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Confira opinião de Leonardo Torres* sobre o uso de dispositivos eletrônicos por crianças pequenas:
Muitos pais ainda acham que os aparelhos eletrônicos são inofensivos e até auxiliam no desenvolvimento de seus filhos. Sempre escutamos aquela frase: “ele tem somente 2 anos e já sabe mexer em tudo no celular”.
O tempo de mastreia no uso de qualquer coisa é o tempo de treino. Desde pequenos, estamos usando mais e mais aparelhos eletrônicos. As últimas pesquisas demonstram que utilizamos os aparelhos cerca de nove horas por dia. E quando aponto os números nas salas de aula, meus alunos acabam destacando que a pesquisa está errada, que eles utilizam muito mais.
A verdade é que colocar um aparelho eletrônico na mão de uma criança é um alívio para pais, vovós, babás etc. E, quando eles percebem que a criança se viciou nos aparelhos, é tarde demais, já que essa prática começa logo na terna infância. Começa muitas vezes até com qualquer choro.
O problema é que hoje, assim como o mundo fora de casa anda perigoso, o mundo dentro de casa, ou seja, o virtual, o da internet, também pode prejudicar a integridade psicológica e física de nossos filhos. Eles estão cada vez mais influenciados por conteúdos que não são controláveis e muitas vezes perigosos. O massacre de Suzano, por exemplo, foi totalmente viabilizado por meio da internet. Os desafios da Baleia Azul, da boneca Momo, entre outros, além de afetarem psicologicamente uma criança, podem levá-la à morte.
Quando se coloca um aparelho nas mãos de uma criança, ela para de chorar, de correr, de ser peralta, pois os aparelhos eletrônicos causam o mesmo efeito que uma droga pré-operatória denominada midazolan. Ou seja, interrompe-se seu desenvolvimento e aprendizado, que passa por essas estripulias. Cria-se um anestesiamento na criança. Porém, assim como qualquer droga, vicia, causando perda de memória, dificuldade de concentração, de foco, desinteresse por outros estímulos… Falta de interação social e, psicologicamente, gera depressão, ansiedade, pânico etc.
A culpa não é somente dos pais, nem das crianças, mas principalmente de como estamos vivendo. Parece que a sociedade e o mercado querem que os pais cuidem dos filhos como se não tivessem trabalho e trabalhem como se não tivessem filhos. Os direitos de maternidade e paternidade são escassos aqui no Brasil.
A perspectiva igualitária é importante, ou seja, o pai e a mãe devem combinar, a fim de cuidar dos filhos igualmente e se disponibilizar igualmente. Isso não pode ser desculpa para um patriarcado escondido na famosa frase: “eu trabalho e você cuida dos filhos”.
*Leonardo Torres, 28 anos, palestrante, professor e doutorando em comunicação e cultura midiática da Universidade Paulista (Unip), de São Paulo, onde concluiu mestrado em comunicação. Graduado em comunicação social — publicidade e propaganda pelas Faculdades Dom Bosco, do Rio de Janeiro, é bolsista do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Prosup/Capes). Pesquisa o imaginário técnico e tecnológico, a tecnossacralidade e suas relações na sociedade e na cultura, além do contágio psíquico e imaginário. Entre as instituições deu aulas estão Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e Unip.