tão criticada quanto merece. Isso vem, especialmente, no contexto em que o Tio Phil (Adrian Holmes) tem de manter um verdadeiro show de encenação para conseguir o status social relacionado a toda a fortuna que a família ostenta.
3 — Black excellence
Os Banks estão no topo do mundo e se orgulham disso. A série faz reiteradas afirmações sobre o orgulho negro e o quanto essa família — que representa o melhor da expressão “black excellence” — é uma verdadeira inspiração.
Essa nova representação é bem mais latente em Bel-Air do que em Um maluco no pedaço. A cultura negra é exaltada, as referências negras são maioria. Torna-se revigorante perceber todo esse “poder” tão bem retratado.
Um grande exemplo disso é a reflexão que ocorre no terceiro episódio, quando Wil ouve um amigo de Carlton (Olly Sholotan) falar uma expressão racista — e o pior: encara o primo por não reagir. Em resumo: a discussão sobre ser negro nos Estados Unidos é bem mais arrojada em Bel-Air.
4 — Menos dança, mais drogas
E por falar no primo Carlton, o personagem do remake talvez passe por uma das maiores mudanças entre as duas séries. Se na década de 1990, o primo esnobe de Will tinha como principal característica o “humor dançarino”, se prepare. Agora, Carlton é um viciado em drogas, bem mais agressivo — e nocivo.
A mudança é uma grande e bem-vinda surpresa, a série ganha um respiro de drama teen ao ter um personagem tão bad boy e imprevisível.
5 — Primas diferentes
Se o primo mudou, as primas também não ficam para trás. Hilary Banks (Coco Jones), antes fútil e superficial, agora é uma mulher forte, confiante, capaz de desafiar a própria mãe contra as injustiças do mundo (e de gênero). Agora uma influenciadora digital de sucesso, Hilary não perdeu o charme e a beleza, mas tem atributos mais humanos (e profundos) como os principais destaques.
Ashley (Akira Akbar) também é outra. Se na década de 1990, a moça era a espertinha queridinha do papai, na refilmagem do clássico, a personagem se torna mais real, mais adolescente. Nesse sentido, tem até questionamentos sobre a própria sexualidade.
6 — Bônus: a boa ideia de um remake
Apostar em um remake não deve ser tratado como um erro, como uma “falta de criatividade”. Fórmulas que deram certo, merecem, sim, serem revistas. O grande problema nessa equação é que muitas vezes, as produções simplesmente não avançam, não têm evolução. Algo que Bel-Air supera com louvor. É um remake completamente criativo e ousado.
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